segunda-feira, agosto 31, 2009

O tempo não tem voz

imagem retirada de: http://viajante-do-mar.blogspot.com/

Parece que o tempo não tem voz quando se deixa falar o coração…
Já não me lembro… Não eras assim… Recordo-te de outra maneira… Estás diferente…
Parece que o tempo não tem importância quando o que transborda a medo das palavras são aqueles sentimentos amordaçados por encruzilhadas e labirintos que dispersaram o pulsar do afecto dentro de nós.
Por agora não. Nesta vida não. Na próxima, certamente na próxima tudo irá ser diferente…Não te vi bem, não te entendi bem, não percebi a mensagem que estava escrita na terra, no chão aos nossos pés. Não entendi as palavras que o vento murmurava, porque havia muito ruído. Lembras-te do ruído?...
Parece que o céu enviou sinais, mas nós estávamos distraídos pelo bulício das vozes dos outros, pela agitação das folhas nas árvores que, durante muito tempo, impediram a voz de dentro de se fazer ouvir, a voz dos pássaros enviados pelo destino, enviados para nos darem um sinal. E o sinal esteve sempre lá, os sinais foram enviados, mas o ruído, o ruído…
Sim, lembro-me do ruído. Lembro-me do som sem sentido, lembro-me do que não importa… Já não me lembro como eras… Mas estás diferente… E não me lembro disso ter alguma importância… A tua essência continua a mesma, aquela que eu reconhecerei na próxima vida, aquela que entenderei finalmente, aquela para quem sorrirei logo no primeiro encontro porque os sinais, porque a mensagem, porque tudo estará no seu lugar…
Parece que então, na próxima vida é que te vou reencontrar a valer, será esse o momento, será então que todo o universo irá conspirar para que seja concretizado o desígnio que sentimos no passado dentro de nós mas não entendemos então, que nos tocou levemente a existência mas na realidade era todo um furacão que passava para que só mais tarde, muito mais tarde sentíssemos os seus danos…
Tudo teve o seu tempo… Tudo passou já, já sabes disso. Nada de lágrimas, nada de apertos por dentro… Não é agora o momento… Passou o momento, passou a hora. Ficou tudo resolvido, não foi? Este não é o momento, também…
Parece que não é o momento, porque o momento é feito pelo que está dentro, pelo doce palpitar do ininteligível, do incompreensível, do absurdo sentir que nada se compreende mas que vale a pena, porque é assim, porque é assim…
Porque já não ouço o ruído, porque já leio a mensagem no pó da terra, porque já escuto a voz dos pássaros à sua passagem na minha janela… Porque eu, enfim, já te li sem te ver, porque já conheço a tua essência de olhos fechados, porque não dei voz ao tempo, não o ouvi dizer que passou o momento, porque lembrei que as cores com que pintámos o nosso sorriso podem ser as cores que quisermos, por tudo isso é que olho da minha varanda o entardecer deste dia e nada ouço, a não ser o som límpido do bater do meu coração em uníssono com o mundo à minha volta…


“há coisas que perdi pelo caminho e que já não me lembro
acho que me poderás ajudar a encontrar”

quarta-feira, agosto 26, 2009

Happy Birthday



Parabéns à Dina!!
Sei que é uma mulher muito ocupada (empresária como um dia eu serei!) e que se calhar nem vê esta mensagem mas que está nos nossos corações.
Que a vida apenas te saiba sorrir...
Beijinho grande.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Antes do pôr-do-sol


