segunda-feira, agosto 10, 2009

As férias de verão - 3




- É servida? - perguntou o nadador-salvador de debaixo do seu toldo, quando me viu a chegar perto da toalha para me deitar.
- Não, obrigada. Bom proveito.
-Tem a certeza? Olhe que são boas! - disse, apontando para o cacho de uvas que segurava nas mãos.
- Sim, sim, devem ser boas. Têm muito bom aspecto. Se bem que nem tudo o que tem bom aspecto é bom!
- Aí está uma frase interessante! Muito bem. Tem toda a razão. - disse, olhando para o livro que estava na toalha.
- Vejo que gosta dessas coisas, assim, espirituais, não é?
Levantei o livro e mostrei-lhe a capa. "Um novo mundo" era o título.
- Então em que consiste esse novo mundo? De que é que fala o livro?
Expliquei-lhe vagamente duas ou três ideias...
- Leu "A profecia Celestina"? -perguntou.
Mau... A conversa ía durar, pensei...
Falamos de auras, campos magnéticos, ioga, células, alimentação, harmonia...
- Já salvei mais de cinquenta vidas. A última foi uma miúda. Depois de a retirar da água tive de lhe fazer uma massagem cardíaca e respiratória até ela recuperar a consciência. Senti-a a começar a respirar sozinha e... foi muito bom. É muito bom sentir que salvei alguém... - disse com um sorriso.
Depois olhou para mim e perguntou:
- Já fez algum acto heróico?
A pergunta apanhou-me de surpresa. Parei uns segundos a pensar e ele olhou para mim à espera da resposta.
- Não. Nunca fiz nada heróico ou digno desse nome.
Olhou-me com ar incrédulo.
- A sério? Nada, nada?
- Nada.- disse eu. - Isso é mau, não é?
Ele franziu o nariz e disse:
- É. É um bocado mau...
E riu-se.
Fiquei a reflectir na pergunta e dei por mim a olhar para ele e a pensar como a minha vida tinha sido, afinal, tão inútil até aqui. Nunca salvei ninguém, nunca fiz nada heróico. Nunca arrisquei a minha vida por ninguém.
Perguntou-me se eu não ajudava os outros, se não era generosa... Disse-lhe que ajudava os outros como podia, no dia-a-dia, mas que nunca tinha corrido risco de vida por ninguém. Ele então percebeu que eu entendia um acto heróico como algo em que se arrisca a vida para salvar outra pessoa e pareceu-me feliz por saber que isso fazia parte da sua rotina e que alguém o valorizava.
De repente olhou para a areia e ficou perplexo. Viu uma concha e agarrou-a. Ofereceu-ma e disse:
- Esta praia não tem conchas. É estranho encontrar uma... Guarde-a, porque esta fugiu da sua rota normal e veio aqui parar por alguma razão!...

2 comentários:

Mimi disse...

Sou da opinião que todos somos heróis!
Todos temos, aos olhos de alguém, um valor imensurável …



P.S: Eu acho que o mocinho queria era conversa !! :o)))))) Gajos !!!! Pffffffffffffffff :o))))

Trickster Soul disse...

Herói, Herói, Herói! Ego, ego, ego!

Profecia Celestina... nunca testei essa técnica de engate! LOL Eu também acho que o mocinho queria conversa, ou então estás com um ar debilitado e de quem precisa comer... uvas. LOL

Matas-me! :D