quarta-feira, dezembro 31, 2008

Não há motivo para te importunar a meio da noite - JLPeixoto





Se as palavras se perderem um dia, foi porque ficaram gastas de tanto serem lidas...
Ainda assim, a fúria de escrever persistirá!
Boas leituras!...

terça-feira, dezembro 30, 2008

Última dança


Ela dançava, abraçada a ele, num ritmo lento e cadenciado. Dançava embalada por dentro. Dançava com a alma que dançava também, com o corpo que entorpecia e dançava também, com a ternura que a embalava e ao seu coração também. Dançava de encontro ao corpo dele como se fosse essa a primeira vez a sentir o seu toque. O calor da sua pele e a música que entravam nela, assim, sem pedir licença, invadiam os seus sentidos e ela ficava suspensa no momento que parava por dentro. O momento que a segurava por dentro e a deixava respirar a custo. Ela dançava encostada ao corpo dele, quase dentro dele, como que absorvendo o seu interior, como que lhe roubando a alma num sopro, roubando o sangue que lhe corria nas veias de um trago. Encostada a ele abraçada a ele, pendurada no seu pescoço, embrulhada no seu calor, presa ao ritmo do seu coração, do coração dele e dela. O coração dos dois batia como se fosse só um, pois ela acertara o seu coração pelo coração dele, com a sofreguidão da morte, ou da vida, com a sensação de derradeiro esforço para o ter, mais uma vez. Dançava como se aquele fosse o último movimento que o seu corpo conseguia fazer, como se aquela fosse a única dança que ela conseguia dançar, que as suas pernas lhe permitiam dançar. Dançava sem sentir os movimentos dos músculos, das articulações, o correr do sangue nas veias, nos tecidos, nos órgãos. Dançava uma dança etérea. E diáfana era também a música que os envolvia, que os unia, que os juntava, assim, pela última vez.
Esperara por aquela dança com um sabor a mel amargo na boca, porque sabia que não teria mais nenhuma oportunidade de voltar a estar assim. Em breve, ele partiria. Em breve, a música desmembrar-se-ía e o que restaria seria o som oco do bater solitário do seu coração. O coração abandonado a ele, abandonado por ele. Seria esse sinal último de vida. Seria esse o último reduto de existência.
Existência. Ou vida? O que levas de mim? Existo, vivo, ou respiro apenas? O que me resta? O que fica em mim? O que fica de mim?
Esperara por aquela dança como uma sentença. Sabia que ela viria, inexorável, última, perpétua, fatal. Sem hesitar, entregou-se a ela. Sabia que seria o momento em que o laço se iria desfazer, em que a entrega não tinha mão a receber e ficaria no ar, suspensa, parada, detida no ar. Sabia que essa mão regressaria vazia a si. Para sempre vazia. Sabia que era necessário fazer o que tinha de ser feito. Sabia que esse era o momento de partir. Partir-se, cortar-se, cortar com o que a deixava sem chão.
Ele iria embora, regressaria para quem nunca devia ter deixado.
Ela sempre soube disso. Sempre reconhecera o fim inevitável de algo que nunca devia ter começado, pelo menos para si. Para ela, aquele não devia ter sido o princípio de nenhuma história. Aquele capítulo devia ter passado e avançado para um outro, ainda que solitário, que ao menos não lhe levasse a alma. Um capítulo vazio, sim, que importa, se estivesse em branco? Que importa se nada fosse escrito? Que importa que não se falasse daquela dança? O que ela desejava era não ter que deixar de escutar a música. A música que estava quase a terminar, a melodia inebriante que a traz presa a ele, rendida a ele, dependente dele, suspensa nele. Deteve-se no compasso do corpo dele e compreendeu que iria cair, que iria afundar-se nos despojos daquela última dança. Compreendeu que fatalmente ficaria adiado o momento seguinte, em que teria de respirar sozinha. Percebeu que a música terminara, que o seu corpo estava, agora, desprendido dele, de tudo o que ele representava, de tudo o que ele lhe tinha dado e retirado, de tudo o que conhecera com ele. A música terminara e estava, finalmente, livre…

Filipa
29 Dezembro 2008

domingo, dezembro 28, 2008

Ano novo, carrinha(s) nova(s)!




E assim terminamos o ano: comprando um carrito novo! Uma carrinha, afinal!

Duas, aliás! Foram duas. Uma para cada uma! Ambas da mesma cor! Preto (muito original!). Não arranjei imagens a condizer, pois ainda não fotografamos as ditas. Mas já foram regadas com champanhe! Diz o meu tio Horácio que dá sorte! Esperemos que sim! Sorte e boas viagens!...





