sexta-feira, janeiro 18, 2008

Ensinar peixinhos a andar...

(imagem da internet - autor desconhecido)

Como é possível ensinar peixinhos a andar? Estranha pergunta. Fi-la hoje mesmo aos meus alunos numa aula absolutamente extraordinária, em que a maior parte dos 28 alunos que tinha pela frente me pareciam autênticos peixinhos sem capacidade para aprender a andar! Andar é uma metáfora para "vontade". Os peixes nadam, não andam, não têm capacidade para andar. Ensinar alunos que não têm vontade de aprender, acaba por ser a mesma situação incapacitante. Os peixes não podem andar porque não têm pernas (por isso nadam, que é o que as barbatanas lhes permitem fazer). Os alunos não podem aprender porque não têm vontade (por isso passam sem saber, que é o que o ministério pretende ao incentivar o absentismo, ao pôr em causa a autoridade dos professores, ao criar mecanismos absolutamente ridículos para impedir as reprovações, ao desmoralizar e frustrar os professores que dão o seu máximo no dia-a-dia apresentando-lhes perspectivas de carreira injustas e castrantes). Perante uma turma apática, desinteressada, enfadada com todas as actividades (mesmo quando se leva para a aula uma música oportuna e actual, ou um filme, ou um vídeo para analisar e debater) decidi parar e fazer a pergunta em Português numa aula de Inglês: "Acham possível ensinar peixinhos a andar?" Gargalhada sonora. (Acordaram, pensei eu.) E, pela primeira vez em 40 minutos ( a aula era de 90 minutos), todos olharam para mim com interesse e com um sorriso trocista ("Foi desta que a prof. se passou!", devem ter pensado uns; "O que é que esta quer agora? Está a falar Português, já vem sermão.", devem ter pensado outros; "Será que ela disse alguma coisa antes em Inglês que eu não percebi?"; "Acho que o texto que estavamos a ler não falava de peixes. Ando mesmo distraído... Não percebo nada disto...") Olhei para eles com um sorriso e expliquei que para aprender era preciso vontade, da mesma forma que para andar eram precisas pernas. Disse-lhes que 90% deles não estavam ali, nem sequer a ler o texto (por sinal, do meu ponto de vista, interessante, já que falava do papel do homem e da mulher na sociedade actual, de discriminação, de novos papéis sociais, novas mentalidades) e que dos 10% que estavam a ler, apenas 2% tomavam notas e aprendiam de facto alguma coisa. Disse-lhes que perdoassem a interrupção da sua alienação, mas que me vi obrigada a desabafar este pensamento quando olhei atentamente para os rostos deles e percebi que algo estava errado. Penso que perceberam o que eu quis dizer, pois na resolução da ficha de trabalho que se seguiu, experimentei uma grande azáfama de um lado para o outro a explicar os exercícios e a esclarecer dúvidas, tal era o interesse que de repente surgiu. Parecia que grande parte deles não queria ter ar de peixe, pelo menos até à próxima aula!...



quinta-feira, janeiro 10, 2008