sábado, outubro 20, 2007

O tempo que sobra...

Estes dias são intermináveis... O tempo parece governado pela preguiça e as horas demoram-se na linha exterior do relógio de parede... Curioso... Sentir que tenho tanto tempo agora, quando já tanto tempo passou e tenho menos dias para viver do que antes... Só sei falar do passado, de quando era novo, do que fiz, das aventuras que tive, das lições que aprendi. Só falo do meu mundo, aquele que vi pelos meus olhos. E sinto que não sei nada... Não compreendo o mundo de hoje. Tanta tecnologia, tantos botões, tantos comandos, tanta matéria para aprender...
("Porque andas com tantos livros, rapaz? Essa mochila pesa toneladas! Como é que vais aprender isso tudo? Os cachopos de hoje conseguem meter tantos livros na cabeça?")
("Não, pai. Os meninos de hoje não sabem mais do que os de antigamente. Só sabem é outras coisas. E são mais apaparicados e recebem mais cuidados e têm, talvez, mais mimo. Mas as mochilas vão pesadas para a escola e, muitas vezes, as cabeças vêm vazias.")
Estas horas são longas. Aqui sentado neste sofá, com a manta nas pernas, a olhar o sol a pôr-se no horizonte, parece-me que nunca tive tanto tempo como agora. Nunca vi tanta televisão, tantas notícias... O país está cada vez pior... Mas não tenho que me preocupar com isso agora. Já fiz a minha parte. As couves no campo a estragarem-se. Os feijões a secarem. Tenho que lá ir. Não é preciso ser hoje. Ainda tenho muito tempo. Andam todos a correr, a queixarem-se de falta de tempo e a mim, a mim o tempo sobra-me...

1 comentário:

Claudia disse...

Esta infinita dualidade...
É o tempo que a uns falta e a outros sobra...
É o amor que uns recebem de forma tão gratuita e não o sabem acolher e outros que sem qualquer carinho são os seres mais afáveis...
São os momentos de felicidade plena e os momentos seguintes de tristeza profunda...
Afinal o que fica em nós?
Apenas e só aquilo que somos. Se somos alegria esta instala-se por todo o lado; se somos tempo para os outros estamos sempre rodeados mas o mais importante é sabermos cuidar do nosso coração para que este não necessite tanto de amado...