segunda-feira, abril 21, 2008

Humanidade ou moda ?

Numa das minhas muitas idas ao supermercado e enquanto aguardava pacientemente pela minha vez na caixa, olhei para o lado e vi uma bancada cheia de revistas, as tais chamadas revistas cor-de-rosa.
Numa das capas, saltou-me a atenção um dos títulos que dizia mais coisa menos coisa " Sofia Alves vai adoptar uma criança".
Olha mais uma, pensei eu.
Sim porque nos tempos que correm já são mil e uma celebridades que adoptam crianças.
Ele é o Bradd Pitt e a Angelina, Madonna, Sheryl Crow, George Lucas (realizador da guerra das estrelas), Tom Cruise e Nicole Kidman e até a conhecida Ágata foi buscar uma criança brasileira de 8 anos na costa da Caparica!
Perdoem-me se estiver errada, mas diria eu que é mais uma moda, isto para não lhe chamar um capricho ou pior ainda, uma forma de promoção.
Confesso que este tema nunca me suscitou qualquer dúvida e sempre achei uma atitude nobre o acto de adoptar crianças que por contingências da vida não puderam crescer no seu seio familiar.
Acontece que um dia destes fui tomar café com varias colegas de trabalho e uma delas, mãe de 3 filhos, comentou casualmente que ela e o marido pretendiam adoptar uma criança.
Ao contrario das demais, fiquei um pouco a modos que baralhada e numa tentativa de perceber este novo fenómeno social, questionei-a sobre o que a levava a ela, mãe de 3 filhos e com uma vida atarefada, a querer adoptar uma criança.
A resposta foi muito simples, rápida e directa: “para dar um exemplo de humanidade aos meus filhos”.
Bem, depois da resposta fiquei ainda mais confusa e baralhada que no inicio da mesma.
Um exemplo de humanidade, mas que bem!
Estava a espera de muitas respostas do tipo:
- Temos vontade de ajudar e criar uma criança sem possibilidades, dar-lhe um lar e uma boa educação;
- Que os laços de pai e mãe vão muito para além do biológico, e cingem-se tão somente na capacidade de dar e receber amor;
Mas não, os motivos não eram de todo esses.
Como sofro de um defeito terrível chamado pensamento excessivo, não consegui terminar a conversa por ali e voltei de novo a carga.
Comecei por lhe dizer que a vida nem sempre era linear e nem sempre as palavras são suficientes para se alcançar o âmago das experiências.
Que para mim a adopção era concebida para dar uma família a uma criança, e não para dar uma criança a uma família.
Adopção não é, ou melhor não deveria ser um acto de humanidade ou de caridade.
Não se pode ser mãe ou pai por humanidade, é preciso muito mais.
Que achava mais que compreensível que casais sem filhos adoptassem crianças mas quando se tratava de casais com filhos, como era o caso, outras questões se impunham.
Seria capaz numa situação de crise de ser totalmente imparcial perante um dos filhos legítimos e o adoptivo? Amaria incondicionalmente esse filho adoptivo como os seus próprios filhos?
Não me soube responder a tais questões até porque segundo me disse nunca tinha reflectido sobre elas…
Eu quanto a mim falo, teria a capacidade para criar a amar uma criança mas nunca conseguiria iguala-la ao que sinto pelo meu filho. Assim sendo, não tenho condições para adoptar quem quer que seja…
Tenho uma parte mas falta-me o todo.
Num outro contexto diria que são Dualidades, dualidades de opiniões … por aqui resta-me dizer, que enfim …
Acontece!

8 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do que li...efectivamente também aqui o homem toma por vezes decisões de forma leviana e pouco justificada.

No entanto aproveito para partilhar a revolta que sinto relativamente ao processo de adopção em Portugal. É vergonhosa a burocracia, a demora (para quem reúne as condições fisícas e emotivas mto bem descritas no post) de adoptar uma criança no nosso País.

cpts

Anónimo disse...

Egoismo ou não da minha parte, mas creio que a adopção é algo que nunca ponderaria fazer desde que conseguisse ter os meus próprios filhos biológicos.

