quinta-feira, outubro 30, 2008

"Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara."


Dia 13 de Novembro estreia finalmente em Portugal o filme "Blindness" baseado na obra "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago.
Estou expectante em relação a estreia deste filme, não só pelo facto de ter lido o livro mas porque a historia narrada me sensibilizou de algum modo.
Para quem nunca leu o livro, tudo começa quando uma praga repentina de cegueira se abate sobre a população. Aos poucos, um após o outro todos acabam cegos, e excepção da mulher de um medico, que aparentemente e sem razão especial é a única que não é afectada pela doença que deixa todos cegos.
É por ela e através dos olhos dela que tudo nos é narrado.
A cegueira é encarada inicialmente como uma epidemia, algo contagioso e como tal todos os que vão cegando são colocados de quarentena em condições desumanas.
É o começo do desmoronar completo da sociedade.
Os serviços mínimos deixam de funcionar, não há saúde, não há educação, não há comida, não há agua, não há luz, não há nada, todos se encontram perdidos e desesperados na sua própria escuridão e a historia passa a ser apenas um registo de sobrevivência de multidões, onde o ser humano é reduzido a sua verdadeira essência.
O livro não é somente uma história de cegos, é sim, o retrato cruel, chocante e impiedoso, por um lado, mas também de confiança, força, luta e coragem das relações entre os homens.
"Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente"
E aqui reside a riqueza deste livro. Até onde somos capazes de ir para assegurar a nossa sobrevivência? Que valores conseguimos manter e quais perdemos de forma quase imediata? Como controlamos o nosso medo? Como vivemos sem esperança?
Concluindo, Ensaio sobre a Cegueira é um livro que eu recomendo mesmo aqueles mais cépticos em relação a forma de escrita de Saramago.

Deixo aqui alguns excertos deste livro:

"Quando o médico e o velho da venda preta entraram na camarata com a comida, não viram, não podiam ver, sete mulheres nuas, a cega das insónias estendida na cama, limpa como nunca estivera em toda a sua vida, enquanto outra mulher lavava, uma por uma, as suas companheiras, e depois a si própria."

"O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui. Então perguntou o velho da venda preta, Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira. Ninguém lhe soube responder."

"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."

quarta-feira, outubro 29, 2008

A Coroa


“Havia num país distante, um rei poderoso que tinha como servo um homem bom e fiel, cuja eficiência era única em todo o reino.
Porém, o rei não podia acreditar que esse homem era perfeito.
Mil dúvidas povoavam sua mente. E se num momento muito importante a eficiência deste servo falhasse?
Diante desta dúvida o rei resolveu colocar em prova a capacidade do homem.
Chamou-o e disse: -" Servo, cansei-me desta minha coroa.
Quero uma outra, mas não em ouro e sim quero-a com pedras preciosas. As mais exóticas e brilhantes que houver. Portanto, ordeno-lhe que a confeccione para mim".
Como ele sabia que no seu reino não havia este tipo de pedras achou que pela primeira vez o seu servo lhe falharia.
Mas meses depois, o fiel empregado voltou trazendo uma coroa de beleza ímpar, com pedras espetaculares nunca antes vistas em reino algum. Mas o rei ainda não aceitando totalmente a eficiência do escravo, depois de muito pensar e meditar chamou-o novamente ordenando: ...
" Servo, agora quero que acrescente nesta linda coroa, uma frase que quando eu estiver triste me alegre, e quando eu estiver feliz, me entristeça".
O servo saiu de lá desesperado. Como faria isso?
Tudo na vida já tinha feito para provar sua fidelidade ao rei, mas agora ele pedia–lhe algo que parecia impossível.
Chegou em casa entristecido, sabendo que perderia o seu cargo e que mais do que isso perderia a confiança do rei.
Mas a esposa, consternada com a tristeza do marido depois de muito pensar teve uma grande idéia que executou.
Depois de pronta, o servo pegou a coroa e a levou ao rei que de imediato a colocou na cabeça e foi para a frente do espelho para ver o que nela estava escrito.
Espantado então viu a breve frase: VAI PASSAR! “
Autor Desconhecido
Esta é a nossa realidade, e de facto, inpendentemente do momento mais ou menos feliz pelo qual passamos no presente uma coisa é certa : Ele passará …

segunda-feira, outubro 27, 2008

Solidão

(imagem por khimaereus - internet)



TRECHO DE UMA ENTREVISTA A CHICO BUARQUE, ONDE ELE DEFINIU, “SOLIDÃO”…
“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo… Isso é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar… Isso é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos… Isso é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente… Isso é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado… Isso é circunstância!
Solidão é muito mais do que isso…
SOLIDÃO… é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma!…”
Não gosto particularmente de solidão, mas adoro estar sozinha! De ouvir o bater do meu próprio coração, sem o som da presença do outro...
Gosto do retiro voluntário que, por vezes, anseio sofregamente para me encontrar!...

sexta-feira, outubro 10, 2008

Poema


Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrirquando não sabes mais o que dizer.
Os teus dentes estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-tedecisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre avoracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,que não te dê descansoe te faça doer a respiração.
Aspira o ar, bebe-o com força, é teu, nem um centavo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigocomo um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medira felicidade.
Carrega nos teus ombros os séculos passados eos séculos vindouros,muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe, o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta.
Constrói o teu amor, vive o teu amor, ama o teu amor.
De tudo o que as pessoas querem, o que mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança.
E canta quando aesperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso.
Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.
Joaquim Pessoa 'Vou-me Embora de Mim' da HUGIN em 2000

quinta-feira, outubro 02, 2008

Anjo da Guarda

Numa manhã acordamos e o sol nasce, como sempre, fresco num dia de Outono. Corremos de um lado para o outro, trabalhamos, esquecemos de sorrir.
Na manhã seguinte o sol já não importa, o trabalho perde valor, os compromissos tornam-se ridículos, o stress do dia a dia deixa de fazer sentido. Tudo porque o amor da nossa vida, aquele por quem respiramos, a razão porque existimos está a entrar para um bloco operatório para tratar uma infecção e remover um apêndice que, inflamado, incomoda, dói e espalha o que não deve.
Sossegam-nos o coração, dizem-nos que é uma cirurgia simples, mas o coração não entende explicações científicas. Só sabe que dói quando a impotência se apodera de nós e temos que o deixar ir, entregue nas mãos de quem sabe…
“Vai correr tudo bem… Pedi ao Anjo da Guarda para cuidar de ti…”

E ele cuidou!...