sábado, junho 26, 2010

Os rebuçados da Avó



A Avó faz o almoço e chama todos para lá irem. Todos não, telefona às filhas (" E tragam os meninos! Fiz canja para o Afonso"). O filho ainda lá vive, não é preciso chamar... A Avó anda sempre acelerada, de um lado para o outro a ver se todos comem, se todos têm arroz ou um pedaço de lombo, ou salada, ou se falta pão, ou se o copo está cheio. Sempre acelerada. Tem artrozes nos ossos quase todos, mas anda sempre cheia de pressa, sempre atarefada. Quase não se senta e quando o faz levanta-se a custo. As articulações estão presas, as dores estão instaladas. Mas nem por isso abranda. E sai a sopa e sai o arroz e o assado e logo a seguir a sobremesa. Tem o hábito de descascar a fruta, porque a filha mais nova não come se não for assim (a filha mais nova é a mãe do Afonso que já passou dos 35 mas continua preguiçosa para comer, tal como o filho). A mais velha não precisa que descasque a fruta. Sempre comeu bem a fruta e os legumes. A mais nova não, essa consumiu-lhe sempre a cabeça com as esquisitices para comer. O Afonso também é assim, por isso, em casa da Avó quase só come canja. A canja da Avó é diferente, é melhor que as outras. Eu também acho que a canja é melhor e a sopa também. E o assado tem um sabor especial, porque a Avó deixa o assado cozinhar devagarinho e os sabores misturam-se e fica tudo mais apurado... A Avó não gosta de carne, por isso muitas vezes come sopa, legumes, arroz, batatas e ri-se, porque nem sempre lhe apetece peixe e nós rimo-nos, porque ela está sempre a dizer "Tira mais carne, está tenrinha, olha, olha como está boa!". Ela que nem a provou sabe que a carne está boa. E está mesmo! E para o Edgar é o frango, o peito, que o rapaz só gosta de carne branquinha e sem ossos...
"Avó, onde estão os rebuçados?", pergunta ele. Há uma lata dentro do velho armário que tem sempre guloseimas. O neto mais velho sabe. A Avó tem sempre rebuçados. E no final do almoço a lata aparece e de lá de dentro rebuçados de mil cores surgem nas mãos da avó que os espalha na mesa, com um sorriso no rosto! E antes de ir embora, enche os bolsos ao neto com mais alguns para o caminho! "Só em casa da Avó é que há rebuçados destes!"

3 comentários:

António disse...

As avós são mágicas.
Mães duas vezes com sabedoria e experiência de vida inimagináveis! Apenas tenho uma avó, pelo que aproveito-a ao máximo. Ouço-a imenso -vale a pena. Tem 92 anos e é uma querida. Gosto muito dela também... pois!
Beijos

Mimi disse...

A avó do Gonçalo também era assim…

A avó do Gonçalo estava sempre de avental e também andava sempre em pé e sempre atarefada.

Na casa da avó do Gonçalo, havia sempre como entrada,camarões grelhados e vinho branco para a filha (eu mesma!!!).

A salada era mais complicado! Nunca se misturava tomate com a alface ou o pepino, porque o Jorge não gosta. A cebola também não pode ser misturada porque o pai não gosta. De modo que a frente do lugar do Jorge havia sempre um partinho com cebola picada :o)

Já para mim, nada como vinagre balsámico … lá estava ele perto do meu lugar, assim como meio limão para regar os camarões :o)

O pai não gosta de vinho fresco, então temos o vinho natural e 2 (sim sempre 2) pedrinhas de gelo no seu copo.

Para o neto havia mais requinte, ele era o copinho, daqueles do licor com pé alto, ele era a lata da 7UP , ele era a comida a boca, e no fim … no fim havia sempre a caixa de Ferrero Rocher em cima da máquina de lavar :o)

Saudades … Muitas …

Beijinhos grandes!

Claudia disse...

A avó tem sim os melhores rebuçados... Almoçar ou jantar lá significa que não vou conseguir passar prato nenhum, pois mesmo que não queira mais fruta ela aparece na minha frente e agora com o pirralho a ver o exemplo não posso falhar. Quase que não me consigo mexer no fim de cada refeição. Aquela avó é mesmo assim!! Chega a ser caricato: eu atrás do Afonso e ela atrás de mim para garantir que como mesmo :)
Beijinho enorme à minha querida Mãe.