Ela chegou à praia nesse dia um pouco mais tarde, suspirando por dentro, cantarolando “Bubbly” por fora sem saber porque é que havia nela uma espécie de impaciência fervilhante, uma alegria comedida, controlada. Sentia uma felicidade pequena, mas era uma felicidade ocupante, que se instalara no seu íntimo com uma suavidade inesperada. Chegou à praia quase ao fim da tarde e instalou-se junto à água, colocando a toalha na areia molhada pelas recentes rebentações. Pareceu-lhe que a maré estava a baixar e aproveitou para sentir mais de perto o mar na sua constante dança de ir e voltar incessantemente.
Ele chegou à praia há muitas horas atrás e já estava com vontade de se levantar e ir embora há vários minutos. Mas foi ficando, ficando, até que escutou ao lado de si um grito de mulher. Levantou-se e correu a ajudar. O mar tinha chegado à toalha dela e tinha-a apanhado de surpresa.
Ela mal olhou para ele, ocupada a segurar o saco, a toalha, o livro que caiu de novo ao chão depois de ter escorregado do seu colo. Ele segurava uma das pontas da toalha e também se baixou para apanhar de novo o livro. E foi então que se olharam.
Ela reparou na sua barba por fazer, reparou nos caracóis louros escuros, na sua boca bem desenhada e suspeitou que por detrás dos óculos de sol estariam uns olhos castanhos a combinar com o tom moreno da sua pele.
Ele também reparou nos longos cabelos negros dela, na sua pele dourada, na boca perfeita e suspeitou que por detrás dos óculos escuros estariam uns olhos brilhantes e meigos como o seu sorriso.
Ela agradeceu a ajuda dele. Ele perguntou se podia fazer companhia, se não ia incomodar, se se podia sentar ao seu lado.
Ela disse que sim que podia juntar-se a ela e ficou a olhar as pegadas que ele deixava na areia molhada enquanto ia buscar a toalha e pensou que estava com vontade de atrasar a hora do pôr-do-sol por um dia, só naquela tarde, só por uma vez…


domingo, agosto 23, 2009

Desencontros

um pôr do sol como outro qualquer numa praia da minha adolescência

Não sei bem porque me lembrei disso…
Parece que tudo acontece por alguma razão, mas eu não sei a razão.
Tenho-a procurado nas pedras da rua e ao soltá-las quando caminho, a razão não me surge dali, nem do pó que se levanta e envolve os meus pés. Tenho-a procurado no encantatório som do mar quando a maré sobe e a ondulação rebenta frenética no areal, mas nada encontro por entre a branca espuma das ondas que depois me lava os pés.
Não sei bem porque lembrei o teu sorriso. Talvez agora sinta que eu devia ter feito algo diferente e não fiz. Talvez agora remexa o passado na amargura do desencontro e sinta que por baixo da pele éramos um só, mas à superfície descolamos as moléculas que nos uniam e seguimos rumos absurdamente diferentes, como se nada nos tivesse unido antes, como se não tivéssemos olhado por um instante na mesma direcção, afinal...
Adormeço todas as noites a relembrar no tecto do meu quarto os abraços que demos, as mãos que enlaçamos e as cores variáveis dos teus e dos meus sonhos. E adormeço sempre com o olhar perdido, porque eu não sei onde nos separámos ou onde nos reencontrámos. Sei que estivemos sempre assim, de alguma forma ligados, por um fio de pensamento em uníssono, por uma palavra dita ao mesmo tempo, por um suspirar sem nexo que soltávamos em situações vazias e sem luz nos nossos caminhos separados.
Sei que algo aconteceu para relembrar o teu sorriso, mas eu não sei a razão…

quinta-feira, agosto 20, 2009

the climb

Quando um filho nos diz que tem um sonho e que acredita nele, só podemos dizer-lhe:

Tens de ser forte e continuar a lutar, porque haverá sempre uma montanha e terás de a mover... É a escalada... e a vista é sempre bem melhor lá de cima!

Keep the faith, my dear son!

I'll be right behind you!...

devias estar aqui...


Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum...

Eugénio de Andrade

quinta-feira, agosto 13, 2009

As férias de verão - 4



"If a man does not make new acquaintances as he advances through life, he will soon find himself alone. A man should keep his friendships in constant repair."

Samuel Johnson (1709 - 1784)

A alegria do Ser


"Se não gastar todas as suas horas de vigília em insatisfação, preocupação, ansiedade, depressão, desespero ou a ser consumido por outros estados negativos; se for capaz de apreciar coisas simples como ouvir o som da chuva ou do vento; se conseguir apreciar a beleza das nuvens a atravessar o céu ou o facto de estar por vezes sozinho sem se sentir só nem precisar de um estímulo mental ou de entretenimento; se der por si a tratar um desconhecido com gentileza sentida sem desejar nada em troca... isso significa que se abriu um espaço, por mais pequeno que seja, naquela que de outra forma seria uma corrente de pensamento incessante na mente humana. Quando isto acontece, verifica-se uma sensação de bem-estar, de paz vívida, mesmo que subtil. A intensidade varia desde uma sensação quase imperceptível de contentamento até àquilo que os antigos sábios indianos chamavam ananda - a alegria do Ser."
Eckhart Tolle, in Um Novo Mundo




