O livro da minha vida?
"Em nome da terra", de Vergílio Ferreira
Li-o há quase 20 anos. Perdi-o depois... Devo tê-lo emprestado. Comprei outro há uns meses, para relê-lo... Pelo caminho ofereci-o... Fugiu-me das mãos, de novo.
A escrita existencialista de Vergílio Ferreira é um convite à entrada a fundo na nossa alma e nos nossos mais profundos sentimentos...
"Querida. 
Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te 
escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar
 antes, muito antes. É quando o que é grande acontece. E não me digas 
diz lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é 
assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter 
ouvido. (...) Ou como quando se dá uma conjugação de astros no infinito,
 deve vir nos livros."
"Tenho no meu poder fazer-te perfeita, não vou perder essa possibilidade."
"Sei
 apenas que me veio uma vontade imensa de te amar. De te amar no 
impossível, que é onde vale a pena todo o possível. De te amar onde nada
 seja real. No absoluto. Onde não há miséria e degradação e abandono e 
maus cheiros. Nem podridão e desespero humano. Nem loucura. Nem morte."
 
E no final:
 
"Estaremos
 nus desde o início, sem vergonha anterior. Nudez primitiva, não a 
saberemos. Porque será uma nudez para antes de os deuses nascerem. Então
 mergulharemos nas águas do rio e deitar-nos-emos na areia. E olharemos o
 céu limpo e sem estrelas. E acharemos perfeitamente natural, porque a 
iluminação estará em nós. Erguer-nos-emos por fim e eu baixar-me-ei no 
rio e trarei água na concha das mãos. E derramá-la-ei imensamente e 
devagar sobre a tua cabeça. E direi para toda a história futura, na 
eternidade de nós
- Eu te baptizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição.
 E tu dirás está bem."  
Há palavras que entram por nós dentro e mudam a temperatura do nosso corpo e a ligação das nossas células!