quarta-feira, dezembro 31, 2008

Não há motivo para te importunar a meio da noite - JLPeixoto





Se as palavras se perderem um dia, foi porque ficaram gastas de tanto serem lidas...
Ainda assim, a fúria de escrever persistirá!
Boas leituras!...

terça-feira, dezembro 30, 2008

Última dança


Ela dançava, abraçada a ele, num ritmo lento e cadenciado. Dançava embalada por dentro. Dançava com a alma que dançava também, com o corpo que entorpecia e dançava também, com a ternura que a embalava e ao seu coração também. Dançava de encontro ao corpo dele como se fosse essa a primeira vez a sentir o seu toque. O calor da sua pele e a música que entravam nela, assim, sem pedir licença, invadiam os seus sentidos e ela ficava suspensa no momento que parava por dentro. O momento que a segurava por dentro e a deixava respirar a custo. Ela dançava encostada ao corpo dele, quase dentro dele, como que absorvendo o seu interior, como que lhe roubando a alma num sopro, roubando o sangue que lhe corria nas veias de um trago. Encostada a ele abraçada a ele, pendurada no seu pescoço, embrulhada no seu calor, presa ao ritmo do seu coração, do coração dele e dela. O coração dos dois batia como se fosse só um, pois ela acertara o seu coração pelo coração dele, com a sofreguidão da morte, ou da vida, com a sensação de derradeiro esforço para o ter, mais uma vez. Dançava como se aquele fosse o último movimento que o seu corpo conseguia fazer, como se aquela fosse a única dança que ela conseguia dançar, que as suas pernas lhe permitiam dançar. Dançava sem sentir os movimentos dos músculos, das articulações, o correr do sangue nas veias, nos tecidos, nos órgãos. Dançava uma dança etérea. E diáfana era também a música que os envolvia, que os unia, que os juntava, assim, pela última vez.
Esperara por aquela dança com um sabor a mel amargo na boca, porque sabia que não teria mais nenhuma oportunidade de voltar a estar assim. Em breve, ele partiria. Em breve, a música desmembrar-se-ía e o que restaria seria o som oco do bater solitário do seu coração. O coração abandonado a ele, abandonado por ele. Seria esse sinal último de vida. Seria esse o último reduto de existência.
Existência. Ou vida? O que levas de mim? Existo, vivo, ou respiro apenas? O que me resta? O que fica em mim? O que fica de mim?
Esperara por aquela dança como uma sentença. Sabia que ela viria, inexorável, última, perpétua, fatal. Sem hesitar, entregou-se a ela. Sabia que seria o momento em que o laço se iria desfazer, em que a entrega não tinha mão a receber e ficaria no ar, suspensa, parada, detida no ar. Sabia que essa mão regressaria vazia a si. Para sempre vazia. Sabia que era necessário fazer o que tinha de ser feito. Sabia que esse era o momento de partir. Partir-se, cortar-se, cortar com o que a deixava sem chão.
Ele iria embora, regressaria para quem nunca devia ter deixado.
Ela sempre soube disso. Sempre reconhecera o fim inevitável de algo que nunca devia ter começado, pelo menos para si. Para ela, aquele não devia ter sido o princípio de nenhuma história. Aquele capítulo devia ter passado e avançado para um outro, ainda que solitário, que ao menos não lhe levasse a alma. Um capítulo vazio, sim, que importa, se estivesse em branco? Que importa se nada fosse escrito? Que importa que não se falasse daquela dança? O que ela desejava era não ter que deixar de escutar a música. A música que estava quase a terminar, a melodia inebriante que a traz presa a ele, rendida a ele, dependente dele, suspensa nele. Deteve-se no compasso do corpo dele e compreendeu que iria cair, que iria afundar-se nos despojos daquela última dança. Compreendeu que fatalmente ficaria adiado o momento seguinte, em que teria de respirar sozinha. Percebeu que a música terminara, que o seu corpo estava, agora, desprendido dele, de tudo o que ele representava, de tudo o que ele lhe tinha dado e retirado, de tudo o que conhecera com ele. A música terminara e estava, finalmente, livre…

Filipa
29 Dezembro 2008

domingo, dezembro 28, 2008

Ano novo, carrinha(s) nova(s)!




E assim terminamos o ano: comprando um carrito novo! Uma carrinha, afinal!

Duas, aliás! Foram duas. Uma para cada uma! Ambas da mesma cor! Preto (muito original!). Não arranjei imagens a condizer, pois ainda não fotografamos as ditas. Mas já foram regadas com champanhe! Diz o meu tio Horácio que dá sorte! Esperemos que sim! Sorte e boas viagens!...





E para animar o ambiente, o hino destes últimos tempos!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Diário de um doutor "inginheiro"



Chegou-me por mail sem qualquer referência ao autor pelo que não lhe poderei fazer a merecida referência:


«Diário vindo do futuro, de um aluno que hoje tem 11 anos e está a viver as reformas do nosso sistema de ensino.

29 de Junho de 2009

paçei o 5º anuh. A p*ta da stora de mat, k é a nossa dt, n m kria deixar paçar pk eu tnh nega a td menus a ginástica, pk jogo bem há bola, e o crl... mas a gaija f*deu-se puke a ministra da idukaxão mandou dizer ao ppl k penxam q mandam aí nas xkolas masé pabaixarem os kornos k tds os socios com menos de 12 anus teiem de paçar... axu bem.

29 de Junho de 2010

passei o 6º anuh. ainda bem q ainda n fiz 13 anus, q ódpx podia n passar, qesta cena de passar com buéda negas é só até aos 12... f*da-se, fiquei buéda f*dido na m*rda deste ano, e ó c*ralho, o pan*leiro do stor d educassão física deu-me a m*rda do 2... assim tive nega a tudo... ainda bem q a ministra da iduqaxão é porreira, ela é q é uma sócia sbem: a xqola n serve pa nada, é uma seca. tive q aprender que os K's se escrevem Q, qomo em "xqola" e não "xkola", e que "passar" não é qom Ç... a xqola é porreira só pa qurtir qas damas qd gente se balda...

29 de Junho de 2011

Passei o 7º ano. Exte anuh ia chumbando pq tive nega a qase td menos a área de projetuh, mas aqela cena tb é facil, n se fax nd... Exte anuh a dt disse-me q eu passava pq tinha aprendido qas fraxex qomexam qom letra maiúscula e pq m abituei a exqrever qom Q em vez de K, tipuh agora ja xei xqrever "eu qomo qogumelos qom quentruhs" em vez de "eu komo kogumelos kom kuentruhs". É fixolas, pode xer qum dia venha a ser um gamela famôzo...

29 de Junho de 2013

Passei o 9º ano. Foi buéda fácil, pqu a prof paxou-me logo. Fui ao quadro xqurever uma sena em qu dezia tipuh "aquela janela", e eu exqurevi "aqela janela", pqu dixeram-me qu n se xkqureve "akela", é quom Q e não quom K. Mas a profs desatinou quomiguh e dixe qu eu tnh qu pôr o U à frente do Q... Pur ixu exte anuh aprendi qu o Q leva U à frente. No próximuh anuh é o 10º, vou pá sequndária...

29 de Junho de 2014

Aquabei o 10º ano. Não foi muituh difícil só tive que aprendermos a não exqureverem quom aberviaturas purque nem todas as palavras xe puderam aberviar mas ixtu foi uma bequa para o quompliquado purque quom esta sena do QU em vex de K e das aberviaturas exqueceram-me de quomo é que se faxião os verbuhs nos tempuhs e nas pexoas, ou lá o que é... Mas a prof disse tass bem que no prócimo anuh a gente vê ixu.

29 de Junho de 2015

Passou o 11º ano. Foi mais fácil que o 10º. Aprendi que as frases devem ser mais qurtax. E aprendi também que "ano" não esqureve "anuh". Axo que no prócimo ano vai ser mais difícil. Purque a xeguir é a faquldade.

29 de Junho de 2016

Acabou o 12º. Fiquei buéda confuso porque tive de aprender a diferenxa entre usar o QU e o C, tipo "esCrever" e não "esQUrever". Quando eu usava o K era buéda mais fácil... A prof de português é buéda religiosa e anda a ouvir vozes de deus, porque dixe-me que eu não merexia passar, mas "xão ordens lá de xima"...

29 de Junho de 2017

Já fiz o primeiro ano da faculdade. Estou em ingenharia cevil na universidade lusófona. Tive um stor buéda mal iducado que me disse que eu era um ignorante porque às vezes escrevia com X em vez de CH, S ou C. Mas o meu pai veio cá com uma moca de rio maior e chegou-lhe a rôpa ao pelo. E depois fomos fazer queixa do gajo e a ministra despediu-o porque o gajo, não sei quê, parece que quis vir estragar aqui um muro nosso. Mas não sei essas senas. O meu pai é que me explicou uma cena qualquer de "danos murais"... O que é bom é que a ministra da iducação continua a mandar aqui nestes sócios da faculdade para eles não levantarem a garimpa contra nós.

