terça-feira, fevereiro 22, 2011

um simples passo

Não é isto a vida?
Um conjunto de passos dados cegamente, ou conscientemente. Passos que iniciam viagens ao íntimo de nós mesmos, ou viagens à procura de outros...

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

domingo, fevereiro 20, 2011

o professor de música, o amigo da amiga e o desconhecido


Ela chegou em cima da hora, como de costume. Os passos apressados não enganavam…
O professor de música subiu as escadas atrás dela, correndo um pouco para a acompanhar. Pediu desculpa por ousar dirigir-se a ela. E depois, tossindo, titubeou:
“Desculpe, mas tinha de lhe falar. Não me conhece, eu sei, não me interprete mal, mas vejo-a sempre à quinta-feira a subir estas escadas e precisava de lhe dizer isso. Que a vejo a subir as escadas, assim, apressada e que… gostaria de lhe perguntar o nome.”
Com ar incomodado, olhando de lado e continuando a andar, ela responde:
“Porque quer saber?... Dá aulas cá? Nunca o vi por cá… É um professor novo, talvez, não conheço muitos dos professores novos…”
E parou. Algo nos seus olhos verdes a fez parar. Ele baixou os olhos, talvez para esconder a alma.
“Sou professor de música, mas não aqui. Venho cá dar as aulas para os alunos do Conservatório não terem de se deslocar e para facilitar o horário deles.”
Ela disse que estava atrasada, mais atrasada ainda do que há dois minutos atrás e sorriu-lhe.
“Falamos melhor na próxima quinta-feira.” E atirou-lhe o nome pelo ar, correndo pelo corredor, deixando-o para trás a sorrir também.

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Via-o raramente. Ele trabalhava na capital e não vinha a casa todos os fins-de-semana. Era amigo de uma amiga e saíam todos juntos de vez em quando. Falava pouco e ela não gostava disso. Não a atraíam homens calados, tímidos, hesitantes, parcos em palavras. Ela provocava-o com as palavras e ele sorria, mas não respondia.
Naquela noite ele estava particularmente atraente e a camisa azul claro, semi-aberta, deixava adivinhar um corpo bem torneado por horas de ginásio.
O que as palavras não diziam, pareciam dizer os seus olhos. Olhava insistentemente para ela, semi-cerrava os olhos e fazia um sorriso estranho, como que a enviar uma mensagem subtil de agrado. Olhou-a de alto a baixo, descaradamente, e acenou a cabeça. Talvez fosse desta que dissesse mais de duas frases com três palavras seguidas.
“Esse vestido fica-te bem. Revelador e discreto ao mesmo tempo. Vestes poucos vestidos e, afinal, ficam-te bem. Tens de deixar as calças de ganga mais vezes no armário… É uma pena encobrires o que é um deleite para os olhos.”
Revelador? Revelador era o testamento que ele acabara de dizer… Nunca tinha pronunciado tantos fonemas de uma só vez. E falava-lhe de roupa de forma atrevida… E comentava o que ela vestia. Jamais imaginara que ele tinha opinião sobre roupa. Ficou a saber, portanto, que ele apreciava pernas e as dela em particular. E sem saber bem porquê, começou a achá-lo um homem muito interessante…

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Os dias passavam obscuros, sombrios, pesados, enegrecidos pela falta de sol, que quase sempre lhe trazia falta de oxigénio e de alegria.
Em dias como esses, não tinha grande vontade de acordar para a vida, nem de se arranjar muito. Era um esforço enorme, esse que fazia, para não se deixar arrastar para a tristeza, para a depressão.
Detestava o que tinha de fazer nessa manhã: as compras para a semana. Faltavam tantas coisas em casa, por isso tinha mesmo de ir, ainda que chovesse. Saiu.
O semáforo estava vermelho e o carro da frente parara. Apeteceu-lhe ouvir música para animar um pouco. Olhou para o retrovisor esquerdo do carro da frente e percebeu que o condutor a olhava intensamente. Sentiu algum desconforto e parou de cantarolar a música que estava a passar na rádio.
O semáforo ficou verde e o carro da frente avançou devagar. Chegando ao parque do supermercado, ele seguiu em frente e ela deu o pisca e virou à direita. Respirou de alívio e estacionou. Entrou no supermercado e saiu depois, passado meia hora. Quando se aproximou do carro, viu um papel dobrado, metido no limpa-vidros. As palavras que leu estavam escritas com uma caligrafia meticulosa, perfeita, longa e bem delineada.
“Um dia ganharei coragem para lhe falar. Vejo-a muitas vezes na cidade, cruzamo-nos, mas nunca me olha. Hoje viu-me e eu vi-a, como de costume. A única diferença é que desta vez senti que me viu também, não fui transparente. Provavelmente estarei a assustá-la, mas não é minha intenção fazê-lo. Queria apenas dizer-lhe que estou aqui e que a vejo como uma luz, aquela luz que falta aos dias chuvosos de inverno.”

