quarta-feira, setembro 21, 2011

amores de verão


 

Eram meados de Maio, uma tarde quente de sábado numa praia de longa memória a fazer lembrar uma tarde de verão. Ele apareceu e ela achou que estariam bem os dois naquele verão que se aproximava. Há muito tempo que não estavam assim e ele desejava-o muito. Queria estar com ela mais do que tudo, queria estar naquela praia, ou noutra qualquer ao lado dela. “Gosto de ti desde aqui até à lua…”, como dizia a canção e ela sentia que sim. Então porque não...? Porque não naquele verão e no próximo e no outro e para sempre, até ao fim? “O mundo para por um segundo eterno no teu olhar…” E ela acreditou que esse segundo podia ser eterno, nesse verão e depois.
A primavera foi escoando, luminosa e densa em cada manhã. A seguir veio o verão, entrecortado por chuvas impróprias, deslocadas, por nuvens perdidas num calendário de estio, por ventos de norte a tocarem chuva pela tarde. Mas era verão, ainda assim, e aquele amor prometia aguentar as chuvas de outras estações e até os ventos adversos que com frequência abalavam aquela praia. Ele abraçava-a a caminho de casa, ao fim da tarde. E escrevia-lhe mensagens em papelinhos que deixava junto às chaves de casa. Num deles escreveu “Não te abandono mais...” em letra miudinha e insegura. Uma letra que ela conhecia muito bem de outros papelinhos que ele deixava muitas vezes. Havia dias em que ele não deixava recados, antes deixava uma rosa, falsamente esquecida junto ao pão do pequeno-almoço, sempre vermelha e viçosa.
E o tempo escorreu célere pelos dias e Agosto passou arrebatado pelos ponteiros do relógio que inexoráveis mostram que tudo é efémero, e veio Setembro e com ele o silêncio e o fim da praia.
“Não tenho tempo para ti.” Disse-lhe ele um dia. “E este é o caminho.”

You would never say a word
Kept me reaching in the dark
Always something to conceal”

(Dream Theater - Beneath The Surface)

3 comentários:

Mimi disse...

E um dia ela vai olhar para trás.
Recordar aquela praia, aquela Primavera, aquele Verão.
Recorda-lo já sem dor, com aquele distanciamento que só o passar do tempo permite.
E que vai perceber que afinal, sim, o caminho era esse...

Que seria inglório para ela percorrer esse caminho ao lado de alguém que se perdeu.

Porque sim, já não há tempo a perder.
Resta-lhe continuar a sua jornada como sempre o fez até agora.
Com a força, a graça, a luz mas principalmente a lucidez que a caracterizam !



Um beijo a ela... no coração!

Anónimo disse...

uau...

belo comentário, Mimi!
tão apuradamente certeiro...
lucidez, é preciso lucidez...um dia vou escrever algo sobre isso...

Claudia disse...

As estações do ano e as estações do coração não são sempre coincidentes mas antevejo um inverno rigorosíssimo para quem "não tem tempo".
Constato algo que me entristece profundamente: o querer e desejar assim tanto não traduz em nada a durabilidade. Parece mesmo que tem um prazo de validade curto. Ou intenso e curto ou mediano e longo. As duas coisas devem ter algum problema de compatibilidade.