29 de Junho de 2019

Acabei a minha licenciatura porque a ministra da iducação disse que tinhamos que passar sempre mesmo que não tivessemos notas, para não ficarmos astigmatizados. Acho que é uma cena que dá nos olhos quando se estuda muito. Agora vou fazer um mestrado e disseram-me que, quando acabar, vou ficar mestre. Eu quero ser de Kung-Fu.

29 de Junho de 2021

Já sou mestre. Afinal não sou de Kung Fu, sou de engenharia cevil. Os meus profs disseram que eu não devia estar em mestrado porque ainda não estava preparado, mas eu disse que o meu pai tinha uma moca de rio maior e que era amigo da ministra e já tinha mandado um bacano da laia deles para a rua e eles calaram-se. Agora vou fazer um doutoramento, porque a ministra da iducação diz que se não deixarem um aluno fazer o doutoramento só por causa das notas, ele fica com a auto-estima em baixo e isso perjudica a aprendizajem.

29 de Junho de 2023

Sou doutor. O meu orientador da tese ficou muito satisfeito porque eu já não dou erros ortográficos: ao longo destes dois anos, aprendi a escrever "engenharia civil" em vez de "ingenharia cevil" e também porque aprendi que a ministra é da "educação" e não da "iducação", mas lê-se assim. Entretantos casei. A minha dama chama-se Sónia e os pais dela ficaram muito felizes por ela ir casar com um doutor em engenharia civil. Ela não sabe ler nem escrever: só fez até ao 2º ano da licenciatura e depois foi trabalhar para o Minipreço. Já tá grávida.

29 de Outubro de 2023

Nasceu o meu filho! Chamei-lhe Júnior porque ele é mais novo que eu.

29 de Agosto de 2029

O Júnior vai fazer 6 anos daqui a 2 meses. Devia entrar para a escola este ano, mas estive a pensar muito bem e não o vou pôr na escola. Ele não precisa daquilo para nada, aprende em casa. Eu ensino-lhe a ler, que sou doutor, e a mãe ensina-lhe a fazer contas, que é caixa no Minipreço. A escola não vale nada. Acho que o sistema de ensino hoje em dia é uma m*rda. No meu tempo é que era bom.»
in: http://www.jumento.blogspot.com/

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Chocolate quente


Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras, decidiu fazer uma visita a um velho professor, agora reformado.
Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho. O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes – de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas. Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade. Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, disse-lhes:
– Reparem como todos procuraram escolher as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas... Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena; mas fostes conscientemente para as chávenas melhores...
Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do professor, este continuou:
– Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm. Vivei com simplicidade. Amai generosamente. Ajudai-vos uns aos outros com empenho. Falai com gentileza…
… e apreciai o vosso chocolate quente.
(autor desconhecido)

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Carta ao Pai Natal


Querido Pai Natal,

Este ano para ser original não te vou pedir nenhum presente para mim, até porque já vasculhei os que tenho debaixo do meu pinheiro.
Tu sabes que eu não consigo resistir a um presente… Assim que os recebo, tenho de os abrir! Sou curiosa, mas sei que gostas de mim mesmo assim.
Este ano queria que enviasses um presente aqueles mais necessitados. Não é um presente fácil, eu sei, mas também sei que tu és um Pai Natal muito profissional e dedicado.
Os felizes contemplados iriam com certeza:

Não ver apenas branco, preto e cinzento mas sim todas as cores do arco-íris;
Ganhar a capacidade de rir e chorar até a exaustão;
A coragem para largar tudo para dar a volta ao mundo, em 80 dias ou mais;
Sair por detrás da cortina e dizer não o que se deve, mas o que realmente se pensa;
Descontrair, beber uns copos com os amigos até cair, dizer umas valentes bacoradas e porque não uns palavrões;
Deixar de medir as palavras e as atitudes, discutir bem alto quando é preciso, mesmo sem elegância nem delicadeza;
Passear a chuva, dormir na praia;
Cortar amarras e ser livre;
Largar o estereótipo do novo-rico, largar a roupa de marca e ir de quando em vez a feira da Ladra;
Pisar a linha da normalidade, superar limites e ganhar a dimensão de gente;

Tenho a certeza que não terás a mínima dificuldade em distribuir este presente!
Já sabes que como não tenho chaminé, e que não consegues passar pelas tubagens do ar condicionado, porque estás cheiinho, que terás de atracar as renas a porta do prédio e tocar-me a campainha.

Fico a tua espera antes do bacalhau e das batatas, para bebermos um copo ou dois e atacarmos as azevias! Se quiseres podes subir com o Rodolfo que já não o vejo há um ano.

Beijinhos

terça-feira, dezembro 16, 2008

Gentle music on a chilly day!



Fingertips, Cause to love you


Today I felt a kind of melancholic...
Today I felt like listening to a simple song that tells about simple things: Love and its possibilities!...

domingo, novembro 30, 2008

Super mulher



Habituei-me a ver-te, mãe, a sair apressada pela manhã, ainda antes das oito e a acordar-me antes de ir com um recado sempre importante para o dia. Sabia que estavas já acordada há muitas horas, pois o cheiro a comida acabada de fazer, àquela hora já me havia entrado pelas narinas, vindo da cozinha, passando o corredor gelado em direcção ao pobre quarto enegrecido pela humidade nas paredes e no tecto, onde dormíamos as duas, as duas irmãs com dois anos de diferença, aquecidas por quilos de cobertores, pesados em cima de nós, aquecidas pelo corpo uma da outra, por falta de dinheiro para aquecedores e electricidade.
Lembro que saías sempre apressada, com o almoço do pai numa marmita embrulhada em jornais e que deixavas escritos os recados num papel, em cima da mesa da cozinha, caso eu não tivesse ouvido tudo por estar ainda meio adormecida. Saías apressada para trabalhar a duas horas de distância, para apanhar por vezes três transportes até lá chegar e, depois de oito ou mais horas de trabalho, regressar pelo mesmo caminho e chegar já tarde a casa, por vezes depois das oito, para repetir tudo de novo e seres a última a deitar-te.
Pergunto agora, mãe, já adulta e mãe também, porque nunca tiveste férias. Pergunto porque nunca sentiste falta de uma viagem, de um cinema, de um concerto, de um teatro, de um vestido novo, de maquilhagem, de uma massagem, de um spa, de um creme novo, de uns sapatos a combinar com a carteira.
Pergunto, mãe, como conseguiste viver toda uma vida sem saber o que era uma noite romântica, um jantar a dois à luz das velas, sem saber o que era receber um presente (“É para ti. Comprei-o, porque pensei em ti, porque reconheço que tenho uma grande mulher ao meu lado, porque te admiro, porque sou um felizardo por te ter a meu lado.”) Pergunto, mãe, como pudeste pensar só nos outros, nos filhos, no marido, na família e te esqueceste completamente de ti.
“Só quero descansar um bocadinho. Dói-me tanto a cabeça.”
Recordo estas palavras recorrentes que entraram, também, por mim dentro como o cheiro dos teus cozinhados pela manhã, bem cedo. Habituei-me a ver-te cansada, mas nunca desanimada. Habituei-me à tua mão áspera que raramente me fazia uma festa no rosto (talvez porque também nunca o tenhas recebido em criança), mas que me aconchegava a roupa da cama antes de dormir e para mim isso era carinho, isso era segurança.
Recordo que cresci sem medo. Ainda hoje não o tenho. Sabia que tu, mãe, resolverias tudo. Arranjarias sempre solução para as rasteiras que a vida nos preparasse. Habituei-me a ver-te a cair e a não chorar, mesmo grávida, com quarenta anos, aflita por dentro por não saber se tudo estava bem… Grávida aos quarenta, porque o amor era maior, maior que a desilusão, maior que o deserto no peito, maior que a dor nos ossos que já moía a doçura do sono.
Habituei-me a ver-te, mãe, como uma super mulher…
E para todas as super mulheres como tu, não existem palavras nem canções suficientes para dizer o quanto valem…


What a lovely song!...






quarta-feira, novembro 26, 2008

Tinta, escrita, vida permanente

Sempre me incomodou a escrita das canetas de tinta permanente… são aquelas com uns bicos muito bem desenhados e cuja elegância das canetas me fazem por vezes desejar escrever com elas. Mas eu não lhes consigo dar a correcta utilização e até sou capaz de furar o papel quando me atrevo a usá-las.