segunda-feira, agosto 10, 2009

As férias de verão - 3




- É servida? - perguntou o nadador-salvador de debaixo do seu toldo, quando me viu a chegar perto da toalha para me deitar.
- Não, obrigada. Bom proveito.
-Tem a certeza? Olhe que são boas! - disse, apontando para o cacho de uvas que segurava nas mãos.
- Sim, sim, devem ser boas. Têm muito bom aspecto. Se bem que nem tudo o que tem bom aspecto é bom!
- Aí está uma frase interessante! Muito bem. Tem toda a razão. - disse, olhando para o livro que estava na toalha.
- Vejo que gosta dessas coisas, assim, espirituais, não é?
Levantei o livro e mostrei-lhe a capa. "Um novo mundo" era o título.
- Então em que consiste esse novo mundo? De que é que fala o livro?
Expliquei-lhe vagamente duas ou três ideias...
- Leu "A profecia Celestina"? -perguntou.
Mau... A conversa ía durar, pensei...
Falamos de auras, campos magnéticos, ioga, células, alimentação, harmonia...
- Já salvei mais de cinquenta vidas. A última foi uma miúda. Depois de a retirar da água tive de lhe fazer uma massagem cardíaca e respiratória até ela recuperar a consciência. Senti-a a começar a respirar sozinha e... foi muito bom. É muito bom sentir que salvei alguém... - disse com um sorriso.
Depois olhou para mim e perguntou:
- Já fez algum acto heróico?
A pergunta apanhou-me de surpresa. Parei uns segundos a pensar e ele olhou para mim à espera da resposta.
- Não. Nunca fiz nada heróico ou digno desse nome.
Olhou-me com ar incrédulo.
- A sério? Nada, nada?
- Nada.- disse eu. - Isso é mau, não é?
Ele franziu o nariz e disse:
- É. É um bocado mau...
E riu-se.
Fiquei a reflectir na pergunta e dei por mim a olhar para ele e a pensar como a minha vida tinha sido, afinal, tão inútil até aqui. Nunca salvei ninguém, nunca fiz nada heróico. Nunca arrisquei a minha vida por ninguém.
Perguntou-me se eu não ajudava os outros, se não era generosa... Disse-lhe que ajudava os outros como podia, no dia-a-dia, mas que nunca tinha corrido risco de vida por ninguém. Ele então percebeu que eu entendia um acto heróico como algo em que se arrisca a vida para salvar outra pessoa e pareceu-me feliz por saber que isso fazia parte da sua rotina e que alguém o valorizava.
De repente olhou para a areia e ficou perplexo. Viu uma concha e agarrou-a. Ofereceu-ma e disse:
- Esta praia não tem conchas. É estranho encontrar uma... Guarde-a, porque esta fugiu da sua rota normal e veio aqui parar por alguma razão!...

domingo, agosto 09, 2009

Alma companheira



A definição não é minha mas assim que a li senti um enorme alivio... afinal esta inquietude por não encontrar a alma gémea pode finalmente sossegar.
Sem dúvida que faz muito mais sentido estar a atenta à minha "alma companheira",aquela que não é de todo igual a mim mas com a qual tenho uma verdadeira afinidade.
Mais sossegada fiquei ainda por ter ficado a saber que ela pode mesmo não estar encarnada (não é encarnada de vermelha :) mas sim, pode ainda não estar no mesmo plano em que me encontro).

"Uma vida não pode ser apressada... Temos de aceitar aquilo que nos é dado em qualquer momento, sem pedir mais. Mas a vida é interminável... Apenas nos limitamos a passar por fases diferentes. Não tem fim. Os seres humanos têm muitas dimensões. Mas o tempo não é como o vemos, trata-se em vez disso de um conjunto de lições que são aprendidas." (Dr. Brian Weiss em muitas vidas, muitos mestres).

E depois de tudo isto não posso deixar de sorrir... os temas, as perguntas e as respostas chegam até mim sem que tenha que fazer muito por isso. São coincidências!

