quarta-feira, julho 06, 2011

Momentos com a minha mãe


Tenho a melhor mãe do mundo. Cada dia que passa estou mais convencida disso.
Mas esta mãe é uma doideira pois não consegue parar. Junto dela não há lugar para a preguiça nem para inutilidade nem para a pasmaceira. Tudo tem um propósito e precisa de ser feito. Ela não fica à espera que os outros o façam por ela. Está sempre na frente da fileira das tarefas.
Eu, que ao que parece até sou um bocado parecida com ela nesse aspecto, cheguei lá a casa e senti necessidade de a fazer parar (uma vez mais).
Primeiro tive que ser paciente e escutar os milhares de coisas que tem sempre para me contar. E começa um assunto e vai para outro num ápice e depois volta para contar mais alguma coisa que lhe escapou pois a velocidade por vezes atraiçoa-nos. Tudo isto e sempre a fazer alguma coisa.
Então quando já estava um nadinha mais vazia das histórias que enchem o dia dela deixei-a sentar-se e disse: “- Deixa-me ler-te uma coisa que a tua filha escreveu.”
Abri o blog e li um post da minha querida irmã.
Os olhos dela encheram-se de alegria e orgulho e disse: 'Ela é espectacular. E escreve mesmo muito bem. Não sei porque se admira com o filho. Ele sai a ela!"
E eu continuei. "- Espera, agora vou ler-te uma coisa que um escritor escreveu."
E li a Carta de Saramago à sua Avó.
Perguntei-lhe: "- Notas alguma diferença?"
E ela responde: "- Nada, nadinha. Os dois textos estão lindíssimos!"
E acrescentou:
"-Sabes filha, mas eu não acho que o mundo seja bonito. Como pode ser bonito o mundo com tanta injustiça e com tanto sofrimento? Sabes-me dizer porque é que tudo nos custou tanto a conseguir? Tudo isto tem que ter um propósito e eu sinto, ao olhar para trás e para tantas dificuldades, que tenho a minha missão cumprida. Aliás não fui eu que a cumpri mas sim Deus. Eu apenas permiti ser um instrumento nas mãos d’Ele. Mas tem que haver algo mais do que aquilo que está aos nossos olhos.”
Num outro dia disse-me: “- Deus cuida de uns e de outros manda cuidar.”
Aqui fiquei eu a pensar nestas palavras. Nas palavras desta mulher lutadora que não permitiu que nenhuma dificuldade a fizesse desistir. Não encontro em mais nenhum ser humano esta capacidade. Quando na minha vida o caminho parecia levar-me para o abismo era sempre a força dela, colocada nas suas simples mas vividas palavras que me levantavam mais um pouco.

2 comentários:

António disse...

"Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior acto de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo correctamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo"
Saramago

Anónimo disse...

gostaria que o meu filho um dia olhasse para mim com os mesmos olhos com que eu olho a minha mãe...
este texto da Cláudia retrata a mais pura verdade: a força de uma mãe, mulher, menina, tudo o que foi, que é, o tanto que nos ensinou e ensina ainda...