sexta-feira, junho 20, 2008

só...

Uma mesa do outro lado,
Um homem sentado a beber café
Um rosto fechado
Distante
O jornal que se fechou
Os olhos, por momentos,
Também...
Chega uma mulher
Muito arranjada, muito morena,
Muito segura...
Não se senta.
Deposita uma frase junto dele,
Coloca uma aliança na mesa...
Afasta-se...
Ele não fala.
Os olhos parados
As mãos no regaço.
Tudo parou à sua volta:
O vento, os carros, os pássaros, a gente...
Tudo parou...
Tudo suspenso
Como o seu respirar
Não viu nada a acontecer
Nada se passou há um minuto,
O relógio estava adiantado,
O tempo não contou
Não valeu.
Nada,
Nada aconteceu...



20 de Junho de 2008

3 comentários:

Claudia disse...

Como seria fácil se fosse apenas necessário isso... deixar um recado agarrado a um simbolo. Quase sempre é preciso mais barulho do que isso para mostrarmos ou apenas dizermos que isso não valeu.

Gostei imenso da ideia do relógio que estava adiantado... isso é que seria fantástico ter esse tempo para poder dizer... Nada aconteceu.

Anónimo disse...

Este teu poema deixa subjacente (pelo menos para mim) algo muito real. Acho que na maior parte dos relacionamentos que acabam, a ruptura vem de um dos lados.
Raros serão os casais em que os dois dão por terminada a relação, pelo menos com o mesmo Timing.
Para quem já nada sente é uma libertação … para quem ainda gosta é o desabar de tudo num só instante.
Gostei muito deste teu poema!!
Não poderia deixar de te elogiar pela forma eximia como te expressas através da escrita.
Adorei a “Filha do Nada” ;o) Parabéns ! Fico a espera do próximo!! :o))
Beijinhos

Anónimo disse...

Mimi, de facto, essa é a matéria de que se alimenta o conflito entre duas pessoas que acabam por se separar... Um tem sempre um percurso mais difícil do que o outro pela frente... Dava muito jeito o relógio estar adiantado, em algumas situações...

Obrigada pelo comentário carinhoso!