quinta-feira, setembro 29, 2011

hoje é um dia maravilhoso!


Hoje é um dia maravilhoso...
Faz hoje anos que senti que teria uma companhia para a vida, uma irmã do coração para me dar a mão em cada pedaço do caminho. A minha vida sem ela não seria igual, seria incomparavelmente mais só, mais vazia e triste. São clichès, são palavras, mas são também sentimentos que não sei colocar no papel. São recortes da vida presos na minha memória, sempre com a Cláudia a meu lado... Nos medos e nas ambições, nos sonhos e no vazio, irmãs para sempre! Obrigada por existires!
UM DIA MUITO FELIZ! PARABÉNS!

JUST JUMP AND TOUCH THE SKY!

terça-feira, setembro 27, 2011

7000 (texto de um leitor do Acontece)

7000 !!!

7000 vezes que alguém aqui veio, anónimo, com um envergonhado "deixa-me ficar um bocado contigo". Não tens de saber quem sou nem gostar de mim. Ninguém tem de saber que aqui estou e que gosto do que escreves. Só por seres tu a escrever. Não precisas de saber que vivo a tua esperança, a tua alegria, o teu silêncio quando a vida corre bem. Por vezes sinto a tua tristeza  mas não posso dizer nada. Não existo, limito-me a viver a vida dos outros.
7000 vezes que alguém sonhou ao ler o que por aqui acontece e perguntou que sonhos terás quando escreves. Um blog é mesmo assim, desse lado está quem quiseres ser, do lado de cá está quem quiseres: todo o mundo ou ninguém.
Deixa-me ficar aqui contigo, sim?

---------- cortar por aqui --------

Foi coincidência, ontem à noite voltei ao Acontece e, surpresa, calhou-me o 7000.
Parabéns.

Não haveria melhor texto para publicar a propósito deste assunto...
Se o que escrevemos faz alguém sonhar, rir, chorar... sentir algo por um momento, então as palavras que escrevemos fazem sentido... Obrigada pela companhia!
 
Fica comigo,então!

sábado, setembro 24, 2011

Lucidez


Depois do Ensaio Sobre a Cegueira, Saramago escreveu Ensaio sobre a Lucidez.
Não li o segundo, fiquei-me pelo primeiro que me perturbou bastante pela sua lucidez (!).
Apesar de não ter lido o mestre, aventuro-me a pensar sobre o assunto, a lucidez na vida e nos tropeções do dia-a-dia.
Haverá lucidez no início do Outono enquanto ainda calço as sandálias de verão e as folhas ensanguentadas já cobrem o chão nas manhãs frescas?
Haverá lucidez numa escolha de um caminho mais limpo de nuvens, mais fácil de dobrar e guardar no baú dos caminhos seguros?
Será a lucidez irmã da bonomia de um bocejo ao acordar tranquila pela manhã, com um raio de sol a penetrar num quarto só meu?
(Lucidez nas palavras directas e simples na hora da despedida… Precisa-se.)
Costumo dizer que não faço o que quero, antes faço o que está certo. Será isso lucidez? O que diria o mestre se eu lhe dissesse um dia estas palavras? Diria ele que vivo uma vida em banho-maria e pouco fértil em aventura?

Lembro-me agora do poema de Ricardo Reis:

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nos queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-proprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Esta tranquilidade epicurista é, para mim, o expoente máximo da lucidez…

quarta-feira, setembro 21, 2011

amores de verão


 

