quarta-feira, maio 25, 2011

Spanish Guitar


"Me gustaria tenerte en mis brazos amor"

Uma simples melodia dedicada a quem já nos teve nos braços e deixou-nos partir ou simplesmente seguiu outra viagem.

terça-feira, maio 24, 2011

sexta-feira, maio 20, 2011

não gosto dele


“Sabe, professora, a Joana gosta de mim. Enviou-me uma carta. Quer namorar comigo. Mas eu não quero…!”, disse baixinho, a sorrir de lado, quando me aproximei da mesa dele. Baixei-me, fingindo estar a conferir o exercício que ele estava a fazer.
“Porquê, João? Não gostas dela? Olha que ela é muito bonita!...”
“Pois é, mas não quero. Viu como ela olhou agora para mim quando se virou para trás?” Miúdo perspicaz… Sim, eu vi, sorriu mais um bocadinho quando se voltou para entregar a borracha à colega e olhou de raspão para o João. Mas o João não devia estar a falar verdade, porque ficou triste de repente.
Dez anitos de paixão intensa. Irrequieto, traquina, brincalhão, inteligente.
“Professora, não gosto que me mexa nas orelhas e no cabelo quando passa por aqui.”, disse enervado.
“E eu não gosto de te mandar calar e de tu continuares na brincadeira.”
Olhou fixamente para mim e disse baixinho: “Sabe, professora, ela não gosta de mim. Eu é que lhe enviei um bilhete ontem e ela respondeu que não queria namorar comigo.” Agora sim, ele falava verdade. Moreno, intensos olhos negros por detrás dos óculos, bonito. E ela morena também, de olhos verdes e cabelos cor de mel. E baixou os olhitos.
“Queres que fale com ela?”, perguntei.
“Vá lá. Diga-lhe que gosto dela… Se ela não me quiser, quero lá saber… Olha, ela é que perde… Vá lá, professora. Diga-lhe que namore comigo… Se ela não quiser… quero lá saber…” Repetiu. E enterrou-se na cadeira, quase a fazer beicinho.
A distracção dele, ultimamente, tinha sido por causa dela. Não passava os exercícios do quadro. Atrasava-se a passar as matérias. Alguns minutos antes rasgara uma folha do caderno. Fui ter com ele e tirei-lha. Mandei-o fazer os exercícios do livro. Depois percebi que deveria querer escrever qualquer coisa para lhe enviar… Fui falar com a Joana.
“Não gosto dele, tenho pena, mas não gosto dele. Ele escreveu-me um bilhete e eu tive de lhe dizer que não queria namorar com ele, porque não gosto dele. Tenho pena dele, mas que posso fazer?” Sorri para dentro, tão nova e já sabia o que custava fazer sofrer alguém... Claro, o que poderia ela fazer senão dizer-lhe a verdade e destroçar-lhe o coração com toda a sinceridade… aos dez anos de idade?

quarta-feira, maio 18, 2011

set fire to the rain



...it felt something died
cause I knew that that was the last time,
the last time...

terça-feira, maio 17, 2011

mudança


...se nas mãos nasce o toque de cada encontro, que prolonga o olhar perdido da paixão, é também nas mãos vazias que se esconde a lágrima de uma rosa que secou.
Faltou a rosa, faltou o calor, faltou a entrega de uma asa a rasgar o céu de infinito e de tempo, faltou a terra a segurar a vida, a vida a segurar o sorriso por dentro e a cor de uma pétala como dantes.

"A melhor forma de fugir à tentação é deixar-se levar por ela.", Oscar Wilde
E a tentação desapareceu.
E as mãos vazias disseram adeus numa palavra de hesitação que ecoou dentro dela mais uma vez. Ela ouviu essa hesitação, ela sentiu que nada seria como foi antes de tudo ter mudado. Ele agora estava diferente e ela compreendeu que tinha de esvaziar a gaveta da memória abafada em salpicos de esperança. Uma gaveta inútil, afinal.
E, de repente, sentiu-se mais livre e mais feliz ao respirar o ar da manhã que lhe enchia as células de vida...
A seguir recebeu uma rosa branca e percebeu que tinha de deixar entrar mais sol pela janela já aberta.

segunda-feira, maio 16, 2011

l'amant



"Et puis il lui avait dit. Il lui avait dit que c'était comme avant, qu'il l'aimait encore, qu'il ne pourrait jamais cesser de l'aimer, qu'il l'aimerait jusqu'à sa mort."

Marguerite Duras

domingo, maio 15, 2011

a linha que nos separa


Passo a correr pela tua casa, não paro, não olho, não quero saber se estás. Corria o risco de te querer ver a sorrir para as nossas memórias e então perderia a força nas pernas da vida. Não quero. Tenho de seguir em frente em direcção ao meu lugar predilecto, aquele onde estou sozinha, encostada à beira-mar de mim, sentada na rocha do meu coração, a ler um bom livro de recordações incrustadas numa música de verão amarelo e intenso.
Releio as linhas do poema que fizeram o nosso último encontro e sublinho a linha que diz “tu e eu”. E separa-nos essa linha. E eu percebo o quanto tenho de caminhar sozinha, percebo o trilho que tenho de fazer pela floresta luxuriante da aridez.
E em casa penteio o cabelo. Em frente ao espelho apreendo a mensagem novamente, lavo o rosto e olho o meu reflexo e há uma nova linha que leio nos meus olhos: uma linha que diz luares e estrelas numa noite de verão em que falaste para fora e eu senti por dentro. Não foi verdade o que disseste. Não aconteceu, como prometeste. E por isso, agora, passo a correr pela tua casa para não me deter no entardecer do vazio.

terça-feira, maio 10, 2011

tu


Hoje amanheci com o sol dentro do peito e entrei pelas palavras a dizer que não, que não queria sorrir, que não queria sentir, que não queria ver-te. Como sempre, ignoraste o que te disse e trouxeste-me o chá da tarde guardado num bule com as recordações de outras tardes, em que sempre me rendi à magia que me arrasta para o teu coração dourado, para o teu abraço apertado, esse abraço onde gosto de ficar no suave calor que conheço.
“O teu abraço é eterno em mim…
Levo-te daqui para onde eu estiver, estás em todo o lado…”
Compreendo a luz nos teus olhos.
Hoje amanheci com essa luz…
E nos mares que nos separam encontramos os horizontes de lua cheia que nos unem.

You know how the time flies
Only yesterday
It was the time of our lives
We were born and raised
In a summer haze
Bound by the surprise
Of our glory days
 (Adele, Someone like you)

sexta-feira, maio 06, 2011