Perturbam-me as pessoas que não conseguem viver de forma vincada o que sentem ou o que são, seja isso bom ou mau aos olhos do mundo. Vivo de forma Permanente, sinto de igual forma e sou assim mesmo. Mesmo que o que fique registado seja apenas com uma caneta simples e sem aparente beleza mas que cumpre em tudo o objectivo para o qual a escolhemos.

Mas porque estou a dizer isto tudo agora? Apenas porque, uma vez mais, me dou conta que muita gente gostaria de poder viver apenas como se a vida fosse assim como uma escrita de lápis: assim leve e supérflua e que uma simples borracha facilmente teria o poder de apagar os momentos.

Registo cada instante de cada rosto, cada emoção que me faz sentir viva, a cor de cada pedaço de ar que rodeia o instante… mais um instante de alegria e felicidade. Guardo-os de forma permanente no baú do meu coração.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Já agora, a letra da canção!

É, de facto, um hino à nossa força interior!


HERO, Mariah Carey

There's a hero if you look inside your heart.
You don't have to be afraid of what you are.
There's an answer if you reach into your soul
and the sorrow that you know will melt away.
And then a hero comes along
with the strength to carry on
and you cast your fears aside
and you know you can survive.
So, when you feel like hope is gone
look inside you and be strong
and you'll finally see the truth
that a hero lies in you.

It's a long road
when you face the world alone.
No one reaches out a hand for you to hold.
You can find love
if you search within yoursel
fand the emptiness you felt will disappear.

And then a hero comes along
with the strength to carry on
and you cast your fears aside
and you know you can survive.
So, when you feel like hope is gone
look inside you and be strong
and you'll finally see the truth
that a hero lies in you.

Lord knows dreams are hard to follow,
But don't let anyone tear them away.
Hold on, there will be tommorow.
In time you'll find the way.

And then a hero comes along
with the strength to carry on
and you cast your fears aside
and you know you can survive.
So, when you feel like hope is gone
look inside you and be strong
and you'll finally see the truth
that a hero lies in you.
That a hero lies in you,
that a hero lies in you.

Fundir lâmpadas


Acontece-me muitas vezes... ponho a mão e pummm... foi-se!! A lâmpada não se funde apenas, estoura mesmo! Desta vez dei comigo a rir... à gargalhada.
Eu sabia... trazia comigo ou ainda trago uma tal força que não há lâmpada que resista. Vai-se embora de vez, estoura e apaga-se para sempre.
Não sei se vos acontece o mesmo...mas quando estou assim, a não conseguir manter dentro de mim toda esta força é uma lâmpada ou um aparelho qualquer que recolhe a energia e não resiste e lá entro eu em despesas!
Penso que é o mesmo que acontece com as pessoas... não me aguentam por muito tempo: primeiro encantam-se, depois têm medo da força e depois têm que partir para um sitio mais apático, com menos energia!!
Neste caso as despesas não são materiais mas também deixam a sua marca...

HERO

http://www.youtube.com/watch?v=9KojptKmhvM

Ainda me surpreendo quando uma música antiga me recorda algo do passado... No caso ouço uma musica que relembra-me os tempos felizes que tu viveste quando ainda estavas no meio da ilusão do amor. Recordo o teu rosto e a leveza que trazias porque estavas entregue e porque, mesmo sem pensar nisso, vivias o amor da tua vida: tal qual uma princesa, tal e qual como a princesa que és!! Mas isso só se vive uma vez porque quando esse amor entra no abismo nunca mais voltamos a acreditar nem a entrega é igual outra vez.

Era o dia do teu casamento e mais tarde seria o dia de uma visita minha onde tudo ainda era real.

Como me entristece pensar que não foi possivel, o teu, ser um amor eterno com toda aquela magia! Aproveito as palavras da musica seguinte: "não deixes que este amor morra assim..." mas morreu.
Porque é que tem que ser assim?

terça-feira, novembro 11, 2008

Portas



"Se você abre uma porta,
você pode ou não
entrar em uma nova sala.
Você pode não entrar
e ficar observando a vida.
Mas se você vence a dúvida,
o temor, e entra, dá um grande passo:
nesta sala vive-se!
Mas, também, tem um preço...
São inúmeras outras portas
que você descobre.
Às vezes curte-se mil e uma.
O grande segredo
é saber quando e qual porta
deve ser aberta.
A vida não é rigorosa,
ela propicia erros e acertos.
Os erros podem ser transformados
em acertos quando com eles se aprende.
Não existe a segurança do acerto eterno.
A vida é generosa,
a cada sala que se vive,
descobre-se tantas outras portas.
E a vida enriquece
quem se arrisca a abrir novas portas.
Ela privilegia quem descobre seus segredos
e generosamente oferece afortunadas portas.
Mas a vida também pode ser dura e severa.
Se você não ultrapassar a porta,
terá sempre a mesma porta pela frente.
É a repetição perante a criação,
é a monotonia monocromática
perante a multiplicidade das cores,
é a estagnação da vida...
Para a vida,
as portas não são obstáculos,
mas diferentes passagens!"
(Lçami Tiba)

segunda-feira, novembro 10, 2008

Amigos dos meus amigos


Há uns tempos atrás estava num restaurante e dei por mim a observar a mesa ao lado.
Só homens compunham a dita mesa e das baboseiras ditas alto e em bom som retive uma:
“Eu cá sou amigo dos meus amigos”.
Ora aqui está um pensamento profundo, sim senhor!
É que eu cá também sou amiga dos meus amigos, o problema é quando tomamos por amigos aqueles que já há muito deixaram de o ser. Mas isso é apenas um à parte.
Na realidade o busílis da questão prende-se com o facto aqui desta mocinha não conviver lá muito bem com facto de alguns amigos dos meus amigos acharem que também são meus amigos. Parece confuso? Mas não! É que esses novos amigos prodígio sabem tudo acerca de mim e são mesmo muito a frente. Vá de opinar, de combinar programas etc. Isto a malta é toda muita fixe! Já nos conhecemos há bué, até já trocamos uns mails, já comentei o teu blog e tal, afinal somos mesmo super amigos!
Vale-me o facto de ser moça bastante condescendente e com infinita paciência ….

sexta-feira, novembro 07, 2008

Luxúria

Sei que a luxúria é um dos sete pecados mortais, mas hoje atrevia-me a:

Pegar no carro ...

Chegar a casa ...



Tomar um banho ...



Vestir uma coisinha simples ...



Jantar a dois ...


E como já dizia a outra: ”E se eu não gostar de mim, quem gostará?”

Beijinhos e Bom fim de Semana !

quarta-feira, novembro 05, 2008

Quem esta pessoa que está ao meu lado?


Li recentemente a seguinte frase: "É necessário uma dose homeopática de masoquismo para viver em sociedade e tolerar aquele estranho que temos ao lado no metro, na fila do cinema, no trabalho e na cama".
Já muitas vezes ouvi comentar que era muito dificil estar ao lado de certas pessoas - isto já para não falar de conviver - quando não somos nós que as escolhemos para ali estar... mas hoje faz-me muito mais confusão estar ao lado de pessoas que escolhi erradamente e mais ainda quando é difícil, senão mesmo impossível, afastá-las de vez do meu caminho.
Um destes dias fiz um exercício que durante muitos anos o repeti sem nunca ter pensado desta maneira: por força das circunstâncias estive numa igreja em comunidade, a rezar ao lado de tanta gente que eu não escolhi (nestes locais nunca escolhemos as pessoas que ali estão). Achei muito estranho rezar, e ainda por cima em voz alta, em unissono com aquelas pessoas. Senti que foi muito dificil pois sentia cada frase que dizia de uma forma autêntica (as plavaras entravam em mim e faziam eco no meu coração) e estava a partilhar isso com todos os presentes.
Saí dali a questionar tudo o que se faz numa oração em comunidade, o seu sentido ou a falta dele do ponto de vista de tanta gente...e não pude deixar de me questionar sobre esta homeopatia de viver em sociedade.

domingo, novembro 02, 2008

Gosto de ti!...




gosto de ti desde aqui até à lua
gosto de ti desde a lua até aqui
gosto de ti simplesmente porque gosto
e é tão bom viver assim...

André Sardet, Adivinha o quanto gosto de ti


sábado, novembro 01, 2008

Pensamentos... Ou várias formas de amor...


(autor desconhecido)


" Também de meu amor precisas para ser feliz, desse amor de impurezas, errado e torto, devasso e ardente, que te faz sofrer."

Jorge Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos



"Por vida desse amor mágico que desafiava o poder da morte, conhecíamos todo o passado habitado pela espera do nosso encontro, trocávamos recordações dos lugares onde nunca estivéramos, emoções dos corpos que já não éramos, (...)"

Álvaro Guerra, No Jardim das Paixões Extintas



"Minh'alma de sonhar-te anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer a razão do meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!"

