quinta-feira, agosto 12, 2010

quando o mar era azul, como o futuro...



Eram as férias de Verão e acordávamos cedo, demasiado cedo para a época do ano... Só uma coisa nos fazia acordar antes do meio-dia, nas férias, em pleno Agosto: a praia!
Garotas adolescentes, muito responsáveis já, estávamos um dia inteiro fora de casa, por nossa conta, sem pais por perto... E às 8h da manhã, lá nos encontrávamos, na paragem da camioneta... Esta levava pessoas para a praia, desde a aldeia em que vivíamos até Leça. Agora é uma vila, naquele tempo ainda era aldeia, e Leça ficava muito longe... Quase uma hora de caminho... Regressavamos às 18h. Era um dia passado à beira-mar, livremente, sem restrições nem regras, excepto as que guardávamos na nossa cabeça e cumpríamos escrupulosamente. O protector de vez em quando, a bandeira vermelha, as horas depois de comer sem ir à água e pouco mais...
Ao lembrar agora aqueles dias, nem posso acreditar que não saía da água gelada todo o dia. Fazia apenas um intervalo para comer e cumprir as três horas da digestão, para logo a seguir entrar nas águas gélidas do Atlântico e lá ficar a mergulhar até os lábios se tornarem roxos e deixar de sentir as mãos e os pés, com a pele enrugada e branca. O mar do Norte continua assim, gelado, todo o ano. Naquela altura, a água não me parecia tão fria, excepto ao entrar.
E fazíamos amigos, e conversávamos e ríamos e jogávamos às cartas e voltávamos para casa, tendo gasto apenas 20 escudos num gelado, não todos os dias, só às vezes. Era um tempo em que uma criança era feliz com um gelado...
Nesse tempo longínquo das minhas memórias, lembro que me sentia feliz nesses dias de Verão e quando a minha cabeça voava para longe, normalmente na viagem de regresso, sentada nos assentos gastos da camioneta velha da empresa onde o meu pai trabalhava (por isso não pagávamos bilhete e só por isso podíamos ir todos os dias), a minha cabeça levava-me para um futuro muito azul, muito mais feliz, muito cheio de tudo e cheio de alegrias. O meu pensamento, que já naquela altura não conseguia ser domado, levava-me para praias exóticas, com gente muito bonita e rica, com cocktails a serem servidos a gosto, com areias brancas e extensas, com palmeiras e mares muito azuis de águas quentes...
Nesse tempo, nesses dias em que eu era feliz só por olhar o futuro com um mar mais azul do que este onde estou hoje, eu pensava a vida com cores que o pintor da criação talvez ainda não tivesse na sua paleta.
Por isso, hoje, nesta praia de enorme areal e neste mar de águas mornas eu recordo o Verão da minha adolescência e dá-me vontade de dizer àquela menina de então que continue a sonhar, que continue assim, ingénua, a pensar o futuro com um mar muito azul e com cores ainda por descobrir...

2 comentários:

Beatriz disse...

Adorei!
Beijinhos grandes!:)

António disse...

É tão bom sonhar. É tão bom sentir e pensar que ainda há coisas por descobrir...que piada tinha se fosse de outra forma? Se não houvesse sonhos, se nada houvesse por descobrir...
Oh god. Surpreendes-me post atrás de post.
Beijinho grande "para ti".