segunda-feira, setembro 07, 2009

Como um livro

As palavras surgiam fluidas, como um rio transparente, como uma corrente sem pedras, sem lama pelo meio... As palavras eram soltas, saíam directas, saíam sem armas nem reservas, surgiam entre eles como pontes, como mãos dadas, espontâneas como um suspiro, soltas e livres e fortes ao mesmo tempo... As palavras a servirem de estrelas, a servirem de caminho, como um sopro no pó... As palavras que desvendam pensamentos, que entregam as sílabas ao palpitar do coração, que chegam ao afecto simples com um travo a melodia, que dizem tudo em silêncio, pelo silêncio, que falam como um livro aberto...
Eram as palavras a uni-los, de novo... Mais uma vez... Talvez...


"You'll be an open book
and you'll not be able to hide anything"



imagem retirada de: http://sgifa.blogspot.com/

2 comentários:

Beatriz disse...

Adorei!
Beijinhos grandes!:)

Trickster Soul disse...

Silêncio - Pedro Abrunhosa

Silêncio é a palavra que habita, que palpita
Toda a música que faço.
É a cidade onde aportam os navios
Cheios de sons, de distância, de cansaço.
É esta rua onde despida a valentia
A cobardia se embriaga pelo aço.
É o sórdido cinema onde penetro
E encoberto me devolvo ao teu regaço.
É a luz que incendeia as minhas veias,
Os fantasmas que se soltam no olhar,
Que te acompanham nos lugares onde passeias,
É o porto onde me perco a respirar.
Silêncio são os gritos de mil gruas,
E o som eterno das barcaças
Que chiando navegam pelas ruas,
E dos rostos que se escondem nas vidraças.

Quem me dera poder conhecer
Esse silêncio que trazes em ti,
Quem me dera poder encontrar
O silêncio que fazes por mim.

Pelo silêncio se mata,
Por silêncio se morre,
Tens o meu sangue nas veias,
Será que é por mim que ele corre?

Somos dois estranhos
Perdidos na paz,
Em busca de silêncio
Sozinhos demais,
Somos dois momentos, X 2
Dois ventos cansados,
Em busca da memória
De tempos passados.

Silêncio é o rio que esconde
O odor de um prédio enegrecido,
O asfalto que me assalta quando paro,
Assomado por um corpo já vencido.
Silêncio são as luzes que se apagam
Pela noite, na aurora já despida,
E os homens e mulheres que na esquina
Trocam prazeres, virtudes, talvez Sida.
Silêncio é o branco do papel
E o negro pálido da mão,
É a sombra que se esvai feita poema,
Num grafitti que é gazela ou leão.
Silêncio são as escadas do metro
Onde poetas se mascaram de videntes,
Silêncio é o crack que circula
Entre as ruas eleitas confidentes.

Quem me dera poder conhecer
Esse silêncio que trazes em ti,
Quem me dera poder encontrar
O silêncio que fazes por mim.
Pelo silêncio se mata,
Por silêncio se morre,
Tens o meu sangue nas veias,
Será que é por mim que ele corre?

Refrão

Silêncio é este espaço que há em mim,
Onde me escondo para chorar e ser chorado,
É o pincel que se desfaz na tua boca,
Em qualquer doca do teu seio decotado.

Refrão

Silêncio...