domingo, setembro 21, 2008

poesia, mais uma vez!

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

E eu acreditava.

Acreditava,

porque ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.



Mas isso era no tempo dos segredos.

Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.

Era no tempo em que os meus olhos

eram os tais peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco, mas é verdade:

uns olhos como todos os outros.



Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor...,

já não se passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.



Não temos já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus



Eugénio de Andrade

(mais uma vez!...)

1 comentário:

Claudia disse...

Fenomenal esse poeta!!
É mesmo assim. Há um tempo em que todos os gestos são enormes e todas as palavras hinos de AMOR... mas depois chega também o tempo em que tudo fica gasto, demasiado gasto e já nem suportamos ouvir o ruido silencioso do respirar. É o ADEUS.