terça-feira, março 30, 2010

Chuva na vidraça



Escorre a chuva na vidraça e eu vejo-me de novo com catorze anos, sentada no lugar junto à janela, no autocarro apinhado de alunos, já de noite, ainda inverno, a caminho de casa. “Estás sempre na lua, não ouves nada do que te digo…” Queixava-se a minha mãe, queixava-se a minha irmã, queixavam-se, talvez, os amigos. A minha mente nem sempre estava por cá. Hoje ainda há quem se queixe… O meu pensamento deixa-me amiudadas vezes perdida. Hoje, ainda hoje, ouço “Estás sempre na lua, ouviste o que te disse?”
Chove lá fora, está escuro. E vou eu a caminho de casa, ao fim da tarde, depois da escola, já noite escura, olhando as luzes que passam aceleradas na rua, no lado de fora. Desenho com o dedo círculos no vidro embaciado. Nem sequer imagino quem vai ao meu lado. Não me importa. No rádio roufenho do autocarro toca uma música dos Alphaville (“Forever young, I want to be, forever young…”) E penso e sonho e imagino o futuro… Forever young não será… O que será o futuro? Com catorze anos tudo podemos ser no futuro, tudo se pode sonhar. Não adianta dizerem-nos que não será fácil. Nós sonhamos o que queremos…
Hoje, várias décadas passadas sobre esses dias de chuva no autocarro lotado de alunos, abstraída do que me rodeava, abstraída de todos, ainda sonho, olhando a chuva através da vidraça…
Não adianta dizerem-me que não será fácil. Sonhamos o que queremos. Hoje, sei apenas que o tempo passa mais depressa do que o que se imagina quando se tem apenas catorze anos… Hoje sei também que não ficaremos para sempre jovens (excepto talvez no coração)!


some are like water, some are like the heat
some are a melody and some are the beat
sooner or later they all will be gone
why don't they stay young
it's so hard to get old without a cause
i don't want to perish like a fading horse
youth is like diamonds in the sun
and diamonds are forever
so many adventures couldn't happen today
so many songs we forgot to play
so many dreams are swinging out of the blue
we let them come true


terça-feira, março 23, 2010

How far do you wanna go? :)



Para espicaçar a energia neste princípio de Primavera! Uma canção de um novo grupo country com uma batida muito interessante! Gostei dela, assim, à primeira! Como qualquer paixão of the season!

                                                        "Are you looking for
                                                        A little more...?"

sexta-feira, março 19, 2010

Pai


Quando era pequena, achava que o pai resolvia tudo, que me defendia dos meninos maus, que me salvava de todos os perigos e que com ele estaria para sempre protegida. Sobretudo, achava que ele era muito forte. Depois cresci e percebi que ele era um homem como os outros, que errava, que tinha defeitos e que não me conseguia proteger do mundo, porque, simplesmente, era humano. Mais crescida ainda percebi que ele envelhecera, que estava frágil, doente e que continuava com muitos defeitos, porque simplesmente era um homem como os outros, mas mais velho. E foi então que tive de lhe calçar as meias, de lhe chegar a comida, de o curar, de o acompanhar às consultas e de lhe dar o chã antes de dormir. E senti que ele gostou que eu tratasse dele com amor. E percebi também que a vida é um ciclo incontornável e que temos de amar o nosso pai como ele é, e que somos felizes porque ele está connosco e sabe que tem filhos que estão com ele... Já te disse hoje, Pai, mas escrevo-o na mesma: um beijinho e um dia feliz! Porque és o meu pai, para sempre...

quinta-feira, março 18, 2010

Original Sin

O vídeo foi o melhor que pude arranjar...

A música, enfeitiçou-me nos ultimos dias!

OVERWHELMING!

 


Oh, it's carnival night
And they're stringing the lights around you
Hanging paper angels
Painting little devils on the roof

Oh the furnace wind
Is a flickering of wings about your face
In a cloud of incense
Yea, it smells like Heaven in this place

I can't eat, can't sleep
Still I hunger for you when you look at me
That face, those eyes
All the sinful pleasures deep inside

Tell me how, you know now, the ways and means of getting in
Underneath my skin,
Oh you were always my original sin
And tell me why, I shudder inside, every time we begin
This dangerous game
Oh you were always my original sin

A dream will fly
The moment that you open up your eyes
A dream is just a riddle
Ghosts from every corner of your life

Up in the balcony
All the Romeo's are bleeding for your hand
Blowing theater kisses
Reciting lines they don't understand

Para lá desta janela... estás tu...



