segunda-feira, abril 27, 2009

o mais puro amor



Ela sentiu a presença dele, parada, suspensa, olhando-a enquanto se via a si, parada, suspensa, olhando-o também, vendo de fora os dois, perscrutando o olhar dos dois, vendo-os e concluindo que se olhavam sem nada mais no olhar que não fosse paz e um carinho infinito, avassalador e puro.
Olharam-se em silêncio. Deram as mãos e as mãos abriram-se uma para a outra com naturalidade, sem tremor, sem nervosismo, sem hesitar. Abriram-se assim, porque era natural para eles que as mãos se unissem daquela forma. E ela viu-se a si e a ele com as mãos unidas num toque singelo e pensou para si o que ele também pensou para ele, que aquele sentimento nunca mudaria e seria para sempre deles.
Abraçaram-se em seguida e o abraço deles ficou suspenso nas suas respirações em uníssono. Ela olhou-os de fora, novamente, e pensou (sem saber que ele pensava o mesmo) que aquele abraço sempre estivera ali, que aquele abraço nunca tinha mudado de lugar e que os dois tinham sempre estado, afinal, abraçados daquela maneira pura e delicada, abraçados com os braços do coração que abraçam com muita mais força e ao mesmo tempo de forma mais solta do que os outros braços, os braços feitos de músculo e de osso e de carne.
Olharam-se mais uma vez e sorriram. Ela viu o sorriso deles (e ele também, porque apressou-se a segui-la para o lado de fora para os observar) e conseguiu ler nos seus lábios o que nenhum dos dois dissera, mas sentiram intensamente: para eles, aquele era o mais puro amor… O amor que passa a barreira do corpo e da pele e chega ao âmago das células do sentimento.
Sentaram-se no banco junto ao lago e olharam os dois na mesma direcção: procuraram respostas no passado para que aquilo lhes tivesse acontecido. Ela falou, finalmente, e disse: Foi o sol que causou isto. A culpa é desse astro tentador que enfeitiça os corações como um poeta, para iluminar os dias e aquecer os corpos. Mas ele não concordou e com um suspiro rematou: Foi a lua. A lua é que enfeitiça os corações com a poesia das noites estreladas… Ninguém lhe resiste. Nem nós!
E então entenderam-se… Olhando-se nos olhos, concluíram: nem sol, nem lua. Nada pode explicar com objectividade a origem ou razão deste amor. Se tal fosse possível, já não seria assim, o mais puro amor. Seria outra coisa: seria paixão, seria encantamento, seria gostar, seria amar até, mas não o mais puro amor… E disseram tudo isto sem falar...
E eles entenderam-se, de facto. De tal forma que uma lágrima cristalina escorreu pelo rosto dela e ele viu que os seus olhos também se turvaram e pressentiu que não conseguiria travar aquela lágrima que teimava em juntar-se à dela e seguir o seu caminho para fora do coração, porque aquele sentimento transbordava e era urgente deixá-lo fluir!...

9 comentários:

Anónimo disse...

furtivamente entrei,
sem pedir licença encostei-me a ti
fui abraçado pelo teu calor que
não conseguiste guardar para ti.

Olhei-te, falei-te, olhei-te novamente
em silêncio e quedei-me por instantes
entendi como é fácil nos prenderes, nos
manteres cativos a resposta chegava até mim em formade suspiro calmo e repousante...
calmo e talvez distante?

Falei-te ao pormenor, falei-te da razão sobre o sentimento,
falei-te de tudo e de nós
parei pensei se seria mesmo importante o tudo se não bastaria o nós
fui ao detalhe atómico e voltei incapaz de ser de outra forma que não esta
e tu apenas com um suspiro do respirar
disses-te tanto mais do que eu!

Marianinha disse...

Acabo de ler isto com lágrimas a caírem-me dos olhos. Está maravilhoso, talvez porque me tenha visto um bocadinho no texto, e porque estou a ouvir uma música que acompanha lindamente, e porque está sem duvida maravilhoso! :)

Um beijinho enorme, *

Marianinha disse...

esta semana (quinta, sexta ou sabado) podiamos ir jantar, pra ver se traziamos um bocadinho mais de Sol! :) *

Mimi disse...

Numa só palavra diria que este post está: PERFEITO! LINDO!
Bem isso é descrever em duas, mas essa parte não importa nada ;o)

Continua ;o) Sim, porque eu quero um dia destes dizer que tenho uma amiga, que é uma escritora famosa!!

