sexta-feira, fevereiro 18, 2011

como o tempo



Tal como o tempo do lado de fora desta janela, tal como o céu carregado de nuvens densas, cansam-me os dias e as pessoas. Tão elementar: cansaço puro e simples. Vontade de ir Into The Wild, ou como diz um muito querido amigo meu: desaparecer. Mas sem deixar qualquer rasto, durante uns tempos, durante uns longos tempos. Apagar até o meu perfume do ar, o calor que deixo ao passar, o som da minha voz. Desaparecer.
Certamente não para sempre, certamente voltaria. Ou talvez não. Talvez ficasse por lá, pelos lugares infinitos e perdidos muito mais tempo do que aquele que imagino. Talvez não me apetecesse voltar nunca. Ou talvez voltasse. Largar tudo: casa, emprego, bens, pessoas, tudo. É isso que me apetece hoje, claro. Hoje, sexta-feira, dia 18 de Fevereiro de 2011. Talvez amanhã de manhã, que é sábado, já não me apeteça nada disto. Mas hoje era o que faria... Não o faço, porque há uma pessoa de quem não consigo fugir. Até consigo fugir de todas, mas dele não consigo. Nem nos dias em que me zango ou em que ele se zanga comigo.
E sempre que olho lá para fora e vejo a chuva a cair, sinto que, se não fosse por ele, não estaria aqui. Ele deve ter vindo para a minha vida por essa razão, para que eu não possa fugir. O Criador sabe que eu era capaz de o fazer, que eu era capaz de desaparecer e então enviou-me a mais fantástica e perfeita forma de encarceramento: o amor a um filho. E assim, ardeu, desapareceu, gone forever, foi-se a coragem... Fica a resignação, a calma que advém da razão, da força do sentimento. Fica o sorriso ao olhar para ele a teclar no computador mais uma estória que guarda, muitas vezes inacabada, interessantíssima e cheia de imaginação. Estórias que ele cria e que me dá a ler. Ou então são desenhos que faz e me mostra:  Olha! Eu olho e digo: Muito bonito! Espectacular mesmo! E ele refila: Nem olhaste, é sempre assim, nem olhaste bem... Já viste os pormenores? Viste as cores... Viste, viste? Vi, sim, vi tudo, rapidamente, eu sei, mas vi. Ele não entende que eu vejo rapidamente, que os olhos de uma mulher vêem até os pormenores e rapidamente. Mas refila. Queria que eu me demorasse nos detalhes, queria que eu olhasse e visse. Às vezes só olho, é verdade, outras olho e vejo. Mas não importa. Ele acha que eu vejo sempre à pressa. Mas sabe também que guardo tudo cá dentro...
Vontade de desaparecer hoje...
Deve ser do tempo, deve ser a depressão que advém da ausência de sol durante vários dias seguidos. Deve ser cansaço que nasce da falta de sol. É sexta-feira, um dia quase perfeito, em que começo a sentir o prazer antecipado do descanso e ainda assim fugia para longe, para muito longe de tudo, tudo...

Sleep, don't weep, my sweet love
Your face is all wet 'cause our days were rough
So do what you must do to fill that hole
Wear another shoe to comfort the soul

Damien Rice, Sleep, don't weep

2 comentários:

Claudia disse...

Não fujas. Pelo menos não o faças por muito tempo.
A tua presença é por demais necessária por estes lados, neste mundo menos infinito mas não menos perdido como esse que imaginas.
Beijinho

Mimi disse...

Nem imaginas a quantidade de vezes que já tive vontade de fugir... para longe, bem longe.
Para algum lugar onde ninguém me conhecesse.
Mas tal como tu, também fui marcada para ter uma amarra.
Aquela que tem o dom de me fazer descer ao planeta terra sempre que me "perco" com as agruras da vida.


Beijinhos !