Florbela Espanca, Poesia Completa

quinta-feira, outubro 30, 2008

"Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara."


Dia 13 de Novembro estreia finalmente em Portugal o filme "Blindness" baseado na obra "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago.
Estou expectante em relação a estreia deste filme, não só pelo facto de ter lido o livro mas porque a historia narrada me sensibilizou de algum modo.
Para quem nunca leu o livro, tudo começa quando uma praga repentina de cegueira se abate sobre a população. Aos poucos, um após o outro todos acabam cegos, e excepção da mulher de um medico, que aparentemente e sem razão especial é a única que não é afectada pela doença que deixa todos cegos.
É por ela e através dos olhos dela que tudo nos é narrado.
A cegueira é encarada inicialmente como uma epidemia, algo contagioso e como tal todos os que vão cegando são colocados de quarentena em condições desumanas.
É o começo do desmoronar completo da sociedade.
Os serviços mínimos deixam de funcionar, não há saúde, não há educação, não há comida, não há agua, não há luz, não há nada, todos se encontram perdidos e desesperados na sua própria escuridão e a historia passa a ser apenas um registo de sobrevivência de multidões, onde o ser humano é reduzido a sua verdadeira essência.
O livro não é somente uma história de cegos, é sim, o retrato cruel, chocante e impiedoso, por um lado, mas também de confiança, força, luta e coragem das relações entre os homens.
"Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente"
E aqui reside a riqueza deste livro. Até onde somos capazes de ir para assegurar a nossa sobrevivência? Que valores conseguimos manter e quais perdemos de forma quase imediata? Como controlamos o nosso medo? Como vivemos sem esperança?
Concluindo, Ensaio sobre a Cegueira é um livro que eu recomendo mesmo aqueles mais cépticos em relação a forma de escrita de Saramago.

Deixo aqui alguns excertos deste livro:

"Quando o médico e o velho da venda preta entraram na camarata com a comida, não viram, não podiam ver, sete mulheres nuas, a cega das insónias estendida na cama, limpa como nunca estivera em toda a sua vida, enquanto outra mulher lavava, uma por uma, as suas companheiras, e depois a si própria."

"O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui. Então perguntou o velho da venda preta, Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira. Ninguém lhe soube responder."

"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."

quarta-feira, outubro 29, 2008

A Coroa


“Havia num país distante, um rei poderoso que tinha como servo um homem bom e fiel, cuja eficiência era única em todo o reino.
Porém, o rei não podia acreditar que esse homem era perfeito.
Mil dúvidas povoavam sua mente. E se num momento muito importante a eficiência deste servo falhasse?
Diante desta dúvida o rei resolveu colocar em prova a capacidade do homem.
Chamou-o e disse: -" Servo, cansei-me desta minha coroa.
Quero uma outra, mas não em ouro e sim quero-a com pedras preciosas. As mais exóticas e brilhantes que houver. Portanto, ordeno-lhe que a confeccione para mim".
Como ele sabia que no seu reino não havia este tipo de pedras achou que pela primeira vez o seu servo lhe falharia.
Mas meses depois, o fiel empregado voltou trazendo uma coroa de beleza ímpar, com pedras espetaculares nunca antes vistas em reino algum. Mas o rei ainda não aceitando totalmente a eficiência do escravo, depois de muito pensar e meditar chamou-o novamente ordenando: ...
" Servo, agora quero que acrescente nesta linda coroa, uma frase que quando eu estiver triste me alegre, e quando eu estiver feliz, me entristeça".
O servo saiu de lá desesperado. Como faria isso?
Tudo na vida já tinha feito para provar sua fidelidade ao rei, mas agora ele pedia–lhe algo que parecia impossível.
Chegou em casa entristecido, sabendo que perderia o seu cargo e que mais do que isso perderia a confiança do rei.
Mas a esposa, consternada com a tristeza do marido depois de muito pensar teve uma grande idéia que executou.
Depois de pronta, o servo pegou a coroa e a levou ao rei que de imediato a colocou na cabeça e foi para a frente do espelho para ver o que nela estava escrito.
Espantado então viu a breve frase: VAI PASSAR! “
Autor Desconhecido
Esta é a nossa realidade, e de facto, inpendentemente do momento mais ou menos feliz pelo qual passamos no presente uma coisa é certa : Ele passará …

segunda-feira, outubro 27, 2008

Solidão

(imagem por khimaereus - internet)



TRECHO DE UMA ENTREVISTA A CHICO BUARQUE, ONDE ELE DEFINIU, “SOLIDÃO”…
“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo… Isso é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar… Isso é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos… Isso é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente… Isso é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado… Isso é circunstância!
Solidão é muito mais do que isso…
SOLIDÃO… é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma!…”
Não gosto particularmente de solidão, mas adoro estar sozinha! De ouvir o bater do meu próprio coração, sem o som da presença do outro...
Gosto do retiro voluntário que, por vezes, anseio sofregamente para me encontrar!...

sexta-feira, outubro 10, 2008

Poema


Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrirquando não sabes mais o que dizer.
Os teus dentes estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-tedecisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre avoracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,que não te dê descansoe te faça doer a respiração.
Aspira o ar, bebe-o com força, é teu, nem um centavo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigocomo um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medira felicidade.
Carrega nos teus ombros os séculos passados eos séculos vindouros,muito do pó que sacodes já foi vida, talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe, o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta.
Constrói o teu amor, vive o teu amor, ama o teu amor.
De tudo o que as pessoas querem, o que mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança.
E canta quando aesperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso.
Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.
Joaquim Pessoa 'Vou-me Embora de Mim' da HUGIN em 2000

quinta-feira, outubro 02, 2008

Anjo da Guarda

Numa manhã acordamos e o sol nasce, como sempre, fresco num dia de Outono. Corremos de um lado para o outro, trabalhamos, esquecemos de sorrir.
Na manhã seguinte o sol já não importa, o trabalho perde valor, os compromissos tornam-se ridículos, o stress do dia a dia deixa de fazer sentido. Tudo porque o amor da nossa vida, aquele por quem respiramos, a razão porque existimos está a entrar para um bloco operatório para tratar uma infecção e remover um apêndice que, inflamado, incomoda, dói e espalha o que não deve.
Sossegam-nos o coração, dizem-nos que é uma cirurgia simples, mas o coração não entende explicações científicas. Só sabe que dói quando a impotência se apodera de nós e temos que o deixar ir, entregue nas mãos de quem sabe…
“Vai correr tudo bem… Pedi ao Anjo da Guarda para cuidar de ti…”

E ele cuidou!...

segunda-feira, setembro 29, 2008

Parabéns, Cláudia!

Hoje, 29 de Setembro, completa mais uma Primavera uma das flores do nosso magnífico jardim! PARABÉNS, CLÁUDIA! E que continues a saber florir dessa maneira tão genuína, tão tua, tão nossa! Mil beijinhos com amizade, adoração e admiração!...
Procura sempre o sol!...

sexta-feira, setembro 26, 2008

Provocação...

(imagem retirada da internet)

A propósito de um programa, algo polémico, recentemente estreado na SIC e apresentado pela Teresa Guilherme, surgiu a discussão à volta do assunto (mais que delicado) da traição. Era perguntado à concorrente se contaria ao marido caso alguma vez o traísse. Ao que a dita responde que não. Não contaria. E parece que falou verdade e ganhou 100 mil euros, para grande júbilo do marido, pai, sogra e público! É de reiterar a ideia de que o marido bateu palmas e abraçou a mulher com muito amor ao ouvir a voz off dizer, após enorme suspense, que a resposta era... verdadeira!

Foram para a rua questionar os transeuntes acerca do mesmo e, como era de esperar, as respostas oscilaram entre o sim e o não e, com toda a naturalidade, foram expostas as razões.

A mim, a razão que me levou a escrever este post tem a ver com a opinião de uma mulher que considero muito inteligente e cuja escrita já me prendeu duas ou três vezes no seu blog. Luisa Castel Branco opinou mais ou menos isto: já viveu muito e sempre achou que a verdade devia ser a palavra - chave de tudo na vida. Porém, agora e com a experiência que já tem, diz: mulheres, se a coisa NÃO for séria, não contem! Não vale a pena estragar nada por uma vivência passageira!...

Fiquei espantada. Ela que é uma mulher tão assertiva e correcta, do género "doa a quem doer", emite tal opinião! Fiquei a pensar, eu própria também, sobre o assunto... Valerá a pena contar ao companheiro(a) que se cometeu uma traição? Só se deve contar se a "coisa" for séria, como defende Luisa Castel Branco? Deve-se contar sempre, mesmo que tenha sido "uma aventura sem importância"? Existirão "aventuras sem importância", ou pequenos deslizes sem valor, ou todas as traições são graves e condenáveis? Será que o ser humano consegue enganar e ficar na mesma? Ou alguns conseguem e outros não? O que será melhor: saber a verdade ou viver na "santa ignorância" e em paz e harmonia?...