Beijinhos

Claudia disse...

É um amor desses que trago dentro da minha busca! Sem dúvida que só esse um dia me saciará.

Anónimo disse...

Aluado como é, ele não percebeu de imediato o que estava a acontecer. Porque razão todo o mundo físico que o rodeava se desvanecia tal como fumo lançado ao vento! Foi necessário mais um batimento do coração para que ele percebesse porque é que nuvens eram agora o seu chão, porque razão teve de mudar a direcção daquela força que o puxava para não mergulhar no plasma do sol, e ainda mal recomposto do susto, porque teve de fazer nova mudança de direcção para evitar uma cabeçada com a lua… Suspenso no vácuo, rodeado por mares de estrelas, ele procurou a mão de Deus. Pensou que só ela teria a força para o retirar do mundo daquela forma. O tempo parou, assim como todos os mares de vida em seu redor, e no mesmo instante todos os sons que emanavam desses mares. Nesse silêncio absoluto, ele ouve um meigo chamamento de vida, sussurra numa leve batida, que aos poucos foi crescendo, que aos poucos ia preenchendo aquele infinito de silêncio, que aos poucos se tornou tão sonoro, tão intenso, tão forte que rebentou numa imensurável onda de choque que fez ressuscitar todos aqueles mares adormecidos de vida! Era o seu coração, ainda batia e estava a falar para ele... Se o coração ainda batia, então não poderia ter sido Deus que o tinha chamado! Foi então que soube:

“Ela” estava a chamar por ele!

E sem que nada mais o conseguisse deter, antes de deixar que um novo batimento tivesse início, ele tinha partido e tinha chegado, e nesse mesmo instante

“Ela sentiu a presença dele...”.

Parada, suspensa, e sem mexer os lábios ela sorriu. Sim, sorriu aquele sorriso que tantas vezes fez com que o sol, fosse, sedento ter com ele.. sedento de quê? Nem ele nem o Sol chegaram a descobrir, só sabiam que era a ele que o Sol procurava sempre que ela sorria, e era o Sol que ele procurava sempre que sentia que ela precisava de sentir o calor do sorriso dele.

Ela sorria por ele ter chegado, por saber que ele chegaria, por ter visto a viagem atabalhoada que ele percorreu para chegar até ela. O Sol e a Lua sempre foram os seus mensageiros, e ele quase que se esbarra contra ambos. Elegância nasceu com ela, ele continua a levar os astros à frente sempre que tenta aprender a fazer-lhe uma vénia sem tropeçar! Mas é assim a existência desse amor que o puxou, suave como a delicadeza do movimento de uma vénia, e forte o suficiente para tirar qualquer entidade astral da sua orbita.

Tinha deixado para trás: constelações, universos, o sol e a lua para estar com ela. Mas nada disso importava pois eles existiam onde quer que ela estivesse, ela era o centro, e tudo o resto orbitava à sua volta, inclusive o mundo secreto dele, o mundo onde as mãos dela sempre estiveram unidas às dele, com naturalidade, sem tremor, sem nervosismo, sem hesitar, o mundo que ele encheu de oceanos por saber o quanto eles a acalmavam, repleto de desertos, para que ela nunca esquecesse que ele atravessaria qualquer um deles para estar junto a ela, repleto de rosas, para deleite dela mas (só este) mais para deleite dele… para se deliciar ao Vê-la sorrir ao olhar para elas, e é claro que também lá foi colocado o sol dela e a lua dele, assim como os lagos, e um único banco, aquele onde ele sempre conversou com ela enquanto ela estava a caminho desse mundo, aquele onde eles agora sem falar.. comunicam.

Um batimento de coração, uma procura de Deus, uma travessia pelas galáxias, uma quase queimadura do sol, e uma quase cabeçada com a lua, foi o simples caminho que ele percorreu para chegar até ela… até ao mundo que ele criou para ela, agora colorido com todas as formas de vida, porque ela chegou!

Foi ela que o levou a percorrer o próprio mundo dele, o mundo que na verdade só existe porque ela existe. E como foi essa viagem? Foi exactamente como as palavras dela a descreveram…

Anónimo disse...

fenomenal o post e este ultimo comentário.

leio-os e re-leio e cada vez que o faço revejo-me.

"Fantástico" este dom da escrita!

Mimi disse...

Parabéns ao anónimo das 12.54!

Foi um prazer ler este post e este fantástico comentário!

Anónimo disse...

Obrigado Mimi, é sempre um prazer ler também os teus posts!