quarta-feira, maio 21, 2008

Ídolos, ou também não? Heróis, ou nem por isso?

Um tema actual: professores há muitos! E este mundo está carregado de maus e bons professores. Bom, talvez mais maus que bons, ou talvez mais assim-assim que bons e que maus!
É chegado o momento de deixar aqui a minha declaração de interesse: sou professora.
Após isto, posso falar à vontade!
Tive poucos bons professores e as coisas não devem ter mudado muito desde os meus tempos de estudante, já lá vão uns bons 15 anos. Referências para mim, não tive muitas. Talvez por isso tenha decidido ser diferente, mudar o mundo (santa ingenuidade)...
Decidi ser professora no 12º ano apenas, embora se notasse já antes uma forte inclinação para ensinar, para explicar aos colegas as coisas que eu entendia melhor.
Posso dizer, então, que decidi ser professora por vocação. Hoje arrependo-me. Por tudo. Pela frustração que esta carreira me tem trazido, pelas expectativas defraudadas, pelas medidas governativas dos últimos anos que visaram deteriorar a imagem dos professores e achincalhá-los publicamente, pela nova geração de alunos irresponsáveis e sem objectivos, pelo facilitismo que se instalou como consequência dessa desmotivação generalizada e pela ambição política em apresentar números, enfim, pelo desgaste que a educação em Portugal tem sofrido nos últimos tempos.
Ainda me lembro da alegria que sentia quando entrava na escola e no prazer que sentia quando acabava uma aula e percebia que os alunos tinham chegado mais longe através de mim, naquele dia! Ainda me lembro da saudade que sentia dos alunos durante as férias! Ainda recordo os sorrisos deles a comemorar a lição 100 com fotos, flores e bolos...
Hoje há desencanto na escola.
Hoje sinto a escola como um local de trabalho, um local burocrático e impessoal, um local onde há alunos que têm que passar ainda que nada saibam, onde os alunos vivem fechados dentro de salas de aula quer haja aula ou não, um local sem alegria.
E, de repente, sinto-me uma professora cinzentona, funcionária pública que tem que mostrar relatórios e mais relatórios, que quase não tem tempo para criar aulas diferentes e interessantes, para pesquisar, para inovar, uma professora igual a tantas outras que tive quando era aluna. Uma professora desmotivada e cansada.
Confronto-me com uma geração do prazer imediato, que não encontra qualquer motivação na escola, que encara qualquer actividade com fastio e indiferença... Confronto-me com uma crise de valores no dia-a-dia. Dizem os pais: "Já não sei o que lhe hei-de fazer... Não o/a posso matar com porrada. Já lhe tirei tudo, mas não muda, não quer saber..."
Quando uma mãe ou pai me diz isto, o que posso EU fazer?...
Parece-me que a sociedade está a atravessar uma enorme crise. Sinto que os professores estão no meio dela e, talvez, a sintam mais na pele que os outros. Eu, pelo menos, sinto-o.
Quando era estudante tinha objectivos, sabia que a educação seria o passaporte para uma vida melhor, para a minha realização pessoal. Hoje, nada falta aos jovens, não têm que lutar por nada. Foram os pais que lutaram por eles, daí a passividade, a letargia...
Salvam-se poucos desta corrente de pensamento e atitude. Para esses poucos que lutam contra a corrente, pelo menos, o professor ainda é um herói! Por esses é que ainda procuro forças e vontade para ser algum tipo de inspiração!...
"A teacher affects eternity; he can never tell where his influence stops." Henry Adams

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito se tem falado ultimamente do descontentamento dos professores e das medidas tomadas pelo governo no que diz respeito a reforma educativa.
Parece-me de facto que muita coisa esta incorrecta, tanto da parte dos primeiros como dos segundos.
É para mim impensável não só a autoridade que se tem vindo a tirar aos professores nos últimos anos, como a falta de condições que muitas escolas apresentam onde muitas vezes nem papel há para tirar uma cópia.
É nas alturas em que oiço o relato de alguns professores que me convenço que de facto Portugal é decidamente um país do terceiro mundo.
Não me parece razoável (para não lhe chamar outra coisa!) que um aluno sem aproveitamento possa passar ano após ano sem adquirir os conhecimentos mínimos, sem fazer nenhum esforço. Claro está que por detrás destas brilhantes ideias, contam apenas as estatísticas visíveis na comunidade europeia. Isso sim, faz um brilharete!
No entanto, estando eu de fora e como se costuma dizer “Só quem anda no convento é que sabe o que lá vai dentro”, parece-me e se calhar erradamente que as crianças de hoje não serão muito diferentes das crianças de ontem.
Olhando para trás, para aluna que fui e para as turmas que frequentei não me parece que fossemos muito motivados … Havia disciplinas em que o professor marcava de facto a diferença e conseguia captar a nossa atenção, mas noutras sinceramente nem uma frase se ouvia tal era o burburinho na sala. Mas lá está, o professor tinha autoridade e era obviamente respeitado. Não me lembro de ouvir os casos de professores agredidos que se ouvem hoje em dia ….
Quanto a expectativas criadas em torno de cada profissão, acho que todos de uma forma ou de outra saímos defraudados ;o)
Beijinhos

Anónimo disse...

Mas haverá alguém que teve um professor que foi uma referência para si? Que experiências existem? Foram todos mediocres? Nenhum se destacou?