Meditem e aceitem a provocação: digam qualquer coisa!


domingo, setembro 21, 2008

poesia, mais uma vez!

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

E eu acreditava.

Acreditava,

porque ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.



Mas isso era no tempo dos segredos.

Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.

Era no tempo em que os meus olhos

eram os tais peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco, mas é verdade:

uns olhos como todos os outros.



Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor...,

já não se passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.



Não temos já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus



Eugénio de Andrade

(mais uma vez!...)

sábado, setembro 20, 2008

Despedida...

(imagem retirada da Internet - Autora: Isabel)
Ía eu hoje de carro pela estrada e reparei numa coisa que todos os anos me faz sentir algo paradoxal. Das árvores ainda carregadas de folhas verdes, começavam a desprender-se algumas já amarelecidas. O sopro do vento levava-as para longe e a sensação de que a natureza está a mudar trouxe-me o tal sentimento dual de, por um lado, melancolia, tristeza e, por outro, fascínio, encantamento…
Tal como acontecia com os poetas e autores do Romantismo, a natureza influencia um pouco os meus estados de espírito e o meu ânimo… Pelo fim da tarde, chegou a chuva, o ar arrefeceu e eu comecei a despedir-me do Verão… Comecei a antever os ramos despidos das árvores, os dias mais curtos, as gotas de chuva na minha janela, o som dela no meu telhado, o céu cinzento a encobrir os raios de sol no meu dia…
É o ciclo da vida que temos que aceitar, pois a natureza também sabe que “é preciso morrer para nascer de novo”…

segunda-feira, setembro 15, 2008

Mamma Mia! Divina Meryl Streep!




Há muito tempo que não saía de uma sala de cinema com o coração cheio !
É um musical.
Pensei que todo o drama se perdesse perante o aspecto insólito de situações cantadas (irreais, no dia-a-dia) e que, por isso mesmo, fosse impossível chorar, emocionar-me, envolver-me no filme! Porém, devo dizer que as lágrimas me caíram, teimosas, inconvenientes, com emoção. Adianto também que saí com os maxilares descarnados de tanto rir e com os meus abdominais tonificados pelas fortes contracções que as gargalhadas sonoras provocaram! Uma mistura de sensações e emoções que somente uma Meryl Streep absolutamente estonteante poderia provocar! Um verdadeiro bálsamo, este filme, que traz à memória canções que ouvi pela primeira vez em vinil, em adolescente, em casa de uns tios trintões e muito curtidões e que na altura eu trauteava sem compreender o sentido e muitas vezes com a letra errada! Eram os ABBA, claro está!
Quem conhece Meryl Streep de filmes dramáticos e densos como A Casa dos Espíritos ou As Pontes de Madison County, dificilmente poderia esperar que ela se saísse tão bem numa comédia / musical carregada de energia, acção e música! Mas a surpresa é avassaladora, o que até acaba por nem surpreender - é que estamos a lidar com uma musa do cinema! Ela própria parece rejuvenescer no cenário encantado da Grécia, local onde decorre a acção!

Ficamos com o desejo de envelhecer da mesma forma encantadora e bela!

E, claro, com vontade de reservar já bilhetes para o próximo avião para a Grécia!

quinta-feira, setembro 11, 2008

Mar de Setembro

(imagem retirada da internet- autor desconhecido)

Tudo era claro:

céu, lábios, areias.

O mar estava perto,

fremente de espumas.

Corpos ou ondas:

iam, vinham, iam,

dóceis, leves - só

ritmo e brancura.

Felizes, cantam;

despertos, amam,

exaltam o silêncio.

Tudo era claro,

jovem, alado.

O mar estava perto,

puríssimo, doirado.

(Eugénio de Andrade, o poeta do amor, da intensidade...)


sábado, setembro 06, 2008

Estrada

Não posso estar tanto tempo a ouvir esta música e não a partilhar...
http://www.youtube.com/watch?v=Sf0l1XTDUAY

Meu amor não quero mais palavras rasgadas
Nem o tempo cheio dos pedaços de nada
Não me dês sentidos para chegar ao fim
Meu amor...só quero ser feliz
Meu amor não quero mais razões p'ra apagar
O que nasce e renasce e nos faz acordar
A locura faz medo se for medo o teu chão
Mas é ar e é terra dentro do coração
É ar e é terra dentro do coração
Meu amor não quero mais silêncio escondido
Nem a dor do que cai em cada gesto ferido
Quero janelas abertas e o sol a entrar
Quero o meu mundo interno dentro do teu olhar
Eu quero o meu mundo inteiro dentro do teu olhar
E hoje vê a estrada é feita para seguir
E hoje sente a vida é feita de sentir
E hoje vira do avesso o mundo e vê melhor
Deste lado é mais puro
É teu é tão maior
Deste lado é mais puro
É meu é tão maior
Meu amor não quero mais palavras rasgadas
Nem o tempo o cheio dos pedaços de nada
Não me dês sentidos para chegar ao fimMeu amor...só quero ser feliz
Meu amor não quero mais razões p'ra apagar
O que nasce e renasce e nos faz acordar
A locura faz medo se for medo o teu chão
Mas é ar e é terra dentro do coração
É ar e é terra dentro do coração
E hoje vê a estrada é feita para seguir
E hoje sente a vida é feita de sentir
E hoje vira do avesso o mundo e vê melhor
Deste lado é mais puro
É teu é tão maior
Deste lado é mais puro
É meu é tão maior

domingo, agosto 31, 2008

As regras da sensatez

(Imagem retirada da internet)


Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz

Nunca mais voltes à casa
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa
Por entre as lajes do chão

Nada do que por lá vires
Será como no passado
Não queiras reacender
Um lume já apagado

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez

Por grande a tentação
Que te crie a saudade
Não mates a recordação
Que lembra a felicidade

Nunca voltes ao lugar
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza
Que dá na garganta nós

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez



(Letra da música de Rui Veloso - As Regras da sensatez)

segunda-feira, agosto 04, 2008

As montanhas do Afonso


(imagens retiradas da internet)
“Estas montanhas são minhas!”, dizia o pequeno Afonso, apontando o dedito pela janela do carro, à medida que se vislumbravam as primeiras montanhas da Serra do Gerês… Em baixo, um magnífico rio corria lavando as encostas da serra. Em certos locais, as montanhas recolhiam minúsculas casinhas cujos telhados cor de laranja pintavam o verde com pequenos pontinhos de cor de fogo. O Afonso lançava os esplêndidos olhos azuis à paisagem e parecia admirá-la ainda mais do que nós! E repetia a cada passo: “Estas montanhas são minhas!” e nós dizíamos que sim! Claro que sim, Afonso, as montanhas são tuas e eu que ando sempre com a cabeça nas nuvens e adoro a cor azul, fico com o céu, que é azul como os teus olhos e é grande o suficiente para ser de todos!...

quinta-feira, julho 31, 2008

Umbrella no Verão, versão MSP!




Descobri isto, de passagem pelo blog "A Educação do meu Umbigo" (um EXCELENTE blog sobre educação que também tem diversão e acutilante crítica social) e fiquei fascinada!... Habituada a ouvir a jeitosa da Rihanna a fazer HE, HE, HE e às vezes o meu adorado sobrinho a imitar o toque de telemóvel do primo (o he, he, he do Afonso é ÚNICO) e venho a descobrir os Manic Street Preachers com esta versão que me deixou em êxtase... Continuação de um bom e quente Verão para todos!

sexta-feira, julho 18, 2008

Hoje Subscrevo!


