quarta-feira, outubro 28, 2009

Uma estrada...


imagem retirada daqui

Ela sabe de uma estrada larga, aberta de par em par como uma porta sem maçaneta, uma porta arrombada, uma porta escancarada... Ao longo dessa estrada larga há uma floresta de cada lado, preenchida por inúmeros atalhos, tantos atalhos quantas as possibilidades. E dentro de cada possibilidade existem outros atalhos, outros caminhos, outras florestas…
Nessa estrada larga ela percorre o caminho que a leva em frente, adiante, aquele que a guia aos prados verdejantes dos quadros dos pintores naive, sem montanhas nem vales, apenas campos arejados e vastos de longínquas sensações de tranquilidade com sabor a fins de tarde amenos.
Ela sabe que nessa estrada prodigiosa e escancarada para a vida, não há retrocessos nem flashbacks, nem livros de história passada ou narrada, nem lendas passadas no sublimar de emoções irreais. E nessa estrada ela segue de vestido negro igual ao cabelo, segura, preparada para o que decerto lhe trará a curva lá ao fundo: outro amanhecer de caminhos largos e inúmeras possibilidades.
Ela sabe de abraços sentidos em despedidas demoradas, leves, suaves, em abraços de almas irmãs e em batimentos de corações em uníssono e é nesses abraços que ela sabe encontrará aquele verso do poema que traz guardado desde sempre…


“And after all that, however long all that may be, you'll go somewhere new. And you'll meet people who make you feel worthwhile again. And little pieces of your soul will finally come back.” No blogue A Senda

quarta-feira, outubro 21, 2009

Uma aldeia

Da janela do quarto podia ver o rio.
Envolto numa paisagem verde e fresca, corria, livre, solto e transparente.
Era Verão e lá fora o sol ainda brilhava alegre e quente.
Vinha de uma cidade movimentada, e era sem dúvida, aquele silêncio que mais estranhava. Parecia que por alguns instantes, a vida era simples, as pessoas eram simples, tudo era simples. E era-o de facto.
A casa era em pedra e embora pequena, estava fresca. O seu interior mobilado com móveis rústicos, e desgastados pelo tempo, conferia-lhe um ar pobre. Uma casa porém igual a todas as outras casas daquela aldeia, envolta no grande vale da serra da Gardunha.
“Enquanto guardava as ovelhas do teu avô, descalço no frio, olhava para esta serra e sabia que um dia haveria de sair daqui.” disse-lhe o seu pai.
E não se enganara. Saíra, para longe, muito longe, e voltara naquele dia, muitos anos depois para rever familiares, amigos, para voltar a caminhar nos mesmos caminhos, que de tanto palmilhados, ainda conhecia de cor. Com um sorriso emocionado, olhos embargados, lá ia dizendo que aquela mesma pedra continuava naquele mesmo lugar, mas que se caminhava melhor nela descalço do que com os sapatos que levava calçados. Sabia muito bem, que o que tinha mudado era a agilidade com que saltava sobre as mesmas nos seus tempos de menino.
Voltaria, ainda alguns anos mais tarde, normalmente no verão, quando a vida lhe permitia ou quando as saudades da aldeia apertavam.
E contava sempre muitas histórias, daqueles tempos! Ainda muito pequena, ouvia-o com muita atenção, com muita admiração, mesmo não percebendo como hoje, o cunho e o valor daqueles testemunhos. A sua infância tinha sido tão diferente da dela...
Desde a morte do avô que não mais voltou aquela aldeia.
E sente saudades, saudades daquela aldeia onde viveu momentos de uma vida tão mas tão distante.
Um dia prometo lá voltar …

Um tolo no meio da ponte


Quando ali chegou não sabia onde estava
Era fácil ir embora ou ficar exactamente no mesmo lugar
Os sonhos e os desejos levam-na para o outro lado
mas o outro lado é desconhecido o que de lá possui é tudo mas não o suficiente
o que chega para se fazer a mudança
para sair do desconforto confortável e correr atrás do sonho
no instante seguinte
"I was wrong to stay but I couldn't go"
nas entranhas do coração habitam os sonhos e quando algo os toca não fica indiferente
mas a coragem da mudança não é para todos
os imortais ficam perenes, julgam eles, onde estão e sem perdas aparentes
mas haverá maior perda do que deixarmos de sonhar?
"vai onde te leva o coração" e quando não souberes o caminho
"senta-te num canto e espera que ele te dê a resposta"
um tolo no meio da ponte não conhece a direcção e nem com GPS saberia orientar-se
não sabe sequer que velocidade colocar em cada passo que dá pois "para um barco à deriva não há ventos favoráveis"
O vento, a ponte, o caminho, os seus pés tudo são impecilhos e para todos encontra um novo motivo para ali permanecer.

sábado, outubro 17, 2009

Amanhecer de girassóis


imagem retirada daqui: olhares.aeiou.pt/campo__de_girassois_foto2051...

