terça-feira, junho 23, 2009

A gaivota


Uma gaivota esvoaça por cima do mar, rasteira à água, quase tocando levemente a ondulação branca que me vem beijar os pés. É uma gaivota belíssima, de penas brancas e longo bico amarelado. O seu voo encantou-me e agora prendi o olhar nela, seguindo o seu trajecto, ora suave, ora rápido, ora voando para longe, ora regressando e deixando-me, a mim, com vontade de a seguir até às rochas escarpadas e de lá observar a imensidão do azul, acima e abaixo de mim.
Mas os meus pés estão enterrados na areia e ainda assim apetece-me caminhar ao longo do areal e contrariar a gravidade que me traz para baixo, que me prende à terra, que me retira as asas, que me traz presa ao chão.
Caminho perdida em pensamentos soltos e sem vontade de chegar ao fim da praia. Ao longe, um navio leva-me em viagens exóticas e imprevisíveis, para destinos longínquos e insondáveis. E eu deixo-me ir nesse navio, errante, sem data para regressar, sem rota marcada que não seja o infinito, solta de tudo, desprendida do chão, ausente das memórias, em branco para o que vem, para o futuro que traz um respirar desconhecido e inebriante, uma asa de cor nova, um voo sem direcção.
Caminho ao longo da praia e, de súbito, a gaivota de penas brancas voa a meu lado, tranquila, subindo um pouco, descendo de novo, afastando-se até às rochas que deixei para trás, aproximando-se de mim, novamente, devagar, planando a água que me vem acariciar os pés em cada passo e é então que, de alguma forma, pressinto que não irei fazer esta caminhada sozinha…

3 comentários:

Anónimo disse...

Não percebo muito de gaivotas, só de um determinado tipo específico, as do tipo que não conseguem parar de bater as asas, por mais que tentem simplesmente não conseguem.

Talvez seja o instinto a dizer que se pararem de bater as asas, irão deixar de descobrir outros céus, talvez seja a inquietude que sentem ao parar a dizer-lhes que possivelmente irão deixar de descobrir outros mares de vida, talvez seja só uma questão de natureza, que as faz sentir que só chegarão à plenitude sendo livres, e para isso têm de continuar a voar, e custe o que custar, esse sentimento prevalece, pois nada no plano terreno parece conseguir comparar-se à visão dos mares pela travessia dos céus.

Sei também que existe um outro sentimento que se sobrepõe a todos, que contem todos e que ao mesmo tempo permite que cada um desses sentimentos viaje livremente por si e sem amarras. Quando encontrado, os céus e os mares tornam-se pequenos, e uma nova forma de liberdade é descoberta.

Se a gaivota continua a voar a teu lado, então é porque em Ti encontrou esse algo maior, é em de Ti que agora se sente Livre!

K.

Mimi disse...

Não sei se gostei mais do post ou do comentário acima ....
Parabéns aos dois !

beijinhos,

Beatriz disse...

Adorei!!
Mil beijinhos!!!