quarta-feira, outubro 21, 2009

Uma aldeia

Da janela do quarto podia ver o rio.
Envolto numa paisagem verde e fresca, corria, livre, solto e transparente.
Era Verão e lá fora o sol ainda brilhava alegre e quente.
Vinha de uma cidade movimentada, e era sem dúvida, aquele silêncio que mais estranhava. Parecia que por alguns instantes, a vida era simples, as pessoas eram simples, tudo era simples. E era-o de facto.
A casa era em pedra e embora pequena, estava fresca. O seu interior mobilado com móveis rústicos, e desgastados pelo tempo, conferia-lhe um ar pobre. Uma casa porém igual a todas as outras casas daquela aldeia, envolta no grande vale da serra da Gardunha.
“Enquanto guardava as ovelhas do teu avô, descalço no frio, olhava para esta serra e sabia que um dia haveria de sair daqui.” disse-lhe o seu pai.
E não se enganara. Saíra, para longe, muito longe, e voltara naquele dia, muitos anos depois para rever familiares, amigos, para voltar a caminhar nos mesmos caminhos, que de tanto palmilhados, ainda conhecia de cor. Com um sorriso emocionado, olhos embargados, lá ia dizendo que aquela mesma pedra continuava naquele mesmo lugar, mas que se caminhava melhor nela descalço do que com os sapatos que levava calçados. Sabia muito bem, que o que tinha mudado era a agilidade com que saltava sobre as mesmas nos seus tempos de menino.
Voltaria, ainda alguns anos mais tarde, normalmente no verão, quando a vida lhe permitia ou quando as saudades da aldeia apertavam.
E contava sempre muitas histórias, daqueles tempos! Ainda muito pequena, ouvia-o com muita atenção, com muita admiração, mesmo não percebendo como hoje, o cunho e o valor daqueles testemunhos. A sua infância tinha sido tão diferente da dela...
Desde a morte do avô que não mais voltou aquela aldeia.
E sente saudades, saudades daquela aldeia onde viveu momentos de uma vida tão mas tão distante.
Um dia prometo lá voltar …

3 comentários:

Anónimo disse...

As raízes, as moléculas do passado inscritas em nós, a casa antiga, as pedras e os muros, as memórias inscritas na alma passadiça, na alma que grava e recupera depois, para lembrar que temos um lugar de onde saímos mais tarde para o mundo...

A casa da aldeia. Quem tem uma casa assim, tem passado e é com ele que se constrói a nossa essência!

Beijinhos Mimi (tive saudades das tuas escritas!)

Claudia disse...

Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz

Nunca mais voltes à casa
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa
Por entre as lajes do chão

Nada do que por lá vires
Será como no passado
Não queiras reacender
Um lume já apagado

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez

Por grande a tentação
Que te crie a saudade
Não mates a recordação
Que lembra a felicidade

Nunca voltes ao lugar
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza
Que dá na garganta nós

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez



(Letra da música de Rui Veloso - As Regras da sensatez)

Anónimo disse...

Leva-me contigo para eu conhecer essa aldeia. ;)

Beijinho.