O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...


Álvaro de Campos (o heterónimo engenheiro de Fernando Pessoa)

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

como o tempo



Tal como o tempo do lado de fora desta janela, tal como o céu carregado de nuvens densas, cansam-me os dias e as pessoas. Tão elementar: cansaço puro e simples. Vontade de ir Into The Wild, ou como diz um muito querido amigo meu: desaparecer. Mas sem deixar qualquer rasto, durante uns tempos, durante uns longos tempos. Apagar até o meu perfume do ar, o calor que deixo ao passar, o som da minha voz. Desaparecer.
Certamente não para sempre, certamente voltaria. Ou talvez não. Talvez ficasse por lá, pelos lugares infinitos e perdidos muito mais tempo do que aquele que imagino. Talvez não me apetecesse voltar nunca. Ou talvez voltasse. Largar tudo: casa, emprego, bens, pessoas, tudo. É isso que me apetece hoje, claro. Hoje, sexta-feira, dia 18 de Fevereiro de 2011. Talvez amanhã de manhã, que é sábado, já não me apeteça nada disto. Mas hoje era o que faria... Não o faço, porque há uma pessoa de quem não consigo fugir. Até consigo fugir de todas, mas dele não consigo. Nem nos dias em que me zango ou em que ele se zanga comigo.
E sempre que olho lá para fora e vejo a chuva a cair, sinto que, se não fosse por ele, não estaria aqui. Ele deve ter vindo para a minha vida por essa razão, para que eu não possa fugir. O Criador sabe que eu era capaz de o fazer, que eu era capaz de desaparecer e então enviou-me a mais fantástica e perfeita forma de encarceramento: o amor a um filho. E assim, ardeu, desapareceu, gone forever, foi-se a coragem... Fica a resignação, a calma que advém da razão, da força do sentimento. Fica o sorriso ao olhar para ele a teclar no computador mais uma estória que guarda, muitas vezes inacabada, interessantíssima e cheia de imaginação. Estórias que ele cria e que me dá a ler. Ou então são desenhos que faz e me mostra:  Olha! Eu olho e digo: Muito bonito! Espectacular mesmo! E ele refila: Nem olhaste, é sempre assim, nem olhaste bem... Já viste os pormenores? Viste as cores... Viste, viste? Vi, sim, vi tudo, rapidamente, eu sei, mas vi. Ele não entende que eu vejo rapidamente, que os olhos de uma mulher vêem até os pormenores e rapidamente. Mas refila. Queria que eu me demorasse nos detalhes, queria que eu olhasse e visse. Às vezes só olho, é verdade, outras olho e vejo. Mas não importa. Ele acha que eu vejo sempre à pressa. Mas sabe também que guardo tudo cá dentro...
Vontade de desaparecer hoje...
Deve ser do tempo, deve ser a depressão que advém da ausência de sol durante vários dias seguidos. Deve ser cansaço que nasce da falta de sol. É sexta-feira, um dia quase perfeito, em que começo a sentir o prazer antecipado do descanso e ainda assim fugia para longe, para muito longe de tudo, tudo...

Sleep, don't weep, my sweet love
Your face is all wet 'cause our days were rough
So do what you must do to fill that hole
Wear another shoe to comfort the soul

Damien Rice, Sleep, don't weep

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

just to get in the mood...



Ganharam um grammy e tudo... E... é uma canção tão romântica... tão ao espírito deste dia...

Happy Valentine's Day to all my friends!

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

silêncio


Ela decidira não falar mais, nao dizer mais nada, não explicar coisa alguma.
Ele entendera que tudo estava perdido ou guardado, para sempre, na memória comum que os unira um dia.
Ambos perceberam que era tempo de viajar até outras conversas que se fizessem com entusiasmo e paixão, conversas que tirassem o sono, ou que adormecessem num abraço. Conversas outras que tivessem alma e entrega e cumplicidade e terra fértil por dentro.
Acabaram os lugares deles, as canções deles, as palavras deles.
Ficou o silêncio estéril.
Ficou o silêncio como um luto eterno.
Só o silêncio diz a alma deserta.

domingo, fevereiro 06, 2011

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

hold my hand...




The greatest one of all still lives on...

quarta-feira, fevereiro 02, 2011


Guardo o teu encontro como um segredo
para lá do olhar fica o que eu vi nesses olhos e o que me disseram em sussurros
a recordação é a imagem que guardamos no fundo do coração e onde podemos voltar a cada instante de saudade.