domingo, novembro 07, 2010

O Italiano


É preciso inspiração para escrever seja o que for. Mesmo uma carta de reclamação que seja. Posso dizer que na noite passada tive a minha inspiração alimentada pela realização de um velho sonho: ter um belo Italiano a falar-me ao ouvido.
Costumava dizer como brincadeira que sonhava ter um belo ragazzo di parlare solo per me, de preferência ao ouvido. E foi o que aconteceu, sem que tenha tido necessidade de sair de Portugal, ou como no filme Eat, Pray, Love tivesse de me meter num avião e ir à procura de um tradutor em Itália onde aprenderia essa amorosa língua enquanto saboreava um saboroso gelado de café. E ele teve de me falar ao ouvido mesmo, pois a música do bar estava, como habitualmente, muito alta. Com imensa pena minha, não sei parlare a língua de DaVinci, mas fascina-me a sua musicalidade. Não me interessa muito o que é dito, desde que seja em italiano, tudo me parece romântico, até a ementa de um restaurante.
O bello Morris (espero que seja assim que se escreve o seu nome), com ar de James Dean, começou por brindar no meu copo à minha passagem. Assustei-me e afastei instintivamente o braço. Ele perguntou em Inglês:
Do you speak English?
Yes, I do. Respondi com um sorriso a meio gás. Já é costume os Ingleses virem falar comigo. Devo ter um ar… internacional.
I’m Italian. O sorriso alargou-se mais um pouco e percebi que ele já devia estar habituado a esta popularidade entre as mulheres nacionais.
Espantoso, pensei. Venho ouvir uma musiquinha revivalista num barzinho para cotas de meia idade como eu, ou mais entradotes até, e encontro… um ITALIANO! Eram vários, na verdade. Um grupo de seis ou sete, mas o Morris era o mais bonito. Muito atraente numa camisa branca desabotoada nos dois primeiros botões. Alto e… de olhos azuis. O meu Italiano, o da minha imaginação, era mais moreno e de olhos escuros, mas pronto, não é por isso que vou reclamar.
Apresentou uma série de pessoas, todas muito simpáticas (amigas Portuguesas incluídas) e ficou a olhar para mim. Fez-me perguntas em Italiano, mas eu falava pouco. Ele perguntou se eu não gostava de falar. É óbvio que gosto, mas não sei falar italiano, por isso disse-lhe:
Parla, gosto de te ouvir! Assim mesmo, em tom de ordem. Mal sabia ele que era só o que eu queria, que era esse um dos meus desejos mais secretos!
La ragazza più bella del bar ; il tuo sguardo mi affascina; il mio cuore batte più forte; Sono innamorato di te... etc, etc
Falou sim, muito. Tantas coisas que os meus ouvidos entraram em êxtase! Tinha vinte e sete anos, mas parecia ter mais. Perguntou se eu tinha vinte e oito. Nada mau, para quem tem mais onze. Perguntou se queria fugir com ele. Disse-lhe que sim, que podíamos fugir para Roma logo a seguir à canção Billy Jean do Michael Jackson. (Curiosamente, o perfume que eu escolhi para essa noite chamava-se Roma e já não o usava há vários meses… Outras histórias que não cabem aqui…)
Dançamos bastante, rimos bastante, escutei-o bastante e, por fim, aproveitei uma distracção dele para escapar. Deve ter ficado a pensar que eu era maluca, quando deu pela minha ausência, mas eu só pensei que tinha de fugir antes que ele me apanhasse, pois a frase que me ocorria mais vezes, enquanto apressadamente me dirigia ao carro, era aquela bem conhecida: Oh God make me good, but not yet!

 
(Now I think I have inspiration to write a book!)

4 comentários:

Claudia disse...

http://www.youtube.com/watch?v=SqUuxf_hvjM&feature=related

Bjs

António disse...

Isto sim um Italiano :)
Tantos momentos assaltam a minha memoria ao ouvir esta musica....
bjinho

Mimi disse...

O que eu me ri a ler este post!
Estava assim a imaginar-te a fugir de mansinho :o)))))

eheheh !

Beijinhos,

P.S: Para a próxima não fujas :o))

Marie disse...

tenho duas palavras para este texto: soberbo e serendipity!
soube-me tão bem ler este pedacinho, que até eu me senti apaixonada pelo Italiano :b

beijinhos enormes, *