Hoje, alguém que amo mais do que a mim própria, faz 16 anos. Lembro o dia
em que nasceu, num domingo de sol de inverno luminoso e frio. Um bebé terno,
doce, tranquilo… Um ser pequenino que me traria o mundo num sorriso. Muitas
alegrias, nenhumas tristezas. Foi este o caminho até aqui.
Hoje, digo-te que me lembro enternecida de tantas coisas que vivemos e admiro-me com o quanto crescemos juntos!
“Sabes, mãe. Antes eras uma deusa para
mim. Agora já não. Agora vejo-te como realmente és: com as
tuas qualidades e os teus defeitos.”
Foi esta
frase que disseste
quando tinhas ainda 10 anos, quase 11, que me fez perceber mais claramente
que tinhas crescido. Estavas um rapazinho cheio de convicções e certezas. Dizias muitas
vezes que já eras
um pré-adolescente e que eu tinha defeitos que antes não vias. Dizias que os
teus, conhecias
muito bem: que eras um
Capricorniano cheio de qualidades, mas que sabias que não eras
perfeito. Falaste sempre com uma lucidez muito avançada para a idade. Sempre foste
assim: precoce e convicto do que dizias.
Com 10 anos já eras um pequeno génio, com excelentes
capacidades de argumentação, com um interesse especial por História,
Literatura, Mitologia, Astrologia e Misticismo. Adoravas
conversar com adultos e ser tratado como um deles. Tinhas já uma
curiosidade insaciável e um espírito crítico apurado.
“Só queria realizar quatro desejos: tirar sempre boas
notas, saúde e bem-estar para a minha família, viajar no tempo e dar a volta ao
mundo.”
Eram então 11 anos cheios de leituras e muita imaginação a falar! Um pequeno grande
homenzinho com muitos sonhos para concretizar! É o sonho que fala por ti, mas
também a curiosidade, uma curiosidade inata pelo desconhecido que te preenche
os dias e a busca de novos conhecimentos.
Um dia recebi a mais bela declaração de amor!
“Vês, consigo soltar a minha mão da tua”, disse, tirando a
(ainda) pequena mãozita de 12 anos da minha.
“Mas cá dentro não consigo soltar-me de ti! É como se isso
fosse impossível. Quando te zangas comigo fico fraco. Enfraqueço como um menino
Africano que está um ano sem comer. A única coisa que me interessa é se tu
gostas do que eu faço, se gostas do que eu digo, se gostas da minha vida… Os
outros não me interessam. Não estou interessado em agradar às outras pessoas.
Desde que a minha mãe goste do que eu sou, isso basta-me! Se tu te ris para
mim, tudo está bem! Só isso importa!”
Muitos filhos podem sentir tudo isto, mas talvez poucos
consigam pôr em palavras toda esta intensidade!...
Em Julho de 2012 escrevi o seguinte sobre ti:
Não escrevi nada nestes últimos anos. Tenho andado ocupada
com outras coisas importantes (?). Parece-me agora que não o devia ter feito.
Vir aqui escrever sobre ti, é essencial. Muito mais essencial do que qualquer
outra coisa muito importante que tenha para fazer. Mas pronto, já não vou a
tempo para mudar o que não ficou escrito e devia ter ficado.
Desenhaste aos 14 anos, por exemplo, três vestidos e uma
saia para mim que mandei fazer a uma costureira. Isso devia ter ficado
registado. Foi no verão do ano passado.
Terminaste o Instituto de Inglês.
Fizeste o 10º ano. Tens 15 anos. As notas, este ano, foram
também excelentes: dois 18, dois 19, dois 20! 17 a Educação Física e, por pouco
não apanhavas a lei de já não ter EF na média. Como sofremos com isto! Muito
precoce, entraste um ano mais cedo para a escola e, assim, apanhaste a lei que
te consome o descanso e te cria ansiedade, porque a EF não consegues tirar 18,
19, ou 20. A tua vida é desgastante, dizes tu. Tens de manter as notas
elevadas, tens pressão social (leia-se: a tua insegurança faz-te sentir que
todos os outros te olham e te julgam e isso provoca-te receio), tens problemas
em adormecer. Tens ainda uma cultura acima da média e uma forma de pensar
madura demais. Costumo dizer que és um corpo jovem numa alma velha. És a melhor
companhia do mundo, porque o teu sentido de humor é único. Falas de política,
interessas-te pela economia, pela actualidade no mundo, pela arte, pelo cinema…
Vemos filmes que muitos adultos não vêem. Ontem fomos ver “Moonlight Kingdom”.
Uma história doce e terna acerca do primeiro amor!
Escreves muitas coisas: contos (que nunca acabas!), peças de
teatro… Dizes que não gostas de poesia e também não escreves poesia. Eu fui
diferente: comecei por escrever poesia em adolescente (ou coisas que eu chamava
poesia) e nunca fui capaz de escrever, por exemplo peças de teatro.
Tens sonhos para o futuro e tudo passa pela arte. Gostavas
de ser Costume Designer! Desenhar as roupas para os filmes de Hollywood, para
peças de teatro… Gostas de filmes históricos também por isso, porque as roupas
são essenciais para a criação da atmosfera da época.
Dizes sempre que não gostas de fazer planos, porque receias
que não se concretizem. Mas, para mim, com as capacidades que tens, podes até
fazer vestidos para as árvores!
Hoje, a 12 de Janeiro de 2013, percebo que ao longo
destes anos aprendi muito mais contigo, certamente, do que tu comigo. Há almas
que encarnam para ensinar outras a crescerem e a tornarem-se luz.
Que nunca me
falte a capacidade de te entender, de te apoiar, de te amar incondicionalmente.
Que sejamos sempre um, hoje e sempre, para toda a eternidade e que eu entenda o
quanto sou melhor em cada dia e mais feliz também porque te tenho a ti, há 16
anos na minha vida!
“-E porquê, mãe?
-Porque o amor, filho!”
Parabéns, Edgar!