segunda-feira, dezembro 24, 2012

outro Natal




O Natal chega-me sempre difuso, às vezes contrariado, nem sempre animado... Há em mim um antagonismo qualquer ao Natal. Pela análise das minhas emoções, concluo que essas reações são fruto de Natais pouco felizes na infância. E outros na idade adulta, também.
Porque é que se têm essas frustrações? Porque sobrecarregamos esse dia de emoções e expectativas exageradas, como se só esse dia fosse especial e tudo pudesse acontecer nessa data, excepto a tristeza. Há Natais felizes e tristes, como há dias felizes e tristes.
Vivamos o Natal como devemos viver todos os dias: com gratidão, alegria e paz no coração. Só assim o Natal Acontece!

quinta-feira, dezembro 13, 2012

em nome da terra

O livro da minha vida?
"Em nome da terra", de Vergílio Ferreira

Li-o há quase 20 anos. Perdi-o depois... Devo tê-lo emprestado. Comprei outro há uns meses, para relê-lo... Pelo caminho ofereci-o... Fugiu-me das mãos, de novo.

A escrita existencialista de Vergílio Ferreira é um convite à entrada a fundo na nossa alma e nos nossos mais profundos sentimentos...

"Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. É quando o que é grande acontece. E não me digas diz lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter ouvido. (...) Ou como quando se dá uma conjugação de astros no infinito, deve vir nos livros."

"Tenho no meu poder fazer-te perfeita, não vou perder essa possibilidade."

"Sei apenas que me veio uma vontade imensa de te amar. De te amar no impossível, que é onde vale a pena todo o possível. De te amar onde nada seja real. No absoluto. Onde não há miséria e degradação e abandono e maus cheiros. Nem podridão e desespero humano. Nem loucura. Nem morte."
 
E no final:
 
"Estaremos nus desde o início, sem vergonha anterior. Nudez primitiva, não a saberemos. Porque será uma nudez para antes de os deuses nascerem. Então mergulharemos nas águas do rio e deitar-nos-emos na areia. E olharemos o céu limpo e sem estrelas. E acharemos perfeitamente natural, porque a iluminação estará em nós. Erguer-nos-emos por fim e eu baixar-me-ei no rio e trarei água na concha das mãos. E derramá-la-ei imensamente e devagar sobre a tua cabeça. E direi para toda a história futura, na eternidade de nós
- Eu te baptizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição.
E tu dirás está bem.

Há palavras que entram por nós dentro e mudam a temperatura do nosso corpo e a ligação das nossas células!

sexta-feira, novembro 23, 2012

E sobre o Amor...

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

terça-feira, outubro 30, 2012

o amor é

 "O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida.
O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força.
O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz.
O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda.
Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te.
O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso. Uma obsessão. Uma doença. O rasto de um cometa. Um buraco negro. Uma estrela. Um dia azul. Um dia de paz.
O amor é um pobre. Um pedinte. O amor é um rico. Um hipócrita, um santo. Um herói e um débil. O amor é um nome. É um corpo. Uma luz. Uma cruz. Uma dor. Uma cor. É a pele de um sorriso."

Joaquim Pessoa

sábado, outubro 27, 2012

literatura





"A literatura é a melhor prova de que a vida só não chega."

segunda-feira, outubro 01, 2012

momentos que traduzem excelência!






Se dúvidas eu tivesse de que tinha um filho especial, em cada ano que passa ele tem-me mostrado o quanto sou afortunada em cada momento que lhe dedico. PARABÉNS, Edgar!