Tudo o que está para lá desta janela tem um pedaço de ti. O mundo do lado de fora é teu, vives nele como a cor azul do céu vive no céu, como o verde habita o prado, como o sal faz parte do mar. Vives nesse mundo que estranho, o mundo que te separa de mim em sulcos de distância infinita, inatingível na minha pequenez longínqua, como a água está longe do deserto, como o gelo se encontra longe da savana, como a saudade está tão longe da alegria.
Afastado, para sempre ausente, para lá desta janela habitas um lugar de estórias que imagino, um lugar mágico que só posso criar na minha imaginação, porque é um lugar habitado por ti, porque fazes parte dele.
Tudo o que és, tudo o que tens está para lá desta janela e, do lado de cá, estou eu…

quarta-feira, março 10, 2010

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.
(Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen)

segunda-feira, março 08, 2010

Menina dos olhos de água




Menina em teu peito sinto o Tejo
e vontades marinheiras de aproar
menina em teus lábios sinto fontes
de água doce que corre sem parar

menina em teus olhos vejo espelhos
e em teus cabelos nuvens de encantar
e em teu corpo inteiro sinto o feno
rijo e tenro que nem sei explicar

se houver alguém que não goste
não gaste - deixe ficar
que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina p'ra sobrar

aprendi nos "Esteiros" com Soeiro
aprendi na "Fanga" com Redol
tenho no rio grande o mundo inteiro
e sinto o mundo inteiro no teu colo

aprendi a amar a madrugada
que desponta em mim quando sorris
és um rio cheio de água levada
e dás rumo à fragata que escolhi

se houver alguém que não goste
não gaste - deixe ficar...
que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina p'ra sobrar

(música e letra de Pedro Barroso
in álbum "Cantos da borda d'água" 1985)


Um dia muito feliz, para as mães, as filhas, as mulheres, as heroínas do nosso mundo neste dia internacional da mulher. Um beijo especial para a Mimi que celebrou o seu aniversário ontem! Parabéns!

segunda-feira, março 01, 2010

Festejar

A vida é uma festa.
Deviamos fazer uma festa por cada pedacinho de alegria que a vida nos trás.
Hoje estou feliz porque finalmente o meu tesouro chegou ao percentil 5 de peso!!
Para muitos isto pode não ser nada mas dadas as horas da minha vida que já passei a contabilizar o que este pirralho come, este é um momento nobre!
Se não fosse o primeiro dia da semana (e esta vai ser completa) chamava todos os que já assistiram às minhas contabilizações para com eles festejar o momento.
Cá estamos nós a caminho...

