Sinto que hoje novamente embarco 
Para as grandes aventuras, 
Passam no ar palavras obscuras 
E o meu desejo canta --- por isso marco 
Nos meus sentidos a imagem desta hora. 
Sonoro e profundo 
Aquele mundo 
Que eu sonhara e perdera 
Espera 
O peso dos meus gestos. 
E dormem mil gestos nos meus dedos. 
Desligadas dos círculos funestos 
Das mentiras alheias, 
Finalmente solitárias, 
As minhas mãos estão cheias 
De expectativa e de segredos 
Como os negros arvoredos 
Que baloiçam na noite murmurando. 
Ao longe por mim oiço chamando 
A voz das coisas que eu sei amar. 
E de novo caminho para o mar. 
(Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen)

 
 
3 comentários:
Há horas tão luminosas, em que tudo parece encontrar o seu lugar, em que a voz das coisas que amamos se faz ouvir e, então, sentimos que a paz entrou na nossa vida...
Como o rio que só encontra a paz do descanso quando chega ao mar... que lindo!
Bonito poema este!
Adoro Sofia de Mello Breyner...
A vida deixa sempre uma porta aberta, para que nela possas entrar e desbravar novos caminhos ;o)
Beijinhos Grandes e continua nesse bom caminho !
Enviar um comentário