sexta-feira, setembro 07, 2012

segunda-feira, agosto 27, 2012

sexta-feira, julho 27, 2012

sabedoria


Há cerca de quase dez anos atrás conversávamos sobre o sentido da vida. Fazíamos isso muitas vezes. Tu, numa febre de procura interior e de aparente serenidade exterior, deste-me uma lição que só há pouco tempo comecei a entender. É verdade, demorei quase dez anos a perceber o alcance do que disseste naquele dia. Por alguma razão, essas palavras permaneceram na minha memória, ou porque me chocaram e confundiram, ou porque ainda não era o tempo para mim, ainda não era o dia de eu as entender.
“Qual é o teu objectivo na vida?”, perguntei, a dada altura da nossa acalorada conversa, uma conversa em que eu contestava mal disfarçadamente a tua passividade, referindo-me aos projectos de trabalho e pessoais, matérias que assaltam o espírito de qualquer adulto na faixa etária dos 30. Nessa altura, eu queria mostrar-te que não podemos ficar parados, acomodados com o que temos, que devemos lutar por conseguir mais, ter mais do que, por exemplo, os nossos pais conseguiram, chegar mais longe, subir mais alto.
Fizeste uma pausa, pensaste por um momento e, para minha perplexidade, respondeste muito sério: “Ser sábio.”
Lembro-me que olhei para ti incrédula e creio que soltei uma gargalhada. Não esperava essa resposta, como é óbvio. Esperava que me falasses dos teus planos de carreira, das tuas ambições profissionais, que me falasses dos teus desejos íntimos de ter uma família, filhos ou, em vez disso, do teu desejo de aventura, de viajar e conhecer o mundo. Mas não. O que me dizias tinha a ver com uma outra coisa que não me tinha ocorrido então: falavas de espiritualidade e de auto-conhecimento. Esse assunto, para mim nessa altura, era totalmente desconhecido.
Dou comigo, vários anos depois, a recordar essa conversa e muitas outras tão ou mais interessantes que esta e sinto que caminho uma década atrás de ti (ou mais que uma vida atrás de ti!), que percebo a existência agora muito à luz do que me ensinaste, que vejo através dos teus olhos a luz do mundo interior, da paz interior, da serenidade que vem de estar bem consigo próprio, de vivermos felizes com o silêncio, com os livros, com a música, com o escutar do nosso próprio coração a bater livre e solto na escuridão da noite ou à primeira luz da manhã. Lembro-me que não tinhas horários, que dormias e comias quando sentias que precisavas. Na altura, isso era incompreensível para mim. Era como se fosses um selvagem civilizado… Trabalhavas sem horário, sem chefe e sem objectivos. Hoje entendo que essa era a tua magnífica forma de ser livre e feliz.
Anos mais tarde, procurei aquilo que já tinhas encontrado muito mais cedo do que eu e, nesse caminho de procura, li em livros o que me dizias e o que, afinal, vivias. Compreendi que o meu objectivo na vida é…vivê-la com sabedoria! Mas isto já tu sabias há séculos!

(Que saudades das nossas conversas...!)

terça-feira, julho 24, 2012

sábado, julho 21, 2012

Porque gritamos?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:
 "Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?"
 "Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles.
 "Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?" Questionou
novamente o pensador.
"Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou outro
discípulo.
 E o mestre volta a perguntar:
"Então não é possível falar-lhe em voz baixa?" Várias outras respostas surgiram,
mas nenhuma convenceu o pensador.
 Então ele esclareceu:
 "Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?"
O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito.
Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais
aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da
grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas
não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A
distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam,
somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar,
apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas
pessoas que se amam estão próximas."
 Por fim, o pensador conclui, disse:
 "Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras
que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais
encontrarão o caminho de volta".

Mahatma Gandhi

segunda-feira, julho 16, 2012

Tu Ensinaste-me a Fazer uma Casa

   

"Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.

Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.

E vejo teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome."

Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'

terça-feira, julho 03, 2012

quarta-feira, junho 06, 2012

quarta-feira, maio 23, 2012

porque gosto de ti



Sabes porque gosto de ti?
Contas-me histórias como se eu fosse ainda pequenina e tratas-me como se eu soubesse pouco dos sonhos cor de algodão doce que só na infância eu comia. Percebes que as rosas de todas as cores são coisas que não se podem esquecer, especialmente na primavera, mesmo que cheguem ao cair da tarde já com reminiscências do fim do dia e leves traços de uma noite ainda por pintar.
E a gargalhada solta e espontânea que se expande sem que tenhamos de analisar muito as entrelinhas, parece mais natural em nós do que a cor dos nossos olhos.

sexta-feira, maio 11, 2012

não vale a pena





Eu estava sozinha de ti, contigo ao meu lado. Olhávamos um para o outro e a imensidão de um oceano separava-nos. O teu sorriso era vago e o meu olhar perdido. Nas mãos eu trazia fotografias invisíveis de histórias nossas que não aconteceram. Decidi parar o relógio naquele momento antigo como a lua e iluminá-lo com a sua luz, prendê-lo no céu inundado de estrelas por cima de nós e apeteceu-me ficar sozinha, desta vez sozinha de verdade, sem ti ao meu lado. A luz da cidade sabe como me sinto cansada, e é mesmo por aqui que quero ficar, por estas estradas desertas de gente e repletas de intermitências de memórias dispersas, sem identidade e sem dor. 
"Fico contigo...", disseste. Os meus lábios abriram-se num sorriso e deixei-te ir. Não é ainda a hora de colher as rosas... Não vale a pena insistir. Não falta dizer mais nada.