Sempre fui uma boa aluna a filosofia. Vá-se lá saber porquê?
Interessava-me pela maior parte dos temas discutidos, ao contrário da maior parte dos meus colegas da época.
Numa das inúmeras aulas falávamos sobre um filósofo chamado Rousseau, ou melhor, Jean-Jacques Rousseau.
Despertou-me interesse por vários motivos, por ser um dos percursores do romantismo e ilusionismo em França, o meu país de origem, mas principalmente porque grande parte dos seus ideais políticos terem tido uma grande influência nas inspirações da grande Revolução Francesa.
Era assim em traços gerais e de uma forma mais sucinta, um anti capitalista, grande contestador no que diz respeito a desigualdade e a injustiça entre os homens.
Desigualdade e injustiça … aqui estão concentradas nestas duas palavras, atitudes e comportamentos que me indignam e tiram francamente do sério!
Com toda a certeza, foi esse o motivo pelo qual Rousseau captou a minha atenção.
Voltando um pouco atrás, e situando-me numa das muitas aulas de filosofia ouvi uma das suas célebres frases, que retive até hoje, que diz mais coisa menos coisa o seguinte:
“Todo o homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe”.
Na altura confesso que achei que ela não fazia grande sentido.
Para mim existiam apenas dois grandes grupos de pessoas, as boas, correctas que cumpriam sempre os seus direitos e obrigações e as más ou incorrectas, que apenas se centravam nos seus direitos esquecendo a maior das vezes as suas obrigações.
Esses dois grupos eram divididos, para mim, não pelo seu percurso na sociedade mas sim pelos valores que lhes tinham sido incutidos pelos seus antepassados, pais, avos e familiares.
Digamos que era mais ou menos linear!
Assim nessa fase da adolescência, em que existia de certa forma muita ingenuidade e desconhecimento sobre muitas questões práticas da vida, eu incluía-me no primeiro grupo. No grupo das pessoas correctas que jamais em tempo algum pisariam o risco e passariam para o lado do segundo grupo.
Tinha sido educada com princípios e valores morais que nunca me permitiriam incumprir o que quer que fosse.
Distam hoje quase uma dezena de anos desses tempos em que de algum modo, o meu mundo era pintado somente no tom de rosa…
Aprendi que a justiça, a razão e o direito fenecem perante o desespero, e como tal, quando somos postos a prova e considerando que se luta muitas vezes de mãos nuas, e sem qualquer protecção, deixam de existir conceitos como a elegância, o correcto, o moral e a educação.
Esquecemos os valores apreendidos até então e concentramo-nos único e exclusivamente em sair com poucas maleitas e de preferência vivos da refrega!
Demorei alguns anos a perceber o sentido e a verdadeira dimensão desta frase … hoje subscrevo-a!

terça-feira, julho 15, 2008

Cartas de amor...e outras cartas



Guardo pilhas de cartas dos tempos em que se escrevia em papel.

Não me consigo desfazer delas... até porque deixaram de aumentar. Há já muito tempo que não tenho que comprar uma caixa nova para as guardar.

Havia já gente evoluida que escrevia as declarações de amor no computador mas tinha o cuidado delicado de imprimir em papel adequado e bonito e colocar num envelope personalizado para entregar. Reli recentemente algumas delas...Quanto valor teve tudo um dia e quanto sentimento guardo agora numas caixas cheia deles! Acho que guardo todas estas cartas acreditando que se consegue guardar os sentimentos...

Mas ainda continuo a acreditar nisso pois guardo os telegramas de amor transformados em emails e sms... mas esses na sua forma digital. Devo achar que guardar os escritos tornam as coisas mais verdadeiras... não não é nada disso apenas gosto de reler o que se escreve e tentar perceber durante quanto tempo continua válido...

segunda-feira, julho 14, 2008

Sentir

Imagem retirada de manuel.fotosblogue.com/6/

Quem ainda não sentiu um frio imenso no estomago como se uma faca bem afiada nos estivesse a atravessar esta parte do corpo?
Ou então aquela sentimento que nos congela o rosto e enturpece todos os músculos que se contraem para aguentar aquela dor? ou desilusão...
ou ainda aquele nó imenso que desce pelo nosso esofago e parece que não se consegue diluir no estomago?
Ando para aqui a pensar se não haverá por ai numa dessas medicinas alternativas uma solução qualquer que nos ensine nestes momentos crueis de dor espiritual a desligar a nossa razão dos nossos sensores espalhados pelo resto corpo...
quando tenho uma destas sensações fica muito claro que aquela pessoa ou aquele cenário não é para mim e que tenho que descobrir - nem que seja necessário inventar - uma solução para sair daquele caminho.
É mesmo terrivel... a seguir a esses momentos fico quase desfalecida e sem forças e só trazendo à minha mente o que verdadeiramente me move é que consigo dizer que tudo isto são apenas atropelos no meu caminho e que me deixarão mais fortalecida para a longa viagem.

domingo, julho 13, 2008

Quatro desejos


“Só queria realizar quatro desejos: tirar sempre boas notas, saúde para a minha família, viajar no tempo e dar a volta ao mundo.”
São onze anos cheios de leituras e muita imaginação a falar! Um pequeno grande homenzinho com muitos sonhos para concretizar! É o sonho que fala por ele, mas também a curiosidade, uma curiosidade inata pelo desconhecido que lhe preenche os dias e a busca de novos conhecimentos.
Penso que entendo os quatro desejos.
“Tirar sempre boas notas” é importante, porque a mãe fala das notas e do sucesso escolar a toda a hora… Só o excelente interessa, só o melhor é que terá sucesso. São frases ditas vezes sem conta para responsabilizar, para criar ambição, para incutir objectivos de futuro.
“Saúde para a minha família” é outro aspecto essencial. Sem a família e aqueles que amamos, de que vale o sucesso, a excelência?... Ele sabe que o amor, o carinho no coração são o alimento da existência.
Depois vem a curiosidade. “Viajar no tempo”, visitar a vida de outros séculos, conhecer o passado. É curioso que não o atrai o futuro, não se interessa pelo que virá, mas antes pelo como foi. Esta atracção pelo passado tem a ver com os seus interesses artísticos. Aprecia a história da moda, a evolução do vestuário, o estilo de vida ao longo da história. Tem um certo gosto barroco pela arte complicada, fantasiosa, rebuscada… Gosta do vestuário elaborado e admira o rei-sol – Luís XIV- pela sua excentricidade.
“Dar a volta ao mundo”, porque viajar é ler no concreto, nos objectos, nas pessoas, nas paisagens a sabedoria do mundo, do planeta, do universo. Surge, então, a curiosidade, a vontade de conhecer o exótico, o antigo, o diferente, as civilizações, a paisagem natural, a beleza humana, a miséria humana, os monumentos e obras do passado e do presente… Viajar significa crescer, aprender e ficar mais rico.
E com onze anos apenas, são já tantos os sonhos e anseios que enchem um coração de menino!...

segunda-feira, junho 30, 2008

Música no Acontece!




Céu estrelado e quente... Verão e passeios à noite... Mãe e filho pré-adolescente cantam (gritam) acompanhando uma canção durante uma viagem de carro que lhes faz lembrar quando ele era mais pequenito e pedia, quando ouvia a mãe cantar (gritar) esta canção também no carro, para pôr outra vez!
"Mãe, põe outra vez o "patchunou"!"(tradução à letra da parte em que a cantora canta: "But you know, but you know...")!
Esta é para ti, filhote! You know!

sexta-feira, junho 20, 2008

Mais um dia...

Sentados no banco do jardim a conversar, a desfiar opiniões, lamentos, saudades, revoltas e angústias, os velhos ocupam-se com a companhia dos outros que também são seus iguais em condição.
As árvores frondosas agitam-se na brisa da tarde e as palavras saem quase sempre com emoção. Os netos são tão inteligentes, os filhos trabalham muito e não têm tempo para estar com eles, o governo que não quer saber deles nem de ninguém e só quer poder, os interesses dos mais ricos que são sempre acautelados e os dos mais pobres que são esquecidos, o futebol que não alimenta a vida a ninguém mas que se alimenta de paixões, a corrupção que inunda a sociedade, a economia, o desporto, o passado...
Os rostos enrugados, as mãos calejadas, os cabelos brancos, os ossos que doem e não deixam andar depressa, a doença que ainda não matou, mas perpetua o tormento... São estes os velhos que animadamente conversam e entretêm a vida, jogam cartas, lêem jornais, falam do presente e do passado...
O passado surge sempre, ora lembrado com saudade e nostalgia, ora referido com olhos humedecidos pela tristeza. O filho que está no estrangeiro há tantos anos, a mulher que já morreu, as dificuldades dos tempos de juventude e início de casado, a profissão que levou o melhor de si, o lazer que não havia, o descanso que era pouco...
E agora?... Agora a reforma que mal chega para a comida e para os medicamentos...
E agora?... Agora o tempo que passa devagar, tão devagar que cada dia tem vinte e quatro pesadas horas e a dor da solidão e do abandono parece a condição para estar vivo.
Agora o Fonseca vai para casa. São já seis e meia e vai fazer a sopa. Não pode comer muito por isso a sopa faz parte de todas as refeições e à noite é só isso que lhe enche o estômago. Aprendeu a cozinhar sozinho, desenrascou-se, quando a mulher morreu com cancro, há muitos anos atrás. Agora, o Fonseca reza todas as noites pela mulher que já partiu e há dias em que fecha os olhos, quando já está deitado e esquece-se da idade, do tempo, da solidão e quase chega a sentir o cheiro dos cozinhados da sua Emília, a aletria (há quanto tempo não come aletria...) o calor do seu corpo a seu lado, a mão magra no seu braço, quando íam passear juntos ao Domingo à tarde...

