domingo, maio 15, 2011

a linha que nos separa


Passo a correr pela tua casa, não paro, não olho, não quero saber se estás. Corria o risco de te querer ver a sorrir para as nossas memórias e então perderia a força nas pernas da vida. Não quero. Tenho de seguir em frente em direcção ao meu lugar predilecto, aquele onde estou sozinha, encostada à beira-mar de mim, sentada na rocha do meu coração, a ler um bom livro de recordações incrustadas numa música de verão amarelo e intenso.
Releio as linhas do poema que fizeram o nosso último encontro e sublinho a linha que diz “tu e eu”. E separa-nos essa linha. E eu percebo o quanto tenho de caminhar sozinha, percebo o trilho que tenho de fazer pela floresta luxuriante da aridez.
E em casa penteio o cabelo. Em frente ao espelho apreendo a mensagem novamente, lavo o rosto e olho o meu reflexo e há uma nova linha que leio nos meus olhos: uma linha que diz luares e estrelas numa noite de verão em que falaste para fora e eu senti por dentro. Não foi verdade o que disseste. Não aconteceu, como prometeste. E por isso, agora, passo a correr pela tua casa para não me deter no entardecer do vazio.

2 comentários:

Claudia disse...

Por uma linha apenas... são essas pequenas distâncias que nos desviam para sempre de alguns caminhos.
Só o tempo nos esclarecerá (ou talvez não) do porquê dessa viragem de rumo, desse deixar passar ao lado.
Fica a memória do que merece ser guardado.
Linda a tua partilha.

Mimi disse...

A linha que por vezes separa é ténue mas suficientemente clara para separar dois horizontes opostos.
Gostei muito!

Beijinhos