Eram meados de Maio, uma tarde quente de sábado numa praia de longa memória a fazer lembrar uma tarde de verão. Ele apareceu e ela achou que estariam bem os dois naquele verão que se aproximava. Há muito tempo que não estavam assim e ele desejava-o muito. Queria estar com ela mais do que tudo, queria estar naquela praia, ou noutra qualquer ao lado dela. “Gosto de ti desde aqui até à lua…”, como dizia a canção e ela sentia que sim. Então porque não...? Porque não naquele verão e no próximo e no outro e para sempre, até ao fim? “O mundo para por um segundo eterno no teu olhar…” E ela acreditou que esse segundo podia ser eterno, nesse verão e depois.
A primavera foi escoando, luminosa e densa em cada manhã. A seguir veio o verão, entrecortado por chuvas impróprias, deslocadas, por nuvens perdidas num calendário de estio, por ventos de norte a tocarem chuva pela tarde. Mas era verão, ainda assim, e aquele amor prometia aguentar as chuvas de outras estações e até os ventos adversos que com frequência abalavam aquela praia. Ele abraçava-a a caminho de casa, ao fim da tarde. E escrevia-lhe mensagens em papelinhos que deixava junto às chaves de casa. Num deles escreveu “Não te abandono mais...” em letra miudinha e insegura. Uma letra que ela conhecia muito bem de outros papelinhos que ele deixava muitas vezes. Havia dias em que ele não deixava recados, antes deixava uma rosa, falsamente esquecida junto ao pão do pequeno-almoço, sempre vermelha e viçosa.
E o tempo escorreu célere pelos dias e Agosto passou arrebatado pelos ponteiros do relógio que inexoráveis mostram que tudo é efémero, e veio Setembro e com ele o silêncio e o fim da praia.
“Não tenho tempo para ti.” Disse-lhe ele um dia. “E este é o caminho.”

You would never say a word
Kept me reaching in the dark
Always something to conceal”

(Dream Theater - Beneath The Surface)

domingo, setembro 11, 2011

Eu sabia


Eu sabia, por mais incrível que me pudesse parecer na altura, que um dia iria ter saudades.
Saudades daquele lugar, daquele cheiro a éter pelos corredores, das batas brancas, dos olhares indiferentes, das conversas vãs pelos corredores e até do cheiro da comida insonsa.
Das horas de almoço, dos fins semanas ali passados, dos médicos, dos enfermeiros. De subir as escadas descontroladamente até ao sétimo piso, só porque não queria perder alguns minutos a espera do elevador.
De chegar sempre ofegante ao último degrau das escadas.
De optar sempre em ser assim. De só esforço físico me toldar a dor, o desespero e a angústia.
De ser como uma espécie de analgésico, de anestesiante.
De encontrar-me sempre pronta depois daquele exercício. Pronta para me enfrentar.
De me recompor, ajeitar o cabelo e entrar.
Passar as duas portas basculantes, pegar na bata, na máscara e vesti-las.
Percorrer o corredor. De já os saber de cor. De tudo estar mecanizado.
De trancar os sentimentos.
E entrar sempre com o meu melhor sorriso.
E tu, mesmo doente retribuíres. Ficares feliz por me ver. E eu também.
Nunca soube se sentias o quão feliz eu ficava por te encontrar. Creio que sim.
Para todos os efeitos tinha vindo de elevador. Era assim que gostavas que eu subisse. E eu dizia-te que sim, para te tranquilizar.
E também já almoçara antes de vir e se tinha os olhos inchados, naquele dia em particular, era apenas por ter passado muitas horas em frente ao computador a trabalhar.
Fazia-te crer que nunca chorava. Que não havia motivos para isso. Ias vencer a doença, isso tinha de ser sempre uma certeza. A tua e às vezes a minha também.
Ao longo desses quatro anos invertemos os nossos papeis.
Eu fazia o de mãe e tu o de filha. Filtrava os meu problemas. Dava-te colo, aconchego e alento. Alimentavas-te disso. E habituei-me a dar-te as mãos, abraçar-te, vezes sem conta.
Aprendi a mentir-te com uma convicção desconcertante. Desconhecia essa minha capacidade. Na altura perguntava-me se percebias.
Hoje sei que não.
O medo da doença turvava-te a visão.
Cabia-me sempre o papel de te informar do mais difícil. Havia médicos que me diziam que não tinham coragem. Ficava aliviada por ser assim. Só eu sabia adornar-te as piores notícias.
Primeiro as lágrimas, depois a aceitação e por fim um sorriso. E assim, foste sempre vencendo pequenas grandes batalhas... até ao fim.
E aí foi residindo a força dos nossos afectos, do nosso amor. Até hoje.
Aquele que eternamente nos uniu e nos solidificou...