terça-feira, julho 28, 2009

O tempo em nós

O que vale o tempo que passa, devagar ou apressado, tanto faz, não importa, desde que (não)passe?
Visito a minha madrinha de baptismo, que já não via há mais de cinco anos e apercebo-me do passar do tempo no seu rosto. Oitenta e muitos anos e o ameaçar de que anda doente (sempre doente há tanto tempo) e contudo resistente. Sobreviveu ao marido e a um neto ("Não vou chegar ao teu casamento..." depois "Não vou chegar a ver os teus filhos..."). Viu tudo, afinal. Até o que não desejava e a surpreendeu...
O cabelo ficou mais raro, mais cinzento, mais fraco... A prótese sobra-lhe na boca, porque emagreceu e os maxilares alteraram-se... O tempo inexorável sempre a passar por ela, por mim, por nós...
"Queres um chá?" Sempre oferecia chá quando a visitava.
Nada mudou.
Tudo foi mudando...
Só a paisagem sobre o rio Douro se manteve, aquela que ela mal vê agora, a paisagem que já nem pode apreciar devido às cataratas que, implacáveis, lhe toldam o olhar...
"Nothing is as far away as one minute ago". Jim Bishop

1 comentário:

Claudia disse...

É num misto de sensações que leio este post...
Não tenho saudades do passado, apenas tenho muitas muitas saudades do futuro que sei que será melhor muito melhor que o presente... no entanto ao rever cenas como a que descreves fico baralhada com esta coisa do tempo passar por nós e por caminharmos para um final...