Só adolescente...


Este corpo não é meu - cresceu absurdamente, modificou-se, transformou-se, não me deu tempo para o reconhecer. O espelho mostra-me todos os dias alguém diferente. A minha mãe farta-se de ralhar comigo, mas ela não sabe o que eu sinto. Como pode ela entender?...

Não, as calças brancas não me ficam bem, fico com um traseiro enorme. Não gosto de saias e depois? Aquelas que ela me comprou o ano passado estão fora de moda, já não se usam e eu agora não gosto de saias. Que tormento... E as blusinhas com flores? Nem pensar. Que teimosia a dela. Não adianta. Não vou para a escola com elas. Levo sempre as mesmas t-shirts, sim senhor. E depois? Não me deixa comprar mais. Diz que tenho muita roupa... Pois sim. Queria ver se fosse ela a ter que vestir aquela roupa ridícula e ser gozada pelas amigas. Sandalinhas, sapatinhos. Ridículo. Só gosto de sapatilhas, mas ela não entende... No tempo dela era diferente.

Tem que me dar espaço. Sempre a querer saber onde estou, com quem estou. Detesto que mexa nas minhas coisas. Começa logo a fazer perguntas... Tiro boas notas, só tive agora um deslize a Filosofia. Não gosto da matéria e a stora está sempre a enrolar, não explica nada. Só lemos textos e mais textos... Que seca...

E o João sempre a mandar mensagens. Não me deixa em paz. Já lhe disse que aqueles beijos foram um impulso do momento. Não gostei. Pensava que gostava dele, mas percebi que não. Gosto da companhia dele, de conversar com ele, mas não sinto atracção ou paixão. Custa-me dizer-lhe isto, mas tenho que ser sincera. Queria deixar passar a fase de testes para ele não ir abaixo, mas com tanta insistência, temos que falar mais cedo. Se calhar vou perder um amigo...

Que vida miserável... E ainda por cima o ipod caiu e avariou...

só...

Uma mesa do outro lado,
Um homem sentado a beber café
Um rosto fechado
Distante
O jornal que se fechou
Os olhos, por momentos,
Também...
Chega uma mulher
Muito arranjada, muito morena,
Muito segura...
Não se senta.
Deposita uma frase junto dele,
Coloca uma aliança na mesa...
Afasta-se...
Ele não fala.
Os olhos parados
As mãos no regaço.
Tudo parou à sua volta:
O vento, os carros, os pássaros, a gente...
Tudo parou...
Tudo suspenso
Como o seu respirar
Não viu nada a acontecer
Nada se passou há um minuto,
O relógio estava adiantado,
O tempo não contou
Não valeu.
Nada,
Nada aconteceu...



20 de Junho de 2008

sexta-feira, junho 06, 2008

Um pirata muito especial


Para quem tem o prazer de privar da minha companhia, sabe que eu sou uma mãe muito, mas mesmo muito babada.
Daquelas que até enjoam tal é a dose de babice!
Posso até acordar com os pés de fora, estar naqueles dias difíceis do mês, estar com umas trombas daquelas de fazer parar o comboio, mas se alguém me perguntar pelo meu Gonçalo desfaço-me toda…
Parafraseando o rapaz diria que é Magia!
Assim sendo, não poderia deixar de partilhar convosco aquilo que é para mim o fim de uma era e o início de uma nova e longa etapa na vida do meu pequeno rebento! E como é lógico, não iria perder a oportunidade de me babar mais uma vez!
Hoje foi dia de festa, uma festa muito especial pelo menos para mim.
A festa dos finalistas, com direito a queima das fitas e tudo!
O fim da escola dos pequenos, como ele diz, e a ida para a escola dos grandes.
Hoje em dia é-se finalista quando se deixa o infantário, quando se deixa a primária, quando se deixa a preparatória, quando se deixa a secundaria e sim, como no nosso tempo, quando se deixa a faculdade.
Tudo é motivo para festejar e se há coisa a que eu não falto é a festas!
Mais uma vez lá fui eu uma boa meia hora antes do início do evento, não porque tivesse muito ansiosa, mas porque tinha combinado com ele que estaria logo na primeira fila e que iria até com uma camisola cor-de-rosa.
Assim pensava eu, iria evitar os disparates e as figurinhas tristes dos anos anteriores que me punha literalmente aos gritos e a esbracejar na tentativa de ser reconhecida no meio da multidão.
Mas mais uma constatei que a velhice de facto nunca vem só, e mal ouvi “Olé, Olé Piratas é que é! ” percebi que a minha estrela estava a entrar em cena e pimba!
Vá de gritar, vá de o chamar, vá de esbracejar, vá de rir e sim, vá de ficar com os olhos repletos de lágrimas … Mais uma magia, claro!
Magia há muitas, mas garanto-vos que esta foi mesmo das fortes.
Daquelas que nos deixam com um nó na garganta, que nos fazem rir ao mesmo tempo que choramos, que nos eleva, nos arrebata, nos faz render, que dá uma força sem limites capaz de nos fazer galgar o mundo.
Para ti, meu pequeno grande finalista aqui fica expresso o desejo que tudo te corra pelo melhor nesta tua nova caminhada, afinal como sabes, és e sempre serás um Pirata muito especial!

quarta-feira, junho 04, 2008

Agora sim!

Para quem gosta de fazer brilharetes em reuniões ou puro e simplesmente manter uma conversa de encher chouriços, aqui fica este quadro fabuloso!
Agora sim, já ninguém me cala!


sábado, maio 24, 2008

Oficialmente a envelhecer...

foto de Graça Loureiro - internet

É certo que envelhecemos desde o dia em que nascemos. Mas quando é que envelhecer começa a ser algo oficial? Será quando surgem os primeiros cabelos brancos? Será que é quando os ossos começam a doer, adivinhando mudança de tempo? Será quando as linhas do rostos se tornam mais fundas e a pele vai perdendo firmeza? Será quando já não conseguimos correr como dantes atrás de uma criança sem perder o fôlego? Será quando olhamos os jovens à nossa volta e dizemos "No meu tempo não era nada disto..."? Será quando vemos uma mini-saia e dizemos "Isto não é para a minha idade..."
Eu não sei, mas parece-me que é quase tudo isto à mistura, uma coisa de cada vez, claro, mas todos os dias é uma coisa... A cintura alargou, o peito está menos firme, os olhos estão mais fundos, as rugas mais marcadas... Diabo, só a celulite não desapareceu!
Talvez esteja a atravessar uma petite crise pré-aniversário, para estar a pensar nestas coisas...
Raios partam os aniversários: só existem para nos lembrar que os anos estão sempre a passar e que a frescura da idade se está a transformar na sabedoria da maturidade! Vamos chamar-lhe antes maturidade, para tornar as coisas menos difíceis!...


imagem retirada da internet, autor desconhecido

sexta-feira, maio 23, 2008

Angels




I sit and wait
Does an angel contemplate my fate
And do they know
The places where we go
When we're grey and old
'cos I have been told
That salvation lets their wings unfold
So when I'm lying in my bed
Thoughts running through my head
And I feel the love is dead
I'm loving angels instead

And through it all she
offers me protection
A lot of love and affection
Whether I'm right or wrong
And down the waterfall
Wherever it may take me
I know that life won't break me
When I come to call she won't forsake me
I'm loving angels instead


When I'm feeling weak
And my pain walks down a one way street
I look above
And I know I'll always be
blessed with love
And as the feeling grows
She breathes flesh to my bones
And when love is dead
I'm loving angels instead

And through it all she
offers me protection
A lot of love and affection
Whether I'm right or wrong
And down the waterfall
Wherever it may take me
I know that life won't break me
When I come to call she won't forsake me
I'm loving angels instead

And through it all she
offers me protection
A lot of love and affection
Whether I'm right or wrong
And down the waterfall
Wherever it may take me
I know that life won't break me
When I come to call she won't forsake me
I'm loving angels instead



Uma aula desta semana, às 8.30 da manhã, começou assim:
- Hoje não vamos fazer nada. Faltam 3 aulas para acabar o ano.
- Nem trouxe caneta, nem caderno...
- É. Stora, hoje não vamos fazer nada. Acabaram-se as fichas.
- Estamos cansados.
9 alunos na turma. Eram 17, inicialmente, abrangidos pelo programa. Alguns nunca apareceram, outros foram trabalhar a meio do percurso. Turma PIEF (Plano de Integração, Educação e Formação). Turma de alunos problemáticos, oriundos de famílias com rendimento mínimo, famílias carenciadas, com problemas de álcool, prostituição, droga e maus tratos à mistura, abrangidos num projecto de prevenção de trabalho infantil e integração social.
- Hoje não vão fazer fichas. Vamos ter uma aula diferente, mas em Inglês, claro!
- Oh, já sei. Palavras cruzadas, sopa de letras... Não me apetece...
- Não é isso. Hoje só vamos ouvir música e entender a letra.
(Comigo não costumam regatear muito... Acabam por colaborar, desde que lhes diga que no fim jogamos um jogo. "Um jogo viciante: nomes, países, cidades, animais, marcas... A ver quem ganha!")

