quinta-feira, dezembro 16, 2010

conto de Natal - epílogo



No dia de Natal, todos dormiram um pouco mais. Tudo passa, até a noite de Natal. A noite, afinal, fora curta.
Jantaram tarde. A mãe estava cansada, mas fez as batatas cozidas com o bacalhau. E havia bolo-rei e rabanadas e formigos. Os pais zangaram-se, como de costume, e depois da meia-noite as filhas receberam uma camisola rosa bebé, em algodão, que usariam quando fossem à missa. As camisolas eram iguais, mas de tamanhos diferentes. Lisas, da mesma cor e iguais. A mãe comprava muitas vezes roupa assim. Igual para as duas. Os pais não recebiam presentes. Por isso, o ritual de rasgar embrulhos era rápido. O pai saiu, a mãe foi dormir e as filhas viram um pouco de televisão no único canal que existia na altura. E havia um aperto no coração, uma esperança frustrada de que a imaginação não tivesse falhado tanto.
Cada um no seu mundo, viveu um Natal diferente. O do pai teria sido mais animado, o da mãe bem mais triste, o da irmã mais nova intenso, gravando cada segundo na memória para nada esquecer, para guardar dentro de si aquilo que quereria tanto apagar ao longo da vida e o da filha mais velha teria sido inventado, imaginado na sua cabeça, bem diferente do que era, alienado pelo poder da criação que tantas vezes a levaria para lugares recheados de cor e alegria, repletos de afecto e iluminados pelo calor de um abraço.
Tudo passa, tudo acaba, até a noite de Natal.

3 comentários:

Mimi disse...

Eu pessoalmente nunca gostei do Natal e sinceramente nunca consegui perceber bem o porquê.

Basicamente nunca consegui associar o Natal à ideia de festa.
Uma festa para mim é uma coisa bem diferente, mais divertida, mais leve, algo descontraído.

O Natal para mim é triste em tudo, nas músicas, na postura das pessoas completamente enlouquecidas com as prendas, com comida aos montes (parece que a malta so come no Natal!) enfim, confesso que me ultrapassa!

Até o próprio conceito de reunião familiar causa-me urticária.
Com famílias que não se suportam, que se criticam o ano inteiro mas que se reunem na noite de Natal para trocar presentes e hipocrisias.

Isto já para não entrar nos jantaritos de Natal das empresas !!! Verdadeiramente hilariantes !!!

É a época dos grandes desiquilibrios, dos que tudo têm e dos que nada têm. Obvio que isto faz parte da sociedade, propriamente dita, mas no Natal "faz-se questão" de pisar e repisar estes assuntos até na televisão. São as mesas fartas Vs a sopa dos pobres ...

Esta quadra cansa-me a beleza!!! Oh se cansa !!!

Mas como dizes e bem , felizmente tudo passa sim ... até a noite de natal!

Beijinhos,

Anónimo disse...

100% de acordo contigo, Mimi...

A magia do Natal tem pouco de magia. Tudo é um excesso. Até os presentes que se dão às crianças, hoje em dia, são um excesso.

Na nossa familia decretou-se o fim dos presentes de há uns anos para cá. Só as crianças recebem presentes. Para já, ainda são só 2. Apreciamos a companhia daqueles que amamos e isso é o mais importante.

Beatriz disse...

Gostei!:)
Beijinhos grandes!