E para animar o ambiente, o hino destes últimos tempos!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Diário de um doutor "inginheiro"



Chegou-me por mail sem qualquer referência ao autor pelo que não lhe poderei fazer a merecida referência:


«Diário vindo do futuro, de um aluno que hoje tem 11 anos e está a viver as reformas do nosso sistema de ensino.

29 de Junho de 2009

paçei o 5º anuh. A p*ta da stora de mat, k é a nossa dt, n m kria deixar paçar pk eu tnh nega a td menus a ginástica, pk jogo bem há bola, e o crl... mas a gaija f*deu-se puke a ministra da idukaxão mandou dizer ao ppl k penxam q mandam aí nas xkolas masé pabaixarem os kornos k tds os socios com menos de 12 anus teiem de paçar... axu bem.

29 de Junho de 2010

passei o 6º anuh. ainda bem q ainda n fiz 13 anus, q ódpx podia n passar, qesta cena de passar com buéda negas é só até aos 12... f*da-se, fiquei buéda f*dido na m*rda deste ano, e ó c*ralho, o pan*leiro do stor d educassão física deu-me a m*rda do 2... assim tive nega a tudo... ainda bem q a ministra da iduqaxão é porreira, ela é q é uma sócia sbem: a xqola n serve pa nada, é uma seca. tive q aprender que os K's se escrevem Q, qomo em "xqola" e não "xkola", e que "passar" não é qom Ç... a xqola é porreira só pa qurtir qas damas qd gente se balda...

29 de Junho de 2011

Passei o 7º ano. Exte anuh ia chumbando pq tive nega a qase td menos a área de projetuh, mas aqela cena tb é facil, n se fax nd... Exte anuh a dt disse-me q eu passava pq tinha aprendido qas fraxex qomexam qom letra maiúscula e pq m abituei a exqrever qom Q em vez de K, tipuh agora ja xei xqrever "eu qomo qogumelos qom quentruhs" em vez de "eu komo kogumelos kom kuentruhs". É fixolas, pode xer qum dia venha a ser um gamela famôzo...

29 de Junho de 2013

Passei o 9º ano. Foi buéda fácil, pqu a prof paxou-me logo. Fui ao quadro xqurever uma sena em qu dezia tipuh "aquela janela", e eu exqurevi "aqela janela", pqu dixeram-me qu n se xkqureve "akela", é quom Q e não quom K. Mas a profs desatinou quomiguh e dixe qu eu tnh qu pôr o U à frente do Q... Pur ixu exte anuh aprendi qu o Q leva U à frente. No próximuh anuh é o 10º, vou pá sequndária...

29 de Junho de 2014

Aquabei o 10º ano. Não foi muituh difícil só tive que aprendermos a não exqureverem quom aberviaturas purque nem todas as palavras xe puderam aberviar mas ixtu foi uma bequa para o quompliquado purque quom esta sena do QU em vex de K e das aberviaturas exqueceram-me de quomo é que se faxião os verbuhs nos tempuhs e nas pexoas, ou lá o que é... Mas a prof disse tass bem que no prócimo anuh a gente vê ixu.

29 de Junho de 2015

Passou o 11º ano. Foi mais fácil que o 10º. Aprendi que as frases devem ser mais qurtax. E aprendi também que "ano" não esqureve "anuh". Axo que no prócimo ano vai ser mais difícil. Purque a xeguir é a faquldade.

29 de Junho de 2016

Acabou o 12º. Fiquei buéda confuso porque tive de aprender a diferenxa entre usar o QU e o C, tipo "esCrever" e não "esQUrever". Quando eu usava o K era buéda mais fácil... A prof de português é buéda religiosa e anda a ouvir vozes de deus, porque dixe-me que eu não merexia passar, mas "xão ordens lá de xima"...

29 de Junho de 2017

Já fiz o primeiro ano da faculdade. Estou em ingenharia cevil na universidade lusófona. Tive um stor buéda mal iducado que me disse que eu era um ignorante porque às vezes escrevia com X em vez de CH, S ou C. Mas o meu pai veio cá com uma moca de rio maior e chegou-lhe a rôpa ao pelo. E depois fomos fazer queixa do gajo e a ministra despediu-o porque o gajo, não sei quê, parece que quis vir estragar aqui um muro nosso. Mas não sei essas senas. O meu pai é que me explicou uma cena qualquer de "danos murais"... O que é bom é que a ministra da iducação continua a mandar aqui nestes sócios da faculdade para eles não levantarem a garimpa contra nós.

29 de Junho de 2019

Acabei a minha licenciatura porque a ministra da iducação disse que tinhamos que passar sempre mesmo que não tivessemos notas, para não ficarmos astigmatizados. Acho que é uma cena que dá nos olhos quando se estuda muito. Agora vou fazer um mestrado e disseram-me que, quando acabar, vou ficar mestre. Eu quero ser de Kung-Fu.