Fizeram três "listenings". A última era esta: "Angels"... A música começou.
A sala ficou em silêncio. Ouviram e tentaram escolher as palavras que faltavam das opções apresentadas. E a música, por alguma razão, pareceu acalmá-los... Verificamos as palavras e o exercício e fomos traduzindo a letra toda, para perceber a mensagem... Quiseram ouvir de novo e cantaram ao mesmo tempo na sua rude pronúncia, acompanhando com dificuldade algumas partes e, no fim, ficaram em silêncio. E pediram para ouvir outra vez e parece-me que dessa vez as vozes deles ouviram-se por todo o corredor do bloco E ( a turma só tem uma menina!)... E eu observava-os, cantarolando (gosto muito da música!) e pareceu-me que aqueles miúdos, por breves instantes estavam também a ser tocados por anjos!
- O Robbie Williams é fixe!- disse um...


Não será necessário dizer que nessa aula não houve tempo para fazer o tal jogo "viciante"!...

quarta-feira, maio 21, 2008

Ídolos, ou também não? Heróis, ou nem por isso?

Um tema actual: professores há muitos! E este mundo está carregado de maus e bons professores. Bom, talvez mais maus que bons, ou talvez mais assim-assim que bons e que maus!
É chegado o momento de deixar aqui a minha declaração de interesse: sou professora.
Após isto, posso falar à vontade!
Tive poucos bons professores e as coisas não devem ter mudado muito desde os meus tempos de estudante, já lá vão uns bons 15 anos. Referências para mim, não tive muitas. Talvez por isso tenha decidido ser diferente, mudar o mundo (santa ingenuidade)...
Decidi ser professora no 12º ano apenas, embora se notasse já antes uma forte inclinação para ensinar, para explicar aos colegas as coisas que eu entendia melhor.
Posso dizer, então, que decidi ser professora por vocação. Hoje arrependo-me. Por tudo. Pela frustração que esta carreira me tem trazido, pelas expectativas defraudadas, pelas medidas governativas dos últimos anos que visaram deteriorar a imagem dos professores e achincalhá-los publicamente, pela nova geração de alunos irresponsáveis e sem objectivos, pelo facilitismo que se instalou como consequência dessa desmotivação generalizada e pela ambição política em apresentar números, enfim, pelo desgaste que a educação em Portugal tem sofrido nos últimos tempos.
Ainda me lembro da alegria que sentia quando entrava na escola e no prazer que sentia quando acabava uma aula e percebia que os alunos tinham chegado mais longe através de mim, naquele dia! Ainda me lembro da saudade que sentia dos alunos durante as férias! Ainda recordo os sorrisos deles a comemorar a lição 100 com fotos, flores e bolos...
Hoje há desencanto na escola.
Hoje sinto a escola como um local de trabalho, um local burocrático e impessoal, um local onde há alunos que têm que passar ainda que nada saibam, onde os alunos vivem fechados dentro de salas de aula quer haja aula ou não, um local sem alegria.
E, de repente, sinto-me uma professora cinzentona, funcionária pública que tem que mostrar relatórios e mais relatórios, que quase não tem tempo para criar aulas diferentes e interessantes, para pesquisar, para inovar, uma professora igual a tantas outras que tive quando era aluna. Uma professora desmotivada e cansada.
Confronto-me com uma geração do prazer imediato, que não encontra qualquer motivação na escola, que encara qualquer actividade com fastio e indiferença... Confronto-me com uma crise de valores no dia-a-dia. Dizem os pais: "Já não sei o que lhe hei-de fazer... Não o/a posso matar com porrada. Já lhe tirei tudo, mas não muda, não quer saber..."
Quando uma mãe ou pai me diz isto, o que posso EU fazer?...
Parece-me que a sociedade está a atravessar uma enorme crise. Sinto que os professores estão no meio dela e, talvez, a sintam mais na pele que os outros. Eu, pelo menos, sinto-o.
Quando era estudante tinha objectivos, sabia que a educação seria o passaporte para uma vida melhor, para a minha realização pessoal. Hoje, nada falta aos jovens, não têm que lutar por nada. Foram os pais que lutaram por eles, daí a passividade, a letargia...
Salvam-se poucos desta corrente de pensamento e atitude. Para esses poucos que lutam contra a corrente, pelo menos, o professor ainda é um herói! Por esses é que ainda procuro forças e vontade para ser algum tipo de inspiração!...
"A teacher affects eternity; he can never tell where his influence stops." Henry Adams

quinta-feira, maio 15, 2008

Canela ou não? Eis a questão!


Ontem estive entretida a tentar dar-vos uma aula de etiqueta.
Pois bem, hoje quem precisa de uma aula sou eu! Não é de etiqueta, mas sim de culinária!
É que ontem ao jantar o meu franganote, o Gonçalo (com 5 anos), fez-me uma pergunta a qual eu não lhe soube responder.
Se alguém me puder ajudar fico grata!

Gonçalo - Oh mãe eu hoje comi uma sobremesa lá no colégio que estava mesmo boa!
Era um arroz doce, mas não tinha arroz.


Mimi - Se não tinha arroz não era um arroz doce…

Gonçalo - Ai não?? Então porque é que tinha canela, hein?

Mimi – (até hoje sem resposta!)

quarta-feira, maio 14, 2008

Uma aula de Etiqueta !



A minha profissão tem-me proporcionado ao longo dos tempos diversas aprendizagens.
Desse crescimento e dessas mesmas aprendizagens diria que a de maior relevância é de facto o contacto com pessoas.
Diversos projectos, varias áreas funcionais, vários clientes em diferentes pontos da cidade, com inúmeras pessoas.
Gosto desta profissão e desta dinâmica!
Trabalhando na área de informática como consultora, esta capacidade de mutação e de adaptação a novos ambientes é imperativa.
Com o passar do tempo fui ganhando ou refinando determinadas características, e hoje, posso afirmar que ao fim de pouco tempo de inserção num novo ambiente é-me fácil radiografar os outros e traçar de uma forma precisa as vicissitudes de cada um.
Gosto de passar de uma forma discreta, e assim sendo, aprendi a concentrar-me no que há de mais importante, dando menos ênfase as particularidades que menos me agradam.
Ao longo destes anos tenho feito verdadeiras amizades, guardo saudades e lembranças de alguns desses projectos...
Mas tenho de confessar que pela primeira vez estou a atravessar uma crise e na maior parte dos dias sinto-me como se estivesse num Big Brother.
Não por me sentir observada ou vigiada, mas sim, pelo facto de ser obrigada a conviver e partilhar o meu tempo com quem não tenho a menor afinidade.
Passo a explicar...
Nas horas do café, do almoço ou lanche deparo-me com conversas que eu chamaria de surreais e fúteis, tal é a distancia da orbita em que situam.
Deixo-vos com algumas partes dessas fantásticas conversas, na esperança que ao menos por ai alguém se consiga divertir:

- Despede-se a empregada doméstica porque ela não lava o chão de joelhos,
- Compram-se toalhas de plástico a 60 euros o metro quadrado,
- Metem-se os filhos em colégios onde eles são servidos ao almoço com um empregado de fato e gravata, com toalhinha de pano no braço,
- Não se comem camarões com as mãos porque isso é um nojo,
- Repreende-se quem diz "casa de banho das mulheres" porque o que é mesmo chique e de bem é dizer "casa de banho das senhoras",
- Casa de 300 mil euros é uma verdadeira pechincha,
- As mãos devem ser arranjadas pelo menos duas vezes por semana,
- Não se consegue comer peixe com talheres de carne,
- Laranja só é comestível se for descascada e cortada as rodelas, por causa do cheiro nas mãos,
- Se alguém espirra não se deve dizer saúde (não me perguntem porquê porque nesta fase eu já tinha desligado),
- Cães em casa só com Pedrigree ...rafeiros não dá,
- Uma menina só pode usar biquini a partir dos 8 anos, antes disso, só fato de banho,
- Não de deve limpar a cara em tolhas que não sejam brancas.

Bem, um dia ainda vou escrever um livro e fazer concorrência a Bobone com tanta etiqueta. Enquanto este dia não chegar, vou tentando passar o que apreendo aqui diariamente, que como podem verificar, é de uma importância absolutamente vital!
Se por ventura me encontrarem um dia destes a almoçar sozinha não estranhem.
É que há dias em que me falta a paciência para estas aulas de etiqueta...