quinta-feira, setembro 09, 2010

Doce de tomate



Recordo-me de em criança, e mais ou menos por esta altura do ano, fazer doce de tomate,em casa dos meus pais.
Os tomates eram do quintal do pai e eram apanhados bem madurinhos, para o doce ficar mais saboroso.
Como eu já em criança adorava cozinhar, corria sempre para a cozinha e ficava a tarde toda junto da minha mãe naquele ritual que estava em torno da preparação de um simples doce de tomate.
Iamos buscar o tomate ao quintal, que tinha sido previamente apanhado pelo meu pai e posto a secar ao sol, ou a enxugar, como ele dizia!
Depois lá iamos as duas escada acima com um cesto grande e bem cheio de tomate.
Seguia-se o tirar das peles, das grainhas e o cortar em pedaços mais pequenos.
A medida era sempre a mesma, um quilo de açucar para cada quilo de tomate.
Era uma tarde inteira, a mexer e a voltar a mexer o doce que estava na enorme panela de alumínio.
No início sentia-se só o cheiro do tomate crú, mas com o passar das horas este cheiro era substituído por um cheiro a caramelo que indiciava o fim da preparação do nosso doce.
Dali saiam muitos frascos, que na sua maioria eram oferecidos a vizinhas, familiares e amigos.
Com o passar dos anos e com a minha saída de casa dos meus pais, deixei de fazer doce de tomate.
Em contrapartida todos os anos, e sempre por esta altura, recebia doce feito pela minha mãe, que continuava a cumprir o ritual do doce de tomate.
Em troca dava-lhe doce de figo que, nestes últimos anos, aprendi a fazer com minha amiga Carla.
"Ai filha, esse doce eu não consigo fazer" - dizia-me a minha mãe com o seu sorriso envergonhado.
E eu inconscientemente e de uma forma quase mecânica, respondia-lhe que não fazia mal porque eu fazia para nós as duas.
Estava enraizada esta troca e estou certa que nenhuma de nós as duas, se apercebeu disto.
Apercebi-me desde enraizamento, quando ele deixou de existir.
Quando estas raízes e estas pequenas rotinas que nós uniam foram quebradas. Quando senti que por esta altura do ano e ao contrário de todos os anos anteriores, não haveria doce de tomate...
E hoje, porque senti a falta do cheiro do tomate, do cheiro do caramelo, mas principalmente do seu cheiro, resolvi fechar-me na cozinha e fazer o "nosso" doce de tomate.
Aquele que eu fazia com a minha mãe quando era pequenita!
E porque o Gonçalo esteve a ajudar-me na sua confecção, fui-lhe contando emocionada tudo aquilo que acabei por escrever aqui.
Sorrimos os dois e lembramos-nos dela assim, como sempre foi, alegre, meiga, enérgica e tão doce como o doce de tomate que tinhamos acabado de fazer...

3 comentários:

Anónimo disse...

e o ciclo da vida mantém-se e continua... A tua mãe ensinou a ti, tu ensinas ao Gonçalo para que a doçura do amor não acabe, para que cada momento doce seja para sempre lembrado!

beijinhos para vocês!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Claudia disse...

Como nos poderiamos esquecer de quem está no nosso coração? Cada coisa em cada dia está preenchida com gestos e memórias de quem amamos...Hoje foi o doce e amanhã será outra coisa qualquer. Há almas que estão sempre juntas!
Beijinhos