quinta-feira, maio 03, 2012

pudesses tu



És um bloco de gelo, um icebergue, uma rainha esculpida nas rochas, altiva, inatingível. Quem és, afinal? Máscara que sorri, luva que toca, fonte inanimada que chora, nuvem que foge, raio de sol que mal entra pela janela, logo desaparece pela porta. Pudesse eu desvendar esses segredos que nem tu sabes que guardas e trazer-te para o mundo dos humanos que amam, sofrem, choram e são felizes. (Pudesses tu salvar-me de mim e das rosas que morrem depressa, ainda hoje...)

terça-feira, maio 01, 2012

fuiste tú

Vontade de pegar numa mochila e partir para aquelas paisagens... Guatemala... Porque não?... Vontade de fugir sem rumo, sem dias, sem semanas, sem meses a contarem... Vontade que contem só as experiências, a pele, o sol, a água, o ar, a terra e o infinito...

segunda-feira, abril 30, 2012

arco-íris


Essa chuva que cai dos teus olhos atravessa a luz do sol e enche o céu de cores. "Olha o arco-íris!", digo-te. Os nossos pensamentos são algodão doce que provamos antes de partires. Os nossos dedos abrem-se em fios de esperança e damos as mãos por mais um momento. As linhas do teu rosto perdem-se no horizonte de baunilha e negro atrás do sol, atrás da chuva morna, atrás do arco-íris dos segredos que levas contigo. Vai, como o vento que se esconde sem se dar por isso e quase sempre regressa antes da chuva. Vai e sê quem tu és. Eu serei sempre aqui.

quinta-feira, abril 19, 2012

1ª Audição


Informo que o Afonso vai ter a sua primeira audição de violoncelo sábado, dia 21 de Abril às 18h, na Boliana.

E se ele chegar até aqui?...

A loucura de amar - Parte I

"É possivel que o amor ponha as pessoas loucas e, da mesma forma, é possível que uma pessoa tenha de ser louca para amar."
Frank Ronan in "Os homens que amaram Evelyn Cotton"

sexta-feira, abril 13, 2012

is this the secret to love a woman?


" You may not be her first, her last, or her only. She loved before, she may love again. But if she loves you now, what else matters? She's not perfect, you aren't either. And the two of you may never be perfect together. But if she can make you laugh, cause you to think twice, and admit to being human and making mistakes, hold onto her and giver her the most you can. She may not be thinking about you every second of the day, but she will give you a part of her that she knows you can break - Her Heart. So don't hurt her, don't change her, don't analyze and don't expect more than she can give. Smile when she makes you happy, let her know when she makes you mad, and miss her when she's not there." 
 
By Bob Marley
 

quinta-feira, abril 05, 2012

gorda e velha


Os adolescentes conseguem ser tremendamente cruéis quando sinceros.

Experimentava uma mini-saia com alguns anos e depois de a vestir com algum esforço suspirei: Tenho de emagrecer um quilo ou dois. Esta saia já não me fica bem.
O adolescente estava deitado na cama a olhar com um sorriso sarcástico no rosto para a minha auto-flagelação e ouviu claramente o meu desabafo. Claro que eu repeti o que tinha dito e caí na tentação de lhe perguntar: Não achas que estou gorda?
Há coisas que temos de aprender. Perguntar a um adolescente algo deste género é para ouvirmos, quase pela certa, a temida resposta sincera da outra parte. Eles ainda não sabem que, no nosso entender, as palavras deles soam a terríveis juízos de valor feitos com a maior isenção.
A resposta não podia ser mais cruelmente desesperante: Mãe, mentaliza-te de uma coisa - tu não estás gorda; tu estás velha.
Depois disto pensei: OK, gorda ainda tinha saída. Deixava de comer e estava o problema resolvido. Agora, velha... Como é que se dá a volta a isto?
Disse-me ele que não se dá a volta a isso. Aceita-se e pronto. Para essa parte é que preciso de arranjar ajuda. Ainda não consigo aceitar!
Os anos passam a um ritmo alucinante e a certeza de que crescemos por dentro (e, em alguns casos, até ficamos mais belos) e degeneramos e envelhecemos por fora é tão triste quanto inexorável...
Só me resta este desejo secreto de não acabar da pior forma possível: gorda, velha e embrutecida.

segunda-feira, março 26, 2012

o amor, meu amor



"Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar."

Mia Couto, in "idades cidades divindades"