É possível que tudo tenha a ver com o tempo. “O tempo é o meu maior inimigo.”, disse ele. “Combato-o como posso.” Ela percebeu que também ela procurava combater o tempo ao não dizer que o tempo acabara, que, afinal, aquele não era o tempo de dar a água do seu sorriso àquele que lhe ficara com o coração.
“O teu olhar, a luz do teu olhar entrou no sepulcro dentro de mim e abriu o meu refúgio à corda do relógio da vida. Foi o teu olhar matinal que encantou de novo o som dos pássaros a rasgar os céus de Setembro. Eles voam à procura de um sol que não está cá. Tu não podes ir, mas a luz do teu olhar chegará lá, bem longe, onde alguém sentirá que este amanhecer de girassóis será eterno em ti. Em mim não. Eu já não tenho tempo. Sempre foi o meu maior inimigo. Combato-o como posso. Hoje foi com o teu sorriso, ontem com a energia do teu olhar. Sabes que procurei esse olhar toda a noite?... E ao mesmo tempo fugia dele… E na lama do meu íntimo, nas sombras de mim eu sabia porquê… Sabia que eras de alguém. Sabia que para teres essa luz a soltar-se de ti tão fulgurante, era porque pertencia a alguém e não a ti. Não a mim também, bem sei. Porque eu apenas procuro combater o tempo, como posso. Já to tinha dito antes. Mas até isso preciso de repetir. Para entender melhor. Para chegar até ti, às franjas da tua alegria e conseguir sorrir… Contigo.”
Ela percebeu de novo que o tempo acabara dentro de si. Já não sorria. Ele não percebia nada. Não podia dar mais tempo àquele que, tão longe, lhe segurava o coração com a mão, a pendurava na lua e lhe mostrava as estrelas, dizendo-lhe: “São belas, não são? Mas não são nossas… O nosso tempo acabou. Como aqueles girassóis têm de acabar, sempre que o sol se senta a descansar nas encostas da noite.”
Ela olhou-o, deteve os seus olhos nos dele e sorriu-lhe.
“Sim, querido, o tempo é o nosso maior inimigo. Por isso, a vida é já!”

sexta-feira, outubro 16, 2009

In a Box

Já quase não cabe mais nada aqui nesta caixa… por um lado alegro-me com o facto de algumas das letras do monograma já cá não estarem. Só fazem falta as que ainda aqui estão e assim ainda há espaço para guardar mais esta agenda.
Mas porque quero tanto estas coisas assim pertinho de mim?
Abro de novo a caixa e sinto o cheiro de ducados daquele tempo. Já não têm o mesmo cheiro hoje. Estes que ainda estão nesta caixa são de cheiros de outro país, de outras pessoas e de outras vidas…
Sinto um misto de nostalgia e ao mesmo tempo arrepia-se a minha alma… tanta vida ainda aqui neste pequenino espaço.
O teu nome está completo, as nossas conversas daqueles dias ainda se lêem apesar de algumas das folhas desta velha agenda estarem tão gastas… e não é da idade que têm mas das inúmeras vezes que ainda te ouço a partir delas. Delicioso aroma concentrado num pequeno espaço…
Mas os pássaros que trazíamos dentro do peito não podiam ficar fechados numa caixa escura, onde nem o titulo do que continha se lê mais… fomos soltando os vincos à caixa e a própria tampa já não encaixa completamente… O cheiro das memórias solta-se levemente e consigo senti-lo mesmo quando ainda está semi-fechada.

segunda-feira, outubro 12, 2009

segunda-feira, outubro 05, 2009

Original Sin - um filme para um dia de chuva...








Dois dos meus actores preferidos, juntos... Um filme intenso... E belo! Ideal para um dia como o de hoje... Chuvoso e morno...

"You can't walk away from love..."

domingo, outubro 04, 2009

o tempo, subitamente solto - JLP

o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.

José Luís Peixoto

sexta-feira, outubro 02, 2009

Momentos...

Há momentos de lucidez e momentos de loucura. Há dias em que o mundo parece uma gota de orvalho: transparente, puro, brilhante, quase enigmático de tão perfeito. Há dias em que o mundo nem parece ter contornos, surge-nos desfocado ao entendimento, obscuro na sua compreensão, quase insuportável como uma pedra no sapato após longas horas de contacto com a pele...
Há momentos de lucidez... Uma lucidez tão intensa que quase fere o olhar, como a luz clara e dolorosamente realista de uma manhã de Verão. Há momentos de loucura inexplicável, desdenhosa da nossa racionalidade controlada e controladora de impulsos mais ou menos selvagens, mais ou menos tiranos e dominadores da razão.
Há momentos de lucidez em que procuro encontrar desesperadamente a loucura que me (faz) falta...


"I don't know why I cannot see the beauty in front of me..."

http://www.youtube.com/watch?v=10E6DjN4vIE&feature=related
Uma das músicas que mais me faz mexer nas nossas noites (animadas) dos últimos tempos... Uma música (quase) em forma de despedida do Verão...

Deixem-me ser uma mãe babada!


PARABÉNS, EDGAR!
"Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não acertamos em todas as notas a primeira vez que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática várias vezes até acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes antes de poderem entregá-lo.Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda quando precisarem. Eu todos os dias o faço. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem de admitir que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem confiem – um pai, um avô ou um professor ou treinador - e peçam-lhe que vos ajude.E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram – nunca desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de vocês mesmos é da vossa vida e do vosso futuro que estão a desistir."


(Extracto do discurso de Barack Obama aos alunos no início do ano lectivo)
It's the climb! And it has just started!