sábado, agosto 08, 2009

a carência do ego


"O ego deseja sempre obter alguma coisa das outras pessoas ou das situações. Há sempre um interesse dissimulado, uma sensação de que "ainda não chega", de insuficiência e de carência que tem de ser preenchida. O ego usa as pessoas e as situações para alcançar aquilo que deseja e, mesmo quando o consegue, nunca permanece satisfeito durante muito tempo. Muitos dos seus objectivos são frustrados e, para a maior parte das pessoas, o abismo entre "o que eu quero" e "o que acontece" é uma fonte constante de preocupação e angústia. A famosa e já clássica canção pop "(I can't get no) Satisfaction" é a canção do ego. A emoção dominante em todas as acções do ego é o medo. O medo de não sermos ninguém, o medo da não-existência, o medo da morte. Todas as acções do ego têm como derradeiro objectivo eliminar este medo, mas o máximo que ele consegue fazer é dissimulá-lo temporariamente através de um relacionamento íntimo, de uma nova aquisição ou ganhando isto ou aquilo. A ilusão nunca nos satisfará. Apenas a verdade de quem somos, quando sentida, nos pode libertar.
(...)
Aquilo que é vulgarmente designado por "apaixonar-se" representa, na maior parte dos casos, uma intensificação da carência e da necessidade egóica. Tornamo-nos "viciados" na outra pessoa ou, melhor dizendo, na imagem que fazemos dessa pessoa. Não tem nada a ver com o verdadeiro amor, que não contém qualquer espécie de carência. A língua espanhola é a mais honesta em relação às noções convencionais de amor: te quiero tem dois significados: "quero-te" e "amo-te". A outra expressão empregue para dizer "amo-te", te amo, que não contém esta ambiguidade, raramente é usada - talvez porque o verdadeiro amor é igualmente raro."

Eckhart Tolle, in Um Novo Mundo

terça-feira, agosto 04, 2009

Equilíbrio e harmonia - precisam-se.

imagem retirada de lulubeka.blogspot.com/2008/08/paz-interior.html

"(...)Presentemente o equilíbrio e a harmonia são negligenciados, e no entanto representam as bases da sabedoria. Tudo é feito em excesso. As pessoas têm peso a mais porque comem demasiado. Os atletas negligenciam aspectos de si mesmos e dos outros porque estão sempre a testar os seus limites. As pessoas parecem extraordinariamente mesquinhas. Bebem demasiado, fumam demasiado, divertem-se demasiado (ou muito pouco), falam demasiado e sem nexo, preocupam-se demasiado. Existem demasiados pensamentos do tipo preto ou branco. Tudo ou nada. Não é isto que encontramos na natureza. Na natureza existe o equilíbrio. Os animais destroem em pequenas quantidades. Os sistemas ecológicos não são eliminados em massa. As plantas são consumidas para voltarem a crescer. As fontes de sustento são esgotadas para voltarem a ser restabelecidas. A flor é apreciada, o fruto comido, a raíz preservada.
A humanidade não aprendeu o equilíbrio e muito menos o praticou. É guiada pela ganância e pela ambição, orientada pelo medo. Deste modo acabará por caminhar para a destruição. Mas a natureza há-de sobreviver; pelo menos as plantas.
A felicidade tem de facto as suas raízes na simplicidade. A tendência para excessos em pensamentos e acções reduz a felicidade. Os excessos obscurecem os valores básicos. As pessoas religiosas dizem-nos que a felicidade vem do facto de termos o coração cheio de amor, de fé e de esperança, de praticarmos a caridade e sermos bondosos para com os outros. E têm razão. A partir destas atitudes é natural que sejam subsequentes o equilíbrio e a harmonia. (...)"

Dr. Brian Weiss, in Muitas Vidas Muitos Mestres (faltava a referência bibliográfica!)

lua cheia

imagem retirada de bazarneguinhasuburbana.wordpress.com/.../1700/

Acontece que a lua brilhava mais do que habitualmente, brilhava como se estivesse prestes a explodir na sua magnificência, no seu esplendor luminoso e intenso. Acontece que a lua entrara na fase da Lua Cheia e quando ela está assim, algo se passa na vida das pessoas que as aproxima ou afasta, que as comove ou afecta, que lhes remexe com os sentidos, que lhes perturba a sensibilidade, que lhes turva a razão e agudiza a emoção.
Acontece que a Lua estava enorme naquela noite no céu e eu a olhava, fascinada, como sempre fui pela sua imponência, pela sua magia…
E pensei.
Pensei se seria possível usar a magia dessa lua para juntar fragmentos perdidos, destroçados, fragmentos de corações estilhaçados como vidros quebrados, pelo que se perdeu no tempo, pelo que nunca se disse, pelo que se disse e não foi entendido, pelos sinais na ausência que de nada servem, apenas remetem para os fragmentos, para o que ficou incompleto, por tentar, por começar, por terminar.
Pensei na magia dessa lua alta e sublime e pensei se seria capaz de, através dela, concertar algum tipo de esperança perdida, de colar os bocados de alma e coração que ficaram por aí, pelo mundo, pela terra cá em baixo…