29 de Junho de 2021

Já sou mestre. Afinal não sou de Kung Fu, sou de engenharia cevil. Os meus profs disseram que eu não devia estar em mestrado porque ainda não estava preparado, mas eu disse que o meu pai tinha uma moca de rio maior e que era amigo da ministra e já tinha mandado um bacano da laia deles para a rua e eles calaram-se. Agora vou fazer um doutoramento, porque a ministra da iducação diz que se não deixarem um aluno fazer o doutoramento só por causa das notas, ele fica com a auto-estima em baixo e isso perjudica a aprendizajem.

29 de Junho de 2023

Sou doutor. O meu orientador da tese ficou muito satisfeito porque eu já não dou erros ortográficos: ao longo destes dois anos, aprendi a escrever "engenharia civil" em vez de "ingenharia cevil" e também porque aprendi que a ministra é da "educação" e não da "iducação", mas lê-se assim. Entretantos casei. A minha dama chama-se Sónia e os pais dela ficaram muito felizes por ela ir casar com um doutor em engenharia civil. Ela não sabe ler nem escrever: só fez até ao 2º ano da licenciatura e depois foi trabalhar para o Minipreço. Já tá grávida.

29 de Outubro de 2023

Nasceu o meu filho! Chamei-lhe Júnior porque ele é mais novo que eu.

29 de Agosto de 2029

O Júnior vai fazer 6 anos daqui a 2 meses. Devia entrar para a escola este ano, mas estive a pensar muito bem e não o vou pôr na escola. Ele não precisa daquilo para nada, aprende em casa. Eu ensino-lhe a ler, que sou doutor, e a mãe ensina-lhe a fazer contas, que é caixa no Minipreço. A escola não vale nada. Acho que o sistema de ensino hoje em dia é uma m*rda. No meu tempo é que era bom.»
in: http://www.jumento.blogspot.com/

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Chocolate quente


Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras, decidiu fazer uma visita a um velho professor, agora reformado.
Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho. O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes – de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas. Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade. Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, disse-lhes:
– Reparem como todos procuraram escolher as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas... Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena; mas fostes conscientemente para as chávenas melhores...
Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do professor, este continuou:
– Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm. Vivei com simplicidade. Amai generosamente. Ajudai-vos uns aos outros com empenho. Falai com gentileza…
… e apreciai o vosso chocolate quente.
(autor desconhecido)

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Carta ao Pai Natal


Querido Pai Natal,

Este ano para ser original não te vou pedir nenhum presente para mim, até porque já vasculhei os que tenho debaixo do meu pinheiro.
Tu sabes que eu não consigo resistir a um presente… Assim que os recebo, tenho de os abrir! Sou curiosa, mas sei que gostas de mim mesmo assim.
Este ano queria que enviasses um presente aqueles mais necessitados. Não é um presente fácil, eu sei, mas também sei que tu és um Pai Natal muito profissional e dedicado.
Os felizes contemplados iriam com certeza:

Não ver apenas branco, preto e cinzento mas sim todas as cores do arco-íris;
Ganhar a capacidade de rir e chorar até a exaustão;
A coragem para largar tudo para dar a volta ao mundo, em 80 dias ou mais;
Sair por detrás da cortina e dizer não o que se deve, mas o que realmente se pensa;
Descontrair, beber uns copos com os amigos até cair, dizer umas valentes bacoradas e porque não uns palavrões;
Deixar de medir as palavras e as atitudes, discutir bem alto quando é preciso, mesmo sem elegância nem delicadeza;
Passear a chuva, dormir na praia;
Cortar amarras e ser livre;
Largar o estereótipo do novo-rico, largar a roupa de marca e ir de quando em vez a feira da Ladra;
Pisar a linha da normalidade, superar limites e ganhar a dimensão de gente;

Tenho a certeza que não terás a mínima dificuldade em distribuir este presente!
Já sabes que como não tenho chaminé, e que não consegues passar pelas tubagens do ar condicionado, porque estás cheiinho, que terás de atracar as renas a porta do prédio e tocar-me a campainha.

Fico a tua espera antes do bacalhau e das batatas, para bebermos um copo ou dois e atacarmos as azevias! Se quiseres podes subir com o Rodolfo que já não o vejo há um ano.

Beijinhos

terça-feira, dezembro 16, 2008

Gentle music on a chilly day!



Fingertips, Cause to love you


Today I felt a kind of melancholic...
Today I felt like listening to a simple song that tells about simple things: Love and its possibilities!...