sexta-feira, janeiro 23, 2009

Fiz um intervalo na correria!



Acumula-se roupa no cesto para passar a ferro. Acumulam-se tarefas por fazer na lista afixada no frigorífico. Acumulam-se cento e tal emails por ler e outros por escrever. Acumulam-se os livros em cima da secretária e respectiva lista de trabalho a fazer (preparar aulas para o Instituto, fazer mais um teste formativo para a turma D, escolher um “listening”, rever a matéria a dar na escola, elaborar fichas de recuperação, preparar uma canção para o 9º ano). Acumulam-se os livros por ler, que aguardam que lhes tire o pó, uma vez por semana, em cima da mesinha de cabeceira. Acumulam-se as ideias na minha cabeça para escrever mais uma estória, mais um conto, mais um texto que explode por dentro e lá fica… Porque não tenho tempo… Corro o dia todo de um lado para o outro, respiro com dificuldade entre cada intervalo, durmo depressa, almoço e faço qualquer coisa mais ao mesmo tempo, falo com o pequenote e tento enganá-lo fazendo outra coisa urgente que requer a minha atenção. E nunca o consigo enganar! Nunca me ouves. Não prestas atenção. Não se pode falar contigo…Olha para mim. Estás a ouvir? Ouviste?
Ouvi. Às vezes ouço. Outras vezes… E fico a olhá-lo a caminho da escola. Pequeno. Lindo! Inseguro. Mochila enorme às costas. Cai uma chuva miudinha. Não quer guarda-chuva. Carapuço enfiado na cabeça. Pequeno. Lindo! Passa por um grupo de adolescentes fumadores, que se juntam debaixo das galerias do prédio. Vai por fora das galerias, à chuva. Não gosta de passar pelo meio deles, por causa do cheiro do fumo dos cigarros. Cheira o meu cabelo, mãe. É horrível. Tive de passar por lá… Hoje contornou-os e não passou pelo meio deles. Atravessa a rua aos saltinhos. Pequenino, ao longe. Já na Escola Secundária! Espreito pela janela até não o ver mais. Suspiro e penso alto: tão lindo o meu filho!... Tenho de me sentar dez minutos para escrever!

3 comentários:

Alexandre disse...

Uma descrição com paixão nas palavras e que me ajudou a matar as saudades...

Anónimo disse...

Os nossos filhos têm a capacidade de nos elevar! E fantástico o sentimento único que se gera em torno de um filho ….
Com eles e por eles, tudo vale a pena :o))
Eu também fico muitas vezes a olhar para o meu franganote e pergunto-me como fiz uma coisa tão LINDA!!! Depois olho-me ao espelho e vejo que afinal o puto saiu a mãe :o)))))))))))))))))))))))
Beijinhos,

Claudia disse...

Estes seres pequeninos que mudam tanto as nossas vidas... também crescem e como em tudo, quando estamos a viver as coisas por dentro parece que o tempo demora o que tem que demorar, mas quando conseguimos olhar de fora... vemos o quanto já aconteceu, já se viveu. Mesmo que o tempo não chegue e corramos a todas as horas e não consigamos fazer tudo o que está à nossa espera... a vida continua a acontecer e mas pequenas paragens que consseguimos fazer damo-nos conta que ainda estamos no inicio do caminho.

Beijinhos ao pequeno grande!