quarta-feira, março 10, 2010

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.
(Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen)

3 comentários:

Anónimo disse...

Há horas tão luminosas, em que tudo parece encontrar o seu lugar, em que a voz das coisas que amamos se faz ouvir e, então, sentimos que a paz entrou na nossa vida...

António disse...

Como o rio que só encontra a paz do descanso quando chega ao mar... que lindo!

Mimi disse...

Bonito poema este!

Adoro Sofia de Mello Breyner...

A vida deixa sempre uma porta aberta, para que nela possas entrar e desbravar novos caminhos ;o)

Beijinhos Grandes e continua nesse bom caminho !