Esperança

 Juntos mas não demasiado perto
A olharmo-nos de frente mas sem tapar o rosto um do outro
A caminhar mas em estradas paralelas
é assim que deve ser
cada um é um individuo e não pode fundir-se no outro
não compreendo o caminho mas sigo em frente para te encontrar
algo pelo caminho atropela os sentidos
por vezes ficamos parados no meio do caminho
mas quando essa espera é demasiado longa
precisamos continuar e o que te tiver que nos acompanhar lá estará no próximo atalho
a vida não é feita em linha recta.
Tem paragens, tem desvios e por vezes nem vemos a direcção
o importante é não ter medo de seguir.
não nascemos para ficar no mesmo lugar
nascemos para trilhar caminhos e muitos não estão desenhado nem têm mapa
segue-se numa direcção
o importante é ainda não perder a nossa alma.
ouvi uma história que não sei dizer se ouvi ou se escrevi mas que tem a ver comigo:
"Um dia disse que os nossos corações se haveriam de encontrar e conversar sozinhos.
Hoje o que aconteceu foi o encontro das nossas duas almas.
Não imaginas o que conversaram.
A maior parte do tempo foi a minha que falou. Disse que não estava arrependida de nada pois foi sempre verdadeira contigo e que se entregou em plenitude. Quando assim é não há espaço para o arrependimento pois não houve falha alguma.
Falei tantas vezes do que sentia e da grandiosidadeque trazida amarrada ao meu coração.
Conversei tantas e tantas vezes contigo para que entendesses que aqui na tua frente estava alguém como nunca irás encontrar. Alguém disponível e entregue na totalidade.
Alguém que sabe o que é o amor no bem e no mal, no bom e no pior da vida, das vidas.
Compreendi tudo e todos os cenários que estavam na minha frente e ainda assim queria-os amar.
Descobri da forma mais cruel que todas essas conversas foram monólogos da minha voz para um buraco de onde apenas ouvia o seu eco.
Nunca foste tu que falaste, que fizeste coisa alguma.
Tudo foi entregue e dado ao vazio em que vive a tua alma.
Não sei o que o futuro te reserva mas a continuar como tens sido jamais te darás conta da oportunidade que não agarraste e, a ser diferente, a dares-te conta de alguma coisa, apenas terás tempo para te arrepender e lamentar o que não conseguiste ver no evidente.
Na tua frente não tinhas apenas um momento bom da vida mas algo único e irrepetível.
A minha alma resolveu todas as suas dúvidas. Falou-te de tudo. Mostrou-te a tua ausência da entrega, amizade e amor e acima de tudo de respeito.
Quem não respeita não pode esperar ser respeitado, e o resto da tua fugaz existência mostrar-te-a isso mesmo.
Tudo o que te dei - sim, tudo o que te dei não tem preço e jamais o conseguirás comprar em alguma parte do mundo: deste ou de outro.
A atrocidade que cometeste não tem medida porque nem ser amigo fiel conseguiste.
Não conseguiste ser verdadeiro e tudo o que enrolaste durante este tempo apenas serviu para te enrolar a ti e à tua alma num emaranhado do qual jamais te livrarás. És prisioneiro dessa forma de ser.
A minha alma e o meu coração apaixonaram-se por alguém que não és tu. Aparentaste ser mas com uma ou duas provas mostraste como falhavas nesse teu disfarce.
Entraste por engano na minha vida e eu vivi-o como se tratasse de uma verdade mas a mentira não dura sempre e a descoberta foi dolorosa.
Fez muito ruído no meu coração que de dia e de noite não sossegava.
Apenas agora, quando a conversa de almas aconteceu é que ele se acalmou.
De vez em quando ainda insinuas o acto mas como o teu papel é falso não representas bem.
Fiquei a conhecer-te melhor do que tu próprio pois escutei com serenidade cada acto da tua peça.
Olho e vejo que apenas representas e que pode ser que isso ainda te traga um ou outro momento razoável mas garanto-te que é fugaz e que se desfará num instante. Nunca te hás-de sentir pleno ou melhor tu não és capaz de sentir.
Não sei até onde querias levar esta farsa mas estou grata ao sofrimento que me mostrou que eu amava outra pessoa que não és tu.
Alavanquei-me na minha dor, no meu pesar mas acima de tudo na minha descoberta.
Esta não é a pessoa que eu quero para minha alma companheira pois o teu caminho não tem nada para ser percorrido.
Vives na mentira, no engano, na ilusão permanente. Se algum dia a claridade chegar ao teu coração apenas conseguirás morrer pois perdeste pelo caminho o que de mais valioso alguém pode desejar para os seus dias.
A minha alma calou-se por instantes e da tua nada saiu. Não podia. Não tem lá nada.
És uma alma vazia e apenas fazes eco. Tiveste bons momentos pois o que a minha alma falou para ti e te deu foram coisas magníficas e apenas, quando muito, conseguiste ouvir o eco que ressoavas.
Agora já nem isso te é permitido.
Tudo à tua volta está a desmoronar-se e é uma questão de tempo para cair e partir-se tudo.
Restarás apenas tu sózinho e vazio.
Não ouvi palavras de amor nem coisas doces. Não recebi mimos nem surpresas de tirar a respiração. Não podia.
Tu não tens nada para dar.
Criei uma pessoa e descobri que afinal era apenas criação minha. Não existe.
Revelaste um bocadinho desse vazio nas ultimas conversas horrendas e sem sentido.
Ocas e vazias de qualquer sentimento nobre.
Arrastas-te a cada dia mas pensas que estás a passear.
Vives num engano e enganaste dizendo que isso é viver quando isso nem sequer é sobreviver pois não tens a mínima noção de sentimento algum.
Não me tem custado mesmo nada viver estes dias após a conversa das nossas almas.
Não sinto falta de coisa alguma pois apercebi-me que afinal estes dias são iguais aos anteriores.
De ti não têm nada! Não acrescentaste nada à minha vida e todo este tempo vivi sozinha, por mim e comigo apenas. Tinha somente a mais a ideia de alguém que descobri que não existe e que por isso em nada modificou o meu dia de hoje, de ontem e o que há-de vir."
A vida não é para ilusões mas apenas e só para a verdade. Seja ela qual for.