segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Gelo no coração


Há manhãs geladas de um Inverno demasiado longo que me fazem sentir demasiado viva, porque o frio invade os ossos e entranha-se nas moléculas da pele, fazendo com que eu sinta bem fundo as temperaturas quase negativas do ar e da natureza…
Há dias gelados de um Inverno demasiado longo em que certas pessoas me fazem sentir quase demasiado morta para ter vontade de respirar, para ter vontade de me revoltar, de me indignar. Há pessoas tão más, de carácter tão obscuramente egoísta e maldoso, que me fazem sentir revoltada e ao mesmo tempo sem forças para reagir. São pessoas egocêntricas e puídas como a roupa velha e sem utilidade alguma que não seja servirem para limpar o chão ou para serem encharcadas em lixívia com o objectivo de desinfectar os azulejos da casa de banho. São pessoas desse tipo, do tipo gasto, estragado pelo tempo e pela maldade, pelo materialismo do ambiente estéril em que cresceram, pela corrupção dos afectos e pelo vazio da alma, que vivem com o único objectivo de se servirem do coração dos outros, de sugarem a vida dos outros, de se alimentarem do afecto dos outros para sobreviverem, que me deixam ainda mais cansada que o frio deste Inverno demasiado longo.
Elas, que nada carregam dentro de si que não seja o seu ego exacerbado e cego, apontam o dedo a quem lhes exige dignidade e respeito e sentem-se ofendidas quando, no fim de um caminho demasiado penoso, os outros lhes pedem apenas respeito. Sim, não é amor nem entrega, é apenas respeito. Nesse momento final é só o que pedem e essas pessoas gastas como os dias sem sentido, essas pessoas que me retiram até a força para reagir, que me gelam a alma como estes dias demasiado gelados de um Inverno demasiado longo, impregnadas de egoísmo estéril insurgem-se contra quem lhes deu sempre tudo gratuitamente e quem as amou sem exigências, respeitando até as regras mais absurdas. Insurgem-se, porque se apercebem que quem tudo lhes deu se cansou, finalmente, de ser tratado como um pano de limpeza para limpar o coração de pedra, um coração feito apenas de veias e artérias e matéria e sangue, mas desprovido do calor e do sentimento que o distingue do dos animais…
Quando tropeço em seres destes ao longo da vida, não consigo deixar de pensar que há almas que estão ainda tão longe da ansiada paz existencial e que o seu caminho será certamente longo e espinhoso e que muitos outros seres inocentes serão trucidados no percurso, enquanto elas se purificam.
Há manhãs geladas como a deste dia que me deixam assim, amarga e desencantada

3 comentários:

Claudia disse...

E uma vez mais os meus olhos enchem-se de lágrimas
por alguém conseguir compreender e colocar em palavras o que sente coração.
Fiquei com vontade de GRITAR as tuas palavras!

António disse...

E eu fico perplexo com tais palavras e que me entristeceram abruptamente. Como é possível existirem pessoas (se tal se podem chamar) com tamanha dose de insensibilidade, desrespeito e tais níveis de maldade interior...
Espero jamais me cruzar com seres iguais aos que descreves.

Mimi disse...

Não conhecia esta Filipa:o( Regra geral os teus post são sempre uma lufada de ar fresco para mim!

Infelizmente o mundo está repleto desses seres de que falas… é pena que esses infelizes, não percebam que são derrotados todos os dias pelos sentimentos amargos que carregam …

Um grande beijinho!