sexta-feira, julho 27, 2012

sabedoria


Há cerca de quase dez anos atrás conversávamos sobre o sentido da vida. Fazíamos isso muitas vezes. Tu, numa febre de procura interior e de aparente serenidade exterior, deste-me uma lição que só há pouco tempo comecei a entender. É verdade, demorei quase dez anos a perceber o alcance do que disseste naquele dia. Por alguma razão, essas palavras permaneceram na minha memória, ou porque me chocaram e confundiram, ou porque ainda não era o tempo para mim, ainda não era o dia de eu as entender.
“Qual é o teu objectivo na vida?”, perguntei, a dada altura da nossa acalorada conversa, uma conversa em que eu contestava mal disfarçadamente a tua passividade, referindo-me aos projectos de trabalho e pessoais, matérias que assaltam o espírito de qualquer adulto na faixa etária dos 30. Nessa altura, eu queria mostrar-te que não podemos ficar parados, acomodados com o que temos, que devemos lutar por conseguir mais, ter mais do que, por exemplo, os nossos pais conseguiram, chegar mais longe, subir mais alto.
Fizeste uma pausa, pensaste por um momento e, para minha perplexidade, respondeste muito sério: “Ser sábio.”
Lembro-me que olhei para ti incrédula e creio que soltei uma gargalhada. Não esperava essa resposta, como é óbvio. Esperava que me falasses dos teus planos de carreira, das tuas ambições profissionais, que me falasses dos teus desejos íntimos de ter uma família, filhos ou, em vez disso, do teu desejo de aventura, de viajar e conhecer o mundo. Mas não. O que me dizias tinha a ver com uma outra coisa que não me tinha ocorrido então: falavas de espiritualidade e de auto-conhecimento. Esse assunto, para mim nessa altura, era totalmente desconhecido.
Dou comigo, vários anos depois, a recordar essa conversa e muitas outras tão ou mais interessantes que esta e sinto que caminho uma década atrás de ti (ou mais que uma vida atrás de ti!), que percebo a existência agora muito à luz do que me ensinaste, que vejo através dos teus olhos a luz do mundo interior, da paz interior, da serenidade que vem de estar bem consigo próprio, de vivermos felizes com o silêncio, com os livros, com a música, com o escutar do nosso próprio coração a bater livre e solto na escuridão da noite ou à primeira luz da manhã. Lembro-me que não tinhas horários, que dormias e comias quando sentias que precisavas. Na altura, isso era incompreensível para mim. Era como se fosses um selvagem civilizado… Trabalhavas sem horário, sem chefe e sem objectivos. Hoje entendo que essa era a tua magnífica forma de ser livre e feliz.
Anos mais tarde, procurei aquilo que já tinhas encontrado muito mais cedo do que eu e, nesse caminho de procura, li em livros o que me dizias e o que, afinal, vivias. Compreendi que o meu objectivo na vida é…vivê-la com sabedoria! Mas isto já tu sabias há séculos!

(Que saudades das nossas conversas...!)

terça-feira, julho 24, 2012

sábado, julho 21, 2012

Porque gritamos?

Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:
 "Porque é que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?"
 "Gritamos porque perdemos a calma", disse um deles.
 "Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado?" Questionou
novamente o pensador.
"Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça", retrucou outro
discípulo.
 E o mestre volta a perguntar:
"Então não é possível falar-lhe em voz baixa?" Várias outras respostas surgiram,
mas nenhuma convenceu o pensador.
 Então ele esclareceu:
 "Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?"
O facto é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito.
Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais
aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da
grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão apaixonadas? Elas
não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque os seus corações estão muito perto. A
distância entre elas é pequena. Às vezes os seus corações estão tão próximos, que nem falam,
somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer de sussurrar,
apenas se olham, e basta. Os seus corações entendem-se. É isso que acontece quando duas
pessoas que se amam estão próximas."
 Por fim, o pensador conclui, disse:
 "Quando vocês discutirem, não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras
que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais
encontrarão o caminho de volta".

Mahatma Gandhi

segunda-feira, julho 16, 2012

Tu Ensinaste-me a Fazer uma Casa

   

"Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.

Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.

E vejo teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome."

Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'

terça-feira, julho 03, 2012