sexta-feira, novembro 16, 2007

Proteger

Quando amamos alguém e vemos que o caminho escolhido leva ao precipício, devemos intervir, alertar, fazer compreender... Mas o que custa, não é esta intervenção, esta orientação que pensamos ser a melhor para a pessoa a quem queremos bem. O difícil é proteger sem sufocar, é ajudar, orientar, esclarecer sem impôr uma alternativa. O que é penoso é dar apenas a mão sem arrastar o outro connosco. O que custa verdadeiramente é dizer a alguém que nos é querido e que amamos com todo o coração: "Sei que estás no caminho errado, mas deixo-te ir porque tu queres que assim seja, porque TU é que decides o teu destino e eu só posso ficar a assistir..." O que temos de mais sagrado é esta liberdade individual para podermos fazer com a nossa vida o que quisermos, mesmo sem escutar ninguém, sem ouvir os outros, esta liberdade para errar e crescer com os erros (ou ser destruido por eles). Mas também uma das coisas que mais custa é assistir ao desabar do mundo de alguém que amamos infinitamente e não ter podido fazer nada, precisamente devido a essa liberdade.
Não puder guardar todos os que amamos numa redoma de vidro e protegê-los dos precipícios da existência!...

3 comentários:

Anónimo disse...

Qual a principal “função” de um professor? Da imensidão de pensamentos que li os que me pareceram mais sábios diziam: mostrar caminhos, orientar, aconselhar, ensinar a procurar, e não o “simples” transferir de matérias, como lhe foram transmitidas a ele(a), como elas (as matérias) estão nos manuais, pois é importante nunca esquecer (neste contexto) que independentemente da importância das teorias de hoje, elas são e serão sempre o resultado da experiência de quem aqui esteve antes de nós! A teoria é em última instancia sempre a experiência de alguém!

Porque é que existem alguns professores que se destacam? Por imensas razões mas a mais comum parece surgir quando os alunos sentem que ele deu mais do que o que “era suposto”, sentem que ele transmitiu o que devia, mas a isso juntou também a sua própria paixão, a sua visão, juntou aquele algo que fez com que a teoria ganhasse vida!

Qual a principal função de um(a) mãe/pai? Qualquer resposta vai ter a sua cota de adeptos e de opositores, pois é uma questão muito pessoal, emocional e que mexe com o coração! Mas se conseguir manter-me isento (não me é difícil pois não tenho essa responsabilidade), a teoria que este mundo me trouxe diz-me simplesmente isto: fazer tudo para preparar o filho o melhor possível para enfrentar as vicissitudes deste mundo! Parece fácil, no entanto tenho a certeza de que todas as mães deste mundo terão algo a contrapor de uma forma ou de outra pois existe algo superior a esta simples “regra”, que ninguém entende a não ser quem está lá, quem tem de passar por isso, quem o sente! (Quem o sente)!

E agora? Como lidar com todos aqueles que já não precisam de professores, como lidar com os que “aparentemente” já não precisam de pai nem de mãe. Como lidar com todos aqueles que amamos, aqueles que como nós aprenderam algumas das lições importantes que esta vida tem para ensinar, mas que por motivo de força maior (o coração) parece terem esquecido as bases? O que dizer? Como dizer a alguém que amamos que ele(a) está a ir pelo caminho errado?

Procuro recordar alguém em quem confiasse o suficiente, alguém em quem acreditasse totalmente, para que a sua palavra, conselho orientação, fosse o forte suficiente para fazer com que EU deixasse de fazer o que Desejei fazer em qualquer altura da minha vida, simplesmente porque acreditava totalmente nesse alguém! A verdade é que nunca tive ninguém assim! Para mal ou para bem sempre fui o meu melhor professor, o meu melhor orientador, pois ninguém neste mundo, nesta vida teve a minha experiência, a minha forma de sentir, a minha forma de amar, a minha visão, a minha forma de crescer para me aconselhar da melhor forma possível!

Talvez por sempre ter tido consciência de que para me encontrar tinha de me perder. Para descobrir o que realmente a minha natureza procura, tinha de visitar todos os lugares que me chamaram, fossem eles benéficos ou não. Para descobrir quem sou tive de sentir na pele aquilo que não sou. Talvez por saber que sempre precisei de um certo espaço para crescer, de uma certa fé de todos os que me amavam para me deixarem crescer, de um certo entendimento de todos aqueles que eram mais sábios do que eu para saberem que não deveria ir por certo caminho, mas mesmo assim deixaram que fosse pois respeitaram a minha forma de “aprendizagem” nesta vida, também eu procuro ser assim com todos os que não vêm aquilo que eu já vi para eles!

Para mal ou para bem, faço o que “assumo” que todas as pessoas que procuram o melhor para todos os que amam fazem, agir em conformidade com a experiência que têm, e o que ela me diz é simplesmente isto: quando alguém decide ir pelo caminho que não me parece o correcto, devo segui-la com a distancia certa, a distancia que ela precisa para descobrir o que tem a descobrir, e o mínimo de tempo que irei demorar a chegar lá para a fazer sentir que não está só!

O mínimo de tempo possível para chegar a essa pessoa, para que ela sinta que estou junto a ela!

Anónimo disse...

Que dois "fantásticos" textos!!!

Ao lê-los dou por mim a reflectir como ajo ou agirei eu perante este tipo de situações e coloco várias personagens, em alguns, talvez eu próprio. Se me arrasto ou sou arrastado para cenários deste género? Não o sei se o faço ou me levam a faze-lo, mas se sigo esta corrente quero acreditar que irei ficar melhor tal como os que me seguem.

Entendo que o "Não faças...", "Vais te arrepender..." de nada servem, mas que são igualmente infurtiferos os "Eu avisei-te...", "Podias ter evitado..." e até o monologo "Não vás por aí...que estás tu a fazer". Que limiar estranho este do agir/não agir?! Vem-me à memória as palavras sábias do meu avô(homem que as lições foram as da vida!) que em hora e local acertado me disse:

"A tua liberdade acaba precisamente onde começa a liberdade do outro" - desconheço se o conceito era seu mas reconheço-lhe toda a aplicabilidade.

Claudia disse...

"Tenho a minha mão na tua, sempre... Como quando éramos pequeninas e tinhamos medo de tudo... Nunca tenhas medo. Mesmo que chores... As lágrimas servem para lavar a alma e reconfortar o coração." Msg de Fev 2007

Isto é proteger! Quando recebi esta mensagem foi o melhor que me aconteceu pois apesar de já não sentir medo, chorava. Mas como dizias chorava porque me estava a libertar... e que estava protegida pelos que me amam de verdade.