Não conseguindo isso, por qualquer problema, aí talvez ponderasse a hipótese da adopção.

Beijo.

Alexandre disse...

... se por um mero acaso houvesse uma troca à nascença e recebessemos nos braços um outro bebé seria amado de forma diferente? A interacção cria os laços... Com quem será mais feliz a Esmeralda?

Anónimo disse...

Alexandre,
A questão que se coloca não é o amor que se pode dar ou não a uma criança.
É sim, até que ponto se conseguiria tratar da mesma forma, com o mesmo amor que um filho legitimo.
Eu confesso que não iria conseguir.
O caso da pequena Esmeralda é o que eu chamo uma aberração! É no mínimo desumano retirarem aquela criança daqueles que sempre foram os seus pais adoptivos.

Anónimo disse...

Humanidade ou moda?
A questão é pertinente. É sempre um gesto de humanidade e de grande abnegação adoptar uma criança. Para mim é um acto de amor elevadíssimo. Para mim seria uma entrega como a que faço todos os dias ao meu filho. Amaria de igual forma? Não sei. Nem sequer imagino. Creio que o coração humano é capaz de tudo, até de amar o que não é carne da sua carne. O meu filho, amo com um amor infinito. Por vezes dizia, quando pensava ter mais filhos, que afinal não queria outro, porque amava tanto este que achava que não conseguiria amar com a mesma intensidade o segundo que tivesse. Poderia estar a ser ingénua, ou então era o encantamento natural de enfrentar o milagre de ter sido mãe! Por isso não sei, se adoptasse um filho tendo já um, que tipo de amor seria: mais ou menos intenso. O que sei é que adoptar um filho é sempre um acto de uma humanidade incomensurável e grandiosa. Dar um colo a quem nada tem, dar pão, aconchego, educação, formação, um caminho na vida é sempre um grande gesto de humanidade (ainda que também possa ser uma moda, para as celebridades. Contudo, até essas demonstram ter coração se o fazem com amor. E merecem o nosso aplauso por não pensarem só no seu próprio bem estar e nas futilidades desse tipo de vida)...

Anónimo disse...

Ah, já agora, eu não me importava nada de ser adoptada pelo Brad Pitt! :)

(Esta foi só para desanuviar, porque a questão de crianças sem lar, nem mãe, nem pai, nem amor, mata-me o coração...)

Claudia disse...

Muito curioso... eu sempre disse que queria adoptar uma crian�a. Que se a vida não me contemplasse com um filho biológico adoptaria sem dúvida uma ou mais crianças. Ainda hoje penso assim, no entanto também me choca que existam pessoas que o fazem ou pensam fazer sem antes fazerem uma reflexão profunda sobre isso mesmo. Choca-me que o façam de uma forma leviana mas também me choca que muitos pais biológicos o sejam da igual forma...
Amar?... julgo que seria igual modo o amor que tenho pelo meu tesouro. Ainda acredito que se um dia tiver condiçes para o fazer não hesitarei. Mas esse gesto não será para provar nada a ninguém mas apenas porque sei que essa(s) criança(s) será(ão) amada(s) por mim e eu por ela(s).

Grande Mimi... a surpreender-nos com questões que mexem bem cá no fundo das nossas convicções! Beijinhos.

Alexandre disse...

Em primeiro lugar, o filho não é nosso, é parte de nós... É parte de nós no amor, nos valores, na educação. A genética tem uma infima parte nesta relação, a chave é o amor incondicional.
Entendo o que sentes mas não podes fazer tal afirmação, pois só quando sentimos na pele é que sabemos como reagiriamos. À cerca de quatro anos pensava como tu, no entanto existem luzes que mudam a nossa vida, que aprendemos a amar incondicionalmente, um "pequeno herói" que me lê como ninguém, que me sente como ninguém. Apenas podemos sentir vivendo. Pelo que me falam de ti, sinto que celebrarias com a mesma intensidade cada momento feliz, que abraçarias com a mesma força cada tristeza... Os corações